APENAS UM PASSO

DEZ

Wilson caminhou lentamente pelo hospital, tentando mancar o menos possível e parecer normal. Seu corpo estava exausto e doía ao se mover. No entanto, seu coração e sua mente doiam ainda mais.

Chegou à área de oncologia e dirigiu-se ao quarto do primeiro paciente do dia.

-Olá Beth. - cumprimentou ele gentilmente, deslizando a porta para entrar e fechando-a atrás de si - Como você está se sentindo?

A mulher nem tentou fingir um sorriso. Wilson não levou isso em consideração. Ele também não queria sorrir.

-O mesmo que nos últimos dois meses.

Ele assentiu, sem saber mais o que dizer. Essa era uma das piores coisas de seu trabalho, muitas vezes ele não conseguia fazer nada para ajudar seus pacientes.

Wilson verificou seus sinais vitais antes de falar novamente.

-Você tem feito terapia? ele perguntou, sentando-se na cadeira ao lado dela.

-Não.- ela disse secamente.

-Beth... - ele olhou para ela com reprovação.

A mulher se virou na cama. Estava frio no quarto, mas não era esse o motivo.

-Para que?!

-É para te ajudar, Beth. - disse ele com voz suave - Você pode contar seus problemas, desabafos. Eles vão te entender melhor do que eu.

-Gosto de conversar com você.-disse ela cruzando os braços defensivamente.

Wilson sorriu levemente.

-Eu sei,De qualquer forma, você pode fazer o que quiser... Só acho que seria bom para você.

Desta vez Beth revirou os olhos e respondeu de forma mais agressiva à insistência dele.

-Não vejo como ver pessoas que estão em uma situação melhor do que eu esfregando isso na minha cara, ou ver pessoas que estão em situação pior do que eu me mostrando o que vou sofrer, possa me ajudar. Eu não entendo, ok? Não sei por que você insiste tanto para que eu vá àquelas reuniões idiotas.

Wilson olhou para ela por um breve momento.

-Me desculpe - ela suspirou, colocando as mãos na cabeça cheia de cachos - só estou cansada.

-Tudo bem.- respondeu ele, levantando-se.

Beth acenou com a cabeça e Wilson apertou levemente seu ombro em encorajamento e conforto antes de sair.

Fora da sala, ele parou e respirou fundo.Uns lidam com isso melhor do que outros, e Beth certamente não lidou muito bem com isso. Talvez porque, tendo marido e dois filhos mais novos, ela tivesse mais motivos para querer ficar. Talvez porque ela ainda se sentisse forte o suficiente para viver.

-Wilson? Wilson!

A garota de dezessete anos bateu impacientemente no ombro do médico.

O citado reagiu, parando de olhar para o nada e voltando sua atenção para a garota de cabelos incrivelmente longos e lisos.

-Desculpe, Annie.

Ela cruzou os braços na cama e olhou para ele com reprovação.

-Você não estava me ouvindo.

Wilson deu um pequeno sorriso culpado.

-Não.

-O que diabos há de errado com você hoje? - Perguntou ela, dando um tapa na cabeça dele - Foco aqui embaixo, cara.

Annie Heidel era assim. Ousada, enérgica, determinada. Wilson a admirava. Ela era forte, e nem a doença conseguira tirar isso dela. Wilson tinha certeza de que, em outro tempo e em outra idade, ele teria se apaixonado perdidamente por ela.