Jhonatan e eu morávamos juntos já fazia um ano e meio, quando chegou o momento tão inusitado para nós, eu tinha descoberto minha gravidez. Isso gerou em mim um desespero absurdo, não sabia o que meus pais iriam pensar de mim, pensava na faculdade, na minha carreira, em tudo que eu estaria jogando fora por conta da vida que surgia em meu ventre.
Eu disse mais cedo que por certo período, eu quis abortar aquele bebê que me atormentava. Essa decisão impactou todos em minha volta, eu e Jhonatan discutíamos o tempo todo por conta dessa minha decisão; meus pais, como conservadores, faziam de tudo para que eu mudasse de ideia, o que como visto, fez realmente que eu mudasse.
Eu fiquei sozinha por muito tempo durante a gestação como já foi dito, isso também não mudou após o nascimento de Jude, eu carecia da atenção afetiva de Jhonatan, principalmente com a chegada da minha depressão pós-parto.
Mesmo assim, tenho que admitir o quanto foi lindo ver Jude crescer, depois de aprender a falar e a andar antes dos dois anos de idade. Com cerca de quatro anos, ela demonstrou interesse pelo videogame que ficava na TV da sala, cujo eu me divertia nas horas vagas; não parou por aí e logo também se interessou por xadrez, me surpreendi o quanto ela aprendeu rápido a mexer nas duas coisas. Nessa altura, percebi que minha filha talvez teria uma inteligência um pouco maior do que se pensava; aprendeu a ler com ainda cinco anos, sempre entregou boas notas além dos elogios das professoras pelo seu comportamento e educação. Eu ensinava que sempre é necessário dizer cinco termos mágicos para demonstrar ter uma boa educação: bom dia, com licença, por favor, até mais e obrigado. Ela não sabia falar obrigado, então para substituir começou a dizer "amém".
Foi nessa época, quando Jude tinha entre seus 5 e 6 anos, que minha amiga Gita me ligou. Já fazia alguns anos que havia ido morar com Rafael em Londrina, onde se casaram. Eu não quis saber da história até porque me afastei muito dela, porém, pensei se ela não tinha ficado espantada ou tampouco desconfiada com as mentiras de seu esposo, não me importei, olhava apenas para a minha vida naquela altura do campeonato.
- Olá Fe, tudo bom contigo? - dizia ela por telefone.
- Gi, a quanto tempo!
- Sim, tempo até demais para pessoas que pertencem a mesma família.
- Como assim? - fingi não saber.
- Eu me casei com Rafael, Jhonatan não te contou nada?
- Ele tem estado tão ocupado, deve ter esquecido.
Na verdade, tentei demonstrar pouco interesse, pois já sabia que aquilo poderia resultar em horas de falatório. Era a manhã de uma quinta-feira, eu precisava levar Jude para a escola e ir para o escritório do qual me aguardava com uma pilha de processos sobre minha mesa.
- Podemos conversar outra hora? - perguntei. - Não quero pegar muito trânsito.
- Nossa querida, você não acredita, eu nem sei mais o que é um congestionamento, em Londrina as coisas são tão calmas. - Mesmo comigo desconversando, ela tornava a falar, simplesmente era incapaz de parar.
Enquanto nada impedia que Gita mudasse de assunto a cada milésimo de segundo, eu ia ajeitando as coisas no carro antes de sair com Jude. Colocava a cadeira apropriada para crianças no banco de trás enquanto segurava o telefone, o mantendo pressionado entre meu ouvido e ombro, além de minha pasta e algumas caixas com materiais jurídicos que eu precisava levar para o escritório. O pescoço doía um pouco por conta da cabeça inclinada, eu já nem prestava tanta atenção nas coisas que minha antiga amiga ansiava por expressar.
- Enfim, eu te liguei mesmo só para falar uma coisa. - disse ela após uns vinte minutos.
- Sério? - perguntei eu após voltar a segurar o celular com a mão e ajeitar a postura. - E o que seria isso?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pais e Filhos
RomanceOs problemas sempre estiveram presentes na conturbada vida de Fernanda. Entretanto, um acontecimento específico afetou sua memória e sanidade mental, tendo de que ao lado de uma profissional, contar a história de sua trajetória ao lado de sua jovem...