Fim do Mundo

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Leiam ouvindo Fim do mundo - Gustavo Mioto

Cercado e apanhando por todos os lados, Ramiro tinha certeza que não tinha mais saída. A dor lhe atingia em diversas partes do corpo ao mesmo tempo, seus braços amarrados não lhe permitiam sequer uma tentativa de defesa. Aquele podia não ser o fim do mundo, mas era o fim do mundo para ele. Tinha certeza que não sobreviveria. E ele só esperava que Kelvin se lembrasse dele.

Mas não bastava que ele apenas se lembrasse. Ramiro queria que Kelvin tivesse boas memórias. O beijo deles, os momentos que passaram juntos, agarradinhos, as poucas vezes em que se amaram intensamente dentro do quarto do mais novo. Tiveram pouco tempo, mas era assim que queria ser lembrado.

Porque, naquele instante, Ramiro sentia que seu tempo estava acabando e via seus melhores momentos passando em sua mente. E em todos, havia uma semelhança: a presença de Kelvin Santana.

Sentia, além da dor física, uma dor no peito em pensar quão pouco pode viver aquele amor por ter se limitado durante tanto tempo.

"Perdoa eu, Kevin", pensava.

Mas aí a violência parou, interrompendo seus pensamentos. A dor física permanecia, mas sem sentir mais pancadas lhe atingindo. O ouvido zunindo pela dor forte que sentia na cabeça. Sentiu-se sendo carregado e colocado de qualquer jeito dentro do carro.

Doía como o inferno.

Pensava em Kelvin e lutava para não perder a consciência. Ele era a força que mantinha Neves acordado.

O carro parou e ele sentiu ser jogado na estrada. Largado ali para morrer. Sozinho.

Não sabia quanto tempo havia passado. Kelvin estaria ainda lhe esperando na delegacia? Ou estaria no bar, pensando que Ramiro tinha desistido e sido fraco de novo?

"Eu num fui fraco pra descumprir o que prometi não, Kevin. Mas eu fui fraco pra enfrentar o patrão"

Os pensamentos já costumavam ser embaralhados na cabeça dele, mas em meio a dor parecia pior.

Ouviu um barulho e percebeu que era o celular em seu bolso. Com esforço, conseguiu pegá-lo.

- Kevin - conseguiu falar o único nome que vinha em sua mente. Ouvia gritos do outro lado, reconhecia a voz de seu amado, mas o zumbido em seu ouvido não lhe deixava entender. Continuou tentando falar, sem saber direito o que estava dizendo. Até que tudo se apagou.

"Kevin, lembra d'eu, num esquece d'eu não".

Ramiro sentia sua cabeça latejando. Os olhos se mantinham fechados. Ouvia um barulho, mas não sabia identificar. Parecia aparelho de hospital, mas ele só se lembrava de estar largado na estrada. "Será que eu morri?"

Manteve-se assim por um tempo, os olhos fechados, rezando para que a dor diminuísse. "Como será que o Kevin tá?". A resposta desse pensamento viria rápido. Em instantes, ouviu um soluço e sentiu uma mão quente segurando a sua.

- Ramiro?

A voz de Kelvin aqueceu seu coração. Se seu Pequetito estava ali, então de alguma forma as coisas ficariam bem.

- Ramiro? - ele chamou de novo, a voz trêmula.

O peão tentou abrir os olhos, queria ver seu Kevin, mas não conseguiu. Então, juntou forças pra falar.

- Kevin? Cê tá aí, Kevin?

O som do choro ficou um pouco mais forte por alguns instantes.

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