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A porta se abrindo fez os olhos saírem do ponteiro do relógio, ponteiro aquele que ficou encarando desde que Enid subiu para o terraço. Aos meus olhos as horas foram demoradas, mas a realidade é que a conversa entre a esposa e a terapeuta tinha sido rápida.

Esperou ver Enid atrás da mulher, mas entendeu quando a porta fechou que estava na minha vez. Aquele era o momento da minha sessão.

Baranski se sentou em uma das banquetas quando direcionei a mesma para sua pessoa, minha ansiedade estava nítida aos seus olhos.

— Ela falou com você?

— Sim, ela conversou comigo — Suas mãos se uniram e ela buscou as palavras — Nossa conversa foi curta, mas creio que foi necessária para ela.

— Ela te falou sobre a Alivia?.

— Wednesday é antiético da minha parte te falar sobre o que conversamos — Não era uma bronca, apenas um comentário — Mas saiba que ela me disse o que era necessário dizer, e eu disse a ela o que necessitava escutar.

Concordei, seus olhos, como em todas nossas sessões, me avaliaram. E sempre ficaria incomodada com aquilo.

— É bom saber que estão se dando bem, por um acaso vocês...

— Reatamos nosso relacionamento — Ela murmurou em concordância — Algo bom em meio a tantas coisas ruins que estão acontecendo.

— Como assim?

— Estamos envolvidas em um caso criminal, o vizinho do outro lado da rua é um pedófilo — Ela gostava de uma fofoca, aquilo era evidente — Enid está na linha de fogo novamente porque ajudou a enteada dele. Na verdade, eu e ela nos unimos em prol dessa garota, agora temos a guarda provisória dela.

— Me admira a rapidez que conseguiram algo assim.

— Minha esposa possui contatos importantes, estamos usando a lei a nosso favor.

— É uma tarefa arriscada, ainda mais para o psicológico dela que pelo que pude perceber, não está dos melhores.

— Sabemos disso, mas ao menos esse fardo que ela está carregando está sendo dividido comigo.

— Como foi a reação dela, quando se reencontraram?

— Péssima, não falou comigo e quando falou, disse o que incomodava e para ser sincera, doeu escutar — Baranski varria o ambiente fazendo uma nota mental — Mas eu sinto que mereci ouvir, aos poucos fui cobiçando ela novamente e tentando mostrar que estava arrependida. E funcionou, já que reatamos.

— Como vai funcionar a questão familiar para vocês?

— Enid não quer voltar para casa, quer seguir em frente sem a presença da família.

— Talvez seja bom ela colocar algumas questões em ordem, Wednesday — Não tinha entendido, mas ela tratou de explicar — Nada melhor para espantar o fantasma e a raiva, do que a liberdade da angústia em nosso interior.

— Está propondo que ela reveja a família? — Estava desacreditada daquele conselho.

— Estou propondo a liberdade da consciência dela — Ela apontou para a porta fechada — Aquela mulher que deixei no terraço, guarda tanta mágoa que sufoca ela, Wednesday.

— Voltar para nossa antiga cidade só vai fazer ela ficar pior.

— Tente ver isso como uma solução para os problemas — Meus lábios se reprimiram — Não estou dizendo para ela rever a família, não, estou dizendo apenas que revisite a antiga vida e de adeus a ela da forma que ela merece.

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