cap único

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Kenma sentia as areias no próprio pé, a brisa do vento bagunçava seus cabelos e fazia um bom tempo que não sentia a sensação do pé na areia. Quando vinha à praia, o Kozume nunca quis tirar seu tênis para sentir a areia pelo incômodo mas, agora, em silêncio e sozinho, ele quis sentir a areia nos pés depois de muito tempo sem aparecer ali. Respirou fundo algumas vezes e nem era apenas por ansiedade, mas para sentir como era respirar, de fato. Esse tempo todo esqueceu como respirar ar puro e organizar os pensamentos, não estava ao todo calmo mas só de estar em um dos seus lugares favoritos fazia lembrá-lo que ia ficar tudo bem.

Mas outra coisa também o preocupava: esse era o trajeto de ida e volta para o trabalho de Shoyo. Kenma estava de férias e não queria sair daquele banco daquele lugar tão cedo, onde finalmente encontrara paz mas não saberia como encarar Shoyo se o visse, suas fraquezas pareciam tão vulneráveis em céu aberto que seu maior medo era, além de brigar com o homem que amava, que ele percebesse a bagunça que sua vida tinha sido nos últimos meses.

Balançava seus pés, não se importando que, quanto mais quieto e mais tempo ficava lá, mais frio ficava. O loiro mexeu em seu celular, escutou músicas, tirou fotos, conversou com alguns de seus amigos depois de semanas sumido mas não viu Shoyo em momento algum, talvez ele tivesse pegado outro caminho, mas uma parte de si ainda queria vê-lo.

As horas foi passando e Kenma fez de tudo que podia sem sair de perto daquele lugar, porque não conseguia abandonar o sentimento de conforto e esperança. Saiu para comer, comprar algumas coisas e rever algumas residências e lojas que sempre via quando passava por ali para então, quando já era noite, ele escondeu até metade de seu rosto em seu moletom pelo frio e passou a assistir qualquer anime naquele banco, sem se importar o quão solitário ele parecia. O céu escuro dizia que ele deveria ir embora, mas Kenma demorou muito para sair de casa e se sentir bem como se sentia, era estranho ainda porque não tinha se recuperado por inteiro, mas era bem melhor que estar deprimido em casa.

— Kenma?

Quando o loiro mal esperava, lá estava ele: Shoyo. Ele não virou seu olhar porque seu coração e seu tempo pareceu congelar naquele momento em que seu nome foi chamado por aquela voz que tanto reconhecia. Não era animado e nem feliz, mas sim surpresa e então Kenma já estava preparado para fingir que não havia escutado, quando escutou a mesma voz, distante, dessa vez o chamando mais alto e eufórico:

— Ken!!!

O apelido que tanto escutara daquela boca saiu da garganta de Shoyo e só assim o loiro se virou para olhá-lo. Seu coração não estava mais congelado, mas sim acelerado. Shoyo tinha seu cabelo bagunçado como sempre, a expressão cansada pelo trabalho e um rosto de quem estava muito feliz e aliviado. Kenma segurou um sorriso e observou Shoyo vir em sua direção, o abraçando tão apertado que sequer se lembrava da última vez que recebeu um abraço caloroso assim.

De primeira não soube o que fazer, mas depois retribuiu o abraço e ficaram naquela posição estranha, mas confortável. Kenma já não sentia mais frio, seu coração estava acelerado e segurava umas lágrimas porque não poderia chorar de saudade.

— Shoyo... — O chamou também, ambos cortando o abraço para se olharem. — Me desculpa...

Os olhos de Shoyo brilharam, mas Kenma não reconheceu o que havia de errado, porque sua voz falhou antes que continuasse a dizer alguma coisa. Shoyo, por outro lado, observava cada traço decorado no rosto de Kenma, estava tão visível que ele não estava bem que o deixava nervoso, ansioso e preocupado. O que houve nesse tempo?, era a única pergunta que surgiu em sua cabeça.

— Você está bem? — A voz preocupada do ruivo foi o suficiente para as lágrimas do loiro se liberarem como uma criança, todo o choro que estava engolindo por muito tempo saiu com tanta facilidade que nem se surpreendia, porque esse era o efeito de Hinata: deixá-lo confortável demais, mais que estava acostumado ou preparado.

— Me desculpa... — Kenma não sabia elaborar mais palavras, queria pedir desculpas por tudo, mesmo sabendo que a culpa não era sua, ele sentia que Hinata merecia um pedido de desculpas. Tudo estava preso em sua garganta, mas dizer era uma abertura para confirmar que a culpa era dele.

Shoyo o observava quieto, mas então sentou ao lado dele e acariciou o rosto do amado, sorrindo pequeno e lhe fazendo carinho até ele se acalmar e parar de chorar, o que não demorou porque o loiro não queria chorar na frente do ruivo.

— Pelo que? Que bom que você está aqui! — Ele disse em um sorriso quase imperceptível, mesmo que estivesse visivelmente preocupado.

— Eu sumi por todo esse tempo...

Mas eu prometi esperar por você. — Ele segurou as mãos de Kenma. — Você não me abandonou, eu estava ciente por todo esse tempo e com saudades, não há o que desculpar você.

Os lábios de Kenma se formaram em uma linha porque ainda se sentia culpado. Sua mente rondava tantas perguntas, tantos medos.

Kenma, eu amo você. — Shoyo disse tão naturalmente como dizia antes, sua língua solta sempre foi assim: fácil de escapar essas coisas que mexia até demais com o Kozume. — Há razão melhor para te esperar?

Kenma olhou para ele, mas logo desviou o olhar.

— Shoyo... já faz um tempo, eu nem sou mais o mesmo... eu nem... sou mais quem você conheceu. — Ele dizia tão baixo que era difícil escutar se Hinata não tivesse bons ouvidos e estivesse próximo dele.

Suas mãos voltaram a ser acariciadas pelas mãos quentes de Shoyo que, surpreendentemente, sorria tranquilo. Kenma se perguntava se terminariam de vez ali, mas não queria. Queria continuar o mesmo Kenma de antes, queria estar bem, recuperado totalmente e se sentir um pouco forte, mas era tudo tão recente que não sabia fazer isso sozinho e tão rápido.

— Ken, você não foi o mesmo a vida toda. No colegial você mudou umas três vezes, depois então, eu até perdi as contas! — Ele riu baixo. — Você nunca é o mesmo que eu conheci, porque sempre há uma mudança em você, a diferença é que antes eu acompanhava de perto... — Essa última parte ele falou baixo, meio triste. — Eu não estive perto de você por um tempo, mas isso não muda nada para mim.

— E se você não me reconhecer mais?

— Eu te conheço novamente, não há problema. — Fez um carinho na raiz de cabelo de Kenma, vendo ele fechar os olhos e relaxar de imediato. — Está vendo? Você ainda gosta de carinho... — O falso loiro sentiu seu rosto esquentar. — Eu amo você de muitas formas, Ken, em várias versões de você... se eu amasse só uma versão de você, eu não esperaria por você porque, desde aquele dia em que conversamos, eu já sabia que você não seria o mesmo e eu decidi amar você depois que toda essa bagunça passasse.

Kozume não dizia nada e Hinata entendia perfeitamente, não esperava uma resposta dele. Beijou sua testa sutilmente e o abraçou de lado, observando o céu escuro.

— Você não precisa se sentir totalmente seguro sobre o que eu digo agora... mas eu quero mostrar para você todas as minhas versões de amor por você, pouco a pouco, até você mudar mais um pouco e eu te amar mesmo assim.

O falso loiro sorria pequeno e escondido em seu moletom, observando as estrelas, ignorando o frio porque o ruivo o aquecia tão bem e tão facilmente que, a paz que sentiu esse dia parecia idiota perto da paz que Hinata o trazia.

Queria dizer que o amava de volta, mas não conseguia no momento, algo ainda o travava, mas Hinata estava tão tranquilo que estava evidente em sua expressão que ele confiava naquela resposta, Hinata acreditava que Kenma o amasse ainda e isso relaxou mais um pouco o Kenma, que estava se agarrando naquele momento, não querendo que acabasse nunca.

— Está tarde. — Shoyo disse, sem desgarrar do abraço. — Você quer jantar comigo?

Kozume sorriu sutilmente com os lábios.

— Pode ser.

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⏰ Última atualização: Jun 30 ⏰

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