Capítulo um - A Cidadezinha

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23 de maio de 2024, estrada sem nome, 23:50

Que estranho... — Isadora murmurou para si mesma, estranhando o GPS ter mandado ela para o meio do nada.
Ela dirigia seu carro cinza por uma estrada de terra que passava por um extenso campo de milho. O GPS começou a falhar porque o sinal estava caindo, as luzes do carro estavam enfraquecendo, as nuvens cobriram a lua e sua bússola (que ela deixava no painel do carro caso o sinal caísse) girava loucamente. — Tem algo muito errado aqui... — Ela decidiu fingir que não percebeu, para que as coisas não piorassem, obviamente falando mentalmente sua decisão para que o universo não a ouvisse e descobrisse seu plano.
Ela continuou dirigindo até sair do milharal e chegar a uma porteira de madeira em frente a uma floresta cercada por uma cerca baixa de arame farpado. Ela parou o carro e pegou a lanterna, para não descarregar a bateria de seu celular. Quando ela se aproximou da porteira para abri-la, havia uma placa indicando que era proibido dirigir ali. Inteligentemente ela obedeceu, pegou suas coisas e colocou tudo em três mochilas que tinha consigo, colocando uma nas costas e as outras duas penduradas uma em cada braço após estacionar o carro na lateral da cerca, para não
ficar no meio do caminho. Eram 00h32, ela passou pela porteira, tendo um pouco de dificuldade para fechá-lo tanto porque era duro de fechar, quanto porque uma das mochilas que ela carregava por uma alça ficava caindo em seu braço e atrapalhando enquanto ela manuseava a tranca da porteira. Tudo isso enquanto segurava a lanterna na boca, sem conseguir iluminar o lugar certo, o que dificultava ainda mais as coisas.
Aaarghh, por que você está sendo tão difícil?! Que que eu fiz de errado pra você??? — ela reclamou enquanto tentava fechar a porteira. Alguns minutos se passaram. Depois de jogar a mochila no chão com impaciência, ela finalmente conseguiu fechar a porteira e acabou machucando a mão no processo. — Haha! Viu? Consegui!!! Fala sério, pra que fazer uma portaria tão difícil de fechar??? parece que não quer que entrem aqui.... Opa... — Ela percebeu que talvez sua última frase fizesse um pouco de sentido e seus olhos se arregalaram. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao se abaixar para pegar a mochila que havia jogado no chão, mas como sempre, decidiu ignorar e fingir que nada aconteceu.
Desculpe, querida — Ela falou para a própria mochila enquanto retirava a sujeira batendo nela com a mão.
Havia uma estrada estreia e quase inexistente que passava pela floresta. Ela não teve outra opção senão seguir esse caminho. Com a lanterna e o cu na mão, ela seguiu pela estrada, sempre olhando em volta para se certificar de que estava tudo bem, tentando manter uma expressão de indiferença para que o universo não percebesse seu medo e decidisse assustá-la ainda mais. Às vezes ela odiava seu trabalho porque tinha que estar em uma floresta no meio do nada quando já passava da meia-noite e ela estava sozinha. Quando seus colegas de trabalho chegariam? Socorro. Apenas, scorro. Não estou brincando, SOCORRO!
Legal, muito legal isso. 'Tô me divertindo tanto!!! Puta merda, essa floresta não tem fim????
Um barulho pôde ser ouvido ao longe à sua esquerda, ela rapidamente apontou sua lanterna para a fonte do barulho, desejando não ter feito isso quando viu um vulto alto de quase dois metros com algo parecido com chifres passar por entre as árvores e ela viu dois pequenos pontos vermelhos no topo do vulto. Ela forçou uma expressão confusa, retomando seu caminho, fingindo que nada aconteceu, mas estava quase tremendo e se amaldiçoou mentalmente por isso. Ela se amaldiçoou novamente por ter mochilas pesadas, o que dificultaria sua fuga, obviamente ela não deixaria as mochilas para trás pois era muito apegada aos seus pertences.
Depois de meia hora de calafrios, barulhos e mais alguns vultos parecidos com o anterior, ela terminou de atravessar a floresta, chegando a uma estação de trem. Ela procurou até encontrar a informação de que para chegar ao seu destino teria que comprar uma passagem e ir de trem. Ela teve que vasculhar suas três mochilas porque não sabia onde havia deixado o dinheiro e não conseguiu encontrá-lo. Depois de ficar um tempo na fila e morrer de vergonha e ódio de si mesma por causa disso, ela comprou a passagem e foi para o trem.
O trem estava iluminado por lampiões e parecia uma espécie de trem fantasma, não apenas porque parecia estar caindo aos pedaços. Quase não havia ninguém no trem, então ela poderia escolher seu assento como quisesse. Ela sentou-se perto da janela e acabou tirando uma soneca de 20 minutos até o trem parar para ela descer.
Por um momento ela pensou que seria melhor ter vindo a pé, já que era tão perto, mas então se lembrou do que aconteceu na floresta e concordou que era uma ótima decisão pagar pela passagem.
Ela desceu do trem, numa pequena cidade, quase deserta, um vilarejo. Já era mais de uma hora da manhã e ela estava quase desmaiando de sono então procurou e não demorou muito para encontrar a pousada que seus superiores haviam reservado para ela. O lugar era muito vintage e meio fofo. Ela deu seu nome no balcão e foi sozinha para seu respectivo quarto, tomando o caminho errado algumas vezes, pois devido ao sono, seu cérebro não processava adequadamente as informações fornecidas pela recepcionista, que era uma jovem bem rechunchuda e com um chapéu que lembrava o formato de um cogumelo. Chegando em seu quarto ela trancou a porta e verificou três vezes se realmente estava trancada. Ela largou as mochilas no chão e caiu em uma das duas camas da suíte, que tinha papel de parede rosa com uma faixa de moranguinhos. Ela adormeceu ali mesmo, com a luz acesa, esparramada como uma estrela do mar.

07:00, 24 de maio de 2024

Ela acordou num pulo, assustada com o despertador do celular, que por acaso ela havia esquecido de carregar e agora estava com 58% de bateria. De qualquer forma, havia apenas uma tomada no quarto, onde tinha um ventilador plugado. Ela checou seu aplicativo de mensagens, mas não havia nenhuma, ela percebeu que ainda não tinha sinal.
Droga! Agora me mande mensagem avisando alguma coisa que eu vou ter que usar minha bola de cristal! — Ela debochou de sua própria situação. Ela destrinchou as mochilas, jogando tudo em cima da cama onde havia dormido. Ela pegou algumas roupas e uma toalha e foi ao banheiro. Chegando lá, ela deu graças à Deus porque o banheiro estava limpo (ela não confiava em lugares públicos). Ela tomou banho e pegou a carteira e o celular antes de sair da pousada.
Saindo da pousada, ela foi até a cafeteira que estava ali. Ao entrar no local, que tinha a mesma decoração e organização da pousada, as pessoas lá dentro (que não eram muitas) começaram a olhá-la com estranheza (embora ela já tivesse a sensação de que não era bem-vinda ali, desde que nãoconseguia fechar a porteira). Ela se sentou ao lado do balcão e a balconista lhe entregou um cardápio, olhando para ela com um olhar de desgosto como os demais clientes.
O que a estrangeira está fazendo na nossa região? — a balconista perguntou a ela. A balconista se parecia com a recepcionista da pousada, inclusive usando um chapéu parecido. a diferença era que a balconista parecia mais velha e mais rancorosa.
Trabalho. — Isadora respondeu gentilmente, com um sorriso gentil, embora tivesse sido tratada com certo desdém.
Hm... — a balconista resmungou desconfiada.
Isadora fez seu pedido e esperou pacientemente enquanto olhava para o celular na esperança de conseguir sinal de rede.
Depois de alguns minutos, a balconista trouxe as panquecas para Isadora, que fez questão de pagar antes de comer ou ficaria agoniada. Ela comeu com calma e voltou para a pousada.
Quando ela chegou ao seu quarto na pousada, encontrou a porta destrancada. Ela havia esquecido de trancar novamente? Ela ignorou e entrou, prensando o dedo na porta ao fechá-la e sem querer soltou um "Ai, porra!" um pouco alto demais.
Além de desorganizada é burra. — Uma voz familiar falou atrás dela, ela não havia notado sua presença quando entrou. "Não é possível que com tanta gente eles tenham enviado isso" ela pensou consigo mesma, virando-se lentamente segurando o dedo machucado.
Cala a boca. - ela disse irritada
Olha essa bagunça — Ele apontou para a cama dela, com todas as coisas jogadas em cima — Você não tem jeito mesmo! vinte e sete anos nas costas e você ainda age assim! — ele disse balançando a cabeça em negação, com uma falsa expressão de desapontamento, provocando-a como de costume.

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Talvez a versão em português esteja um pouco mais completa, por eu ter mudado algumas coisas durante a tradução...
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⏰ Última atualização: Jul 02 ⏰

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