Jorun estava nua, sentada numa pedra, no meio de um grande lago de águas barrentas. Bem no centro do céu, um sol imenso estava parado, aquecendo tudo a ponto de fervura. A sensação não era tão ruim, era boa demais para ser verdade. Sabia que estava dormindo e que deveria acordar a qualquer momento, mas quando?
Eis que uma enorme serpente emergiu do lago. Seus grandes olhos amarelos pareciam duas rodas de carroça, com apenas uma raia de madeira. A criatura estava a espera de algo, mas Jorun não saberia dizer de quê. Lentamente, ela se aproximou. A ferreira procurou seu martelo, depois o escudo, depois seu machado, embora não estivessem disponíveis.
A qualquer momento, parecia que a serpente perguntaria alguma coisa. Como não conseguiu suas armas para se defender, nem a cobra dizia coisa nenhuma, Jorun é que perguntou a ela o seguinte.
"Você veio aqui para me acordar?"
Então a serpente assentiu com a grande cabeça. Em vez de continuar a conversa, ela simplesmente se enrolou nas pernas de Jorun e começou a espremê-la. A ferreira, ainda que não pudesse gritar, sentiu uma dor insuportável.
Sua força não era o bastante para se libertar, embora a cobra tenha sentido algum incômodo com sua grande resistência. Finalmente, a criatura mergulhou no lago barrento. Jorun sentiu-se arrastar. Mesmo tendo os olhos abertos, não era possível enxergar nada além de um marrom profundo.
Quando raízes e seixos começaram a bater em seu rosto, a ferreira despertou.
"Jorun, Jorun" — chamava uma voz familiar.
"Halthora? Obrigada por me acordar. Eu estava tendo um pesadelo. Onde estamos?"
"Chegamos em Örebro. A tripulação já desceu."
"Até que enfim! Essa jornada de barco foi a pior fase da viagem. Você está bem?"
"Sim, estou. O que aconteceu?"
"Você desmaiou. Trouxe você até esse barco."
"Eu sei disso, Jorun. Quero saber os detalhes."
"Depois que prendemos o Valdemar na ravina, você desmaiou. Carreguei você pela floresta, mas um grande incêndio começou a se espalhar. Chegamos até a margem do Svartån, onde esses guardas nos embarcaram. Precisei entrar na água, por isso você ficou sem o tapa-olho."
"Um incêndio...?" — disse Halthora pensativa, a colocar a mão na órbita ferida — "Alguém deve ter feito isso, para espantar os tróis. Quem eram esses guardas?"
"Homens do Holger, não reparou? Eles não falaram muito comigo. Pareciam bravos com a gente..."
"Bravos? Por quê?"
"Eu não sei. Acharam que o Gunnar e o príncipe estavam mortos, por isso fugiram com esse barco."
De repente, as duas ouviram uma gritaria masculina. Ainda embrulhadas nas cobertas de lã, elas se levantaram e olharam pela amurada. Havia um pequeno cais de pescadores, onde muitos guardas estavam reunidos. No meio deles, em cima de um barril, estava Gunnar com sua cimitarra em riste.
"Gunnar! Gunnar! Gunnar!" — gritavam os homens.
"E é assim, meus amigos" — dizia ele — "que se mata um trol! Corte a cabeça ou fure o pescoço, é só escolher."
"O pescoço é muito curto e fora do alcance, se o trol não estiver abaixado" — explicou Halthora para quem quisesse ouvir — "Sugiro um furo preciso no coração, mas a melhor forma de enfrentar um trol é com fogo."
Os bravos guerreiros olharam calados para as duas.
"Então é verdade!" — disse Gunnar com certo entusiasmo — "Conseguiram salvar duas das irmãs Skogen. Essas mulheres lutaram com muita habilidade e determinação! Uma pena que ficaram tão cansadas e feridas nas batalhas."
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Möjrakitan - A Saga das Três Irmãs
FantasíaNo coração da Suécia, envolta pela imensidão dos bosques nórdicos, três irmãs órfãs cresceram sob os olhares atentos do povo de Örebro, que as acolheu. Halthora, Ingrid e Jorun foram encontradas à beira do bosque, criadas por diferentes famílias daq...