2. Pedreiro Insano (3)

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Estava escuro. Não havia luz, som, cheiro, gosto e nem textura. Um mar invisível onde o corpo jazia privado de sensações, exceto por uma. Um lugar onde a menina flutuava na imensidão, colossal, mas finita. Ou, talvez, não fosse finita. Talvez, sequer ocupasse algum lugar no espaço como ela conhecia, mas ainda assim ela sentia que era imenso. E por mais que estivesse lá, a garota não sabia dizer quanto tempo havia se passado. Segundos, minutos, horas, dias, meses, anos. Talvez, sequer houvesse o tempo. Mas havia algo. Mesmo sem poder usar nenhum dos seus cinco sentidos, ela sentia algo.

O sol penetrou suas pálpebras, e um pássaro começou a cantar quando pousou no topo de um poste de luz. Cd rangeu os dentes.

"Que saco, isso é muito difícil!"

"Você sentiu alguma coisa?", perguntou Aurora ao seu lado, sentada com as pernas cruzadas.

"Eu acho que sim... mas agora não consigo mais!"

"É difícil mesmo", Aurora pôs a mão em seu ombro, "mas tudo é meio que assim. É necessário tempo e muito esforço!", disse toda determinada.

"Eu não quero que o tempo passe! Eu quero ficar boa instantaneamente!"

"Eh... eu acho que isso não dá", respondeu sem graça.

"E o pedreiro insano? Vocês já venceram?"

Ela deu de ombros. "Não faço ideia. O Cris ainda tá lutando com ele lá do outro lado."

"E você não vai ajudar não?"

"Eu até queria, mas a parede tá no caminho. Então... eu não tenho muito o que fazer, sabe?"

Cd olhou para a parede, que era bastante alta. Nio estava encostado nela, mexendo no celular e conversando com o rostinho que ali havia.

"Uh...", Cd continuou, "você não pensou em... pular por cima?"

"Eu não acho que consiga pular não. Eu não sou tão ágil quanto você, já que eu costumo ficar de longe nas batalhas por ser alinhada com Hades."

"E pelos lados?"

"Muita mão."

Nio, ouvindo as duas conversando, suspirou, se desencostou da parede e caminhou até elas, guardando o celular em seu bolso.

"Eu abro um caminho pra você, Aurora."

"Sério?"

"E você, Cd", disse Nio apontando para ela. "Para de papo furado e volta a se concentrar!"

"Como você é chato!"

Aurora se levantou rapidamente e foi na direção dele. "Você acha que consegue abrir caminho mesmo?"

"Não, eu acho que não."

Ela o encarou com cara de tacho.

"Mas dá pra tentar. Pelo menos uma parte dela, já que eu também andei treinando, então eu devo estar pelo menos um pouco mais forte", disse simbolizando o 'pouco' com os dedos.

Os dois se aproximaram da parede, e Nio estendeu a mão.

"Aurora, apaga a sua estrela."

Ela concordou com a cabeça e tocou na parede. O rosto que ali estava sumiu, morfando-se na pedra como se nunca houvesse existido, enquanto sorria e dizia "tchau tchau" para eles.

"Okay, vamos ver." Ele estendeu a mão aberta, deixando-a centímetros da parede. "Além!"

De sua mão, emitiu um redemoinho azul de energia, que girava de forma circular.

The Vagabonds: Clima CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora