Pai de Primeira Viagem - Único

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Phillip concluiu que era um pai de primeira viagem. O que não seria uma conclusão estranha, considerando que sua esposa estava grávida. Mas se torna uma conclusão estranha quando acompanhada do fato de ele já ter filhos. Gêmeos. Prestes a completar nove anos.

Isso fazia dele um pai de primeira viagem com dois filhos crescidos. E apesar de Eloise lembrá-lo de que ela também era uma mãe de primeira viagem com dois filhos crescidos, as duas situações não poderiam ser mais diferentes.

Porque Eloise havia chegado à vida de Oliver e Amanda há apenas seis meses. E Phillip havia pegado ambos nos braços momentos após nascerem. Então como poderia ser?

Seu primeiro sentimento sobre isso havia sido no momento em que descobriu que Eloise estava grávida. Definitivamente nunca iria se esquecer daquele dia.

Não era raro ou incomum deixarem cartas um para o outro. Na verdade, era quase rotineiro, parte de sua história e de sua forma de demonstrarem amor um pelo outro. Gostava de esconder as de Eloise no meio de seus pertences diários, e ela escondia as dele entre vasos e mudas da estufa.

Ele acordou uma manhã e não a encontrou na cama. Estranhou, porque ele era quem costumava madrugar. Logo se preocupou, porque ela andava com o estômago embrulhado nos últimos dias, e imaginou que ela poderia estar indisposta. Mas não a encontrou em lugar nenhum do quarto, e quando desceu, não cruzou com ela em lugar algum.

Foi para a estufa, como de praxe, e na hora percebeu que algo estava diferente. Alguns vasos estavam fora de lugar. Havia dois vasos de orquídeas, posicionados com dois pequenos vasos de gerânios, e ao centro, um vaso com uma pequena muda que começava a nascer.

E atravessado, um envelope.

A caligrafia inconfundível no envelope trazia o Meu amado Sir Phillip, e ele sorriu como um bobo. Rasgou o envelope depressa, puxando o conteúdo.

Meu amado Phillip,

Você sabe que raramente as palavras me faltam. Sempre sei o que dizer ou como dizer. Mas nesse momento, meu coração parece gritar tão alto que as palavras mal acham o caminho de serem formadas.

Da mesma forma que a primavera vem trazendo as flores e a alegria após o rigor do inverno, uma nova vida vem colorir e perfumar a nossa tão bela história, se preparando para desabrochar junto as flores.

Eu estou grávida. Oliver e Amanda serão irmãos.

Te amamos, papai.

De Eloise Crane e seu bebê.

Ele não se lembrava de muita coisa, apenas de pensar que então era assim. Então era assim que a felicidade se manifestava. Se lembrava do dia em que Marina anunciou que estava grávida, não muito depois de se casarem. Não havia alegria nos olhos dela (como sempre), e apesar de sentir algo próximo de animação, não se lembrava de sentir o que sentia naquele momento.

As mãos trêmulas ao segurar a carta, as pequenas lágrimas no canto dos olhos, o sorriso que parecia querer rasgar o rosto. Ouviu os passos sorrateiros atrás de si e se virou, envolvendo Eloise de maneira certeira em seu abraço.

– Eu amo vocês. Meu Deus, como eu amo vocês. – disse de uma vez, ouvindo a risada melodiosa dela.

– Imaginei que você gostaria de receber a notícia dessa forma. – ela disse sob o seu ombro, e ele se afastou, segurando o rosto dela com delicadeza.

– Eu aprecio a dedicação, Eloise, mas eu não poderia me importar menos com a forma. A única coisa que eu penso, nesse momento, é que aqui... – ele tocou o ventre liso, sorrindo – Aqui está crescendo o fruto mais bonito que eu poderia criar, que é o fruto do nosso amor.

Pai de Primeira Viagem - PhiloiseOnde histórias criam vida. Descubra agora