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   Aos poucos, os membros do culto adentraram vagarosamente em meio a pilha de destroços que costumavam ser o grande salão de cultos. Com olhos melancólicos, eles olhavam ao redor enquanto procuravam por mais sobreviventes do ataque.

   O forte grito de Angela ainda ecoava em suas mentes, quando mais olhavam para o estrago causado pelo anjo. O pastor não sobrevivera, e eles perderam muitos irmãos naquele dia. Com sorte, haviam pelo menos quinze pessoas que conseguiram fugir inteiras e mais cinco que saíram completamente debilitadas. Eles teriam de selecionar um novo líder logo e migrar para outra de suas bases. Seria impossível continuar ali, principalmente se permanecessem com o perigo de um novo ataque de demônios e deuses da morte. Talvez haveriam mais ataques depois desse? Eles não sabiam.

   Uma poça de sangue chamou a atenção de uma das seguidoras do anjo. A mesma se aproximou com curiosidade, não se lembrando de ver ninguém sangrar perto do púlpito. Até alguns flashes do dia anterior passarem por sua mente.

   'O grande anjo foi perfurado por aquele deus da morte não foi?'  Ela pensou ao lembrar da entidade de cabelos vermelhos vibrantes, atingindo as asas e mãos de Angela com uma arma divina. 'Nosso pobre anjo... Foi atacada tão covardemente...Seu sofrimento não será em vão nossa divindade, com este sangue sagrado, nosso culto será capaz de grandes feitos, e poderemos ajudá-lo com a construção e purificação do novo mundo...'

   Com isso, a mulher abaixou seu capuz até os ombros, revelando longos cabelos negros, que estavam pertos de embranquecer pela senescência. As rugas abaixo de seus olhos castanhos mostravam a face de uma mulher madura. Perto dos sessenta anos, com um olhar sério porém submisso e devoto. Rasgando parte do tecido de seu manto, a mesma limpou um pouco do sangue fresco que molhava as paredes rochosas, guardando-o em um de seus bolsos. Aquilo poderia ser utilizado em algum momento.

   — Senhora Evangeline? A senhora não vem? Estamos partindo para uma de nossas bases! — Chamou um rapaz, olhando para a mais velha com preocupação. Talvez pensasse que a mesma estivesse muito abatida pelo ocorrido para estar pensando direito.

   Com um pequeno aceno positivo com a cabeça, Evangeline passou a acompanhar os demais fiéis.

   — Conseguimos recuperar o livro do juízo final, nem tudo está perdido! — Ele concluiu sorridente, mostrando a relíquia para sua companheira.

***

   Pela próxima semana, os fiéis religiosos, focaram em se instalar em sua nova base e cuidar dos sobreviventes feridos. Por ser a mais experiente e a primeira a ter sido purificada por Angela. Evangeline foi escolhida para ser a nova líder do culto, comandando todas as cerimônias e sermões a partir dali.

   A mulher não poderia estar mais satisfeita, ela com certeza, dentre todos ali, era quem mais merecia o concedido o título de líder religiosa. Era a mais velha e a mais pura dentre todos em sua opinião.  Contudo, algo ainda fazia com que a mulher ficasse um pouco intrigada.

   O sangue que trazera consigo a alguns dias.

   Assim que chegaram à nova base, Evangeline se instalou em seus novos aposentos, separado de todos os outros, e tratou de pesquisar sobre os benefícios de ter em mãos, o sangue divino de um ser angelical. Acabou por encontrar algumas anotações antigas sobre seres mitológicos e entidades, a qual estudou página por página.

   Sua primeira descoberta foi que o sangue de criaturas sobrenaturais não costumavam se comportar como o sangue humano. Por mais que os dias passassem, e o líquido permanecesse parado em uma superfície absorvente. O mesmo não secava de forma alguma, continuando a pingar e pintar o chão por onde passasse de vermelho profundo, como se uma ferida tivesse acabado de ser aberta.

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