੭࣪ 35
Taehyung— PREPARADA PARA O DIA DE PASSEIO?
Jennie me olhou e encolheu os ombros.
— Vou considerar como um sim — falei.
Era o penúltimo sábado do mês, o que significava que Oliver estaria de volta em dois dias, e por alguma razão isso me fez sentir que não tínhamos tempo a perder.
Saímos de casa e caminhamos em silêncio. Eu levava uma mochila com os sanduíches que tinha preparado e uma garrafa de café. Andamos cerca de dois quilômetros pelo caminho de cascalho que levava à cidade. Quando passamos pelo café da minha família, entramos e cumprimentamos meu irmão.
— Onde vocês vão? — Justin perguntou.
— Fazer um passeio, como as crianças — respondeu Jennie.
Ele pareceu surpreso ao ouvir Jennie brincando, mas, depois de um momento de tensão inicial, serviu a ela um pedaço de cheesecake.
— Para repor as energias — comentou animado.
— Eu já tinha preparado o almoço — reclamei. — Ei, e eu?
Os olhos de Justin brilharam de satisfação. Apoiou um cotovelo no balcão.
— Peça por favor. E com educação.
— Vá se foder. — Sentei em um banquinho, tomei o garfo de Jennie antes de ela pegar um pedaço da torta e o enfiei na minha boca.
Ela reclamou indignada, mas depois riu, enquanto meu irmão a observava com curiosidade.
Entrei na cozinha para cumprimentar meus pais e fomos embora. As ruas de Byron Bay, com suas construções baixas de tijolos e madeira, estavam cheias de crianças andando de skate e pessoas voltando da praia com suas pranchas debaixo do braço depois de surfar nas primeiras horas da manhã no Fisherman’s Lookout.
Passamos em frente a uma loja de aromaterapia e de uma van colorida com uma frase de John Lennon: “Tudo fica mais claro quando se está apaixonado”. E pegamos a trilha do cabo Byron, o ponto mais oriental da Austrália.
— Ei, não vá tão rápido — eu disse.
Jennie se manteve ao meu lado enquanto subíamos o caminho de degraus e terra. A ponta do cabo estava coberta por um manto de grama verde que contrastava com o mar azul. Contornamos o penhasco em silêncio.
Tudo era calma.— Você está aqui? — perguntei.
— Aqui?
— Aqui de verdade, neste instante. Jennie, afasta os pensamentos e curte a estrada, a vista, tudo que está em volta. Sabe o que me aconteceu uma vez quando eu morava em Brisbane? Eu fazia estágio em uma empresa que ficava a uns vinte minutos do meu apartamento e passava todos os dias por uma rua de pedestres. Não sei se era porque eu levava a vida olhando só para o meu umbigo, ou se a minha única meta era chegar ao trabalho ou sei lá que caralho era, mas eu já fazia o mesmo caminho havia dois meses, quando um dia notei um grafite em uma parede. Eu já tinha visto aquele desenho antes, juro, de relance ou algo assim, quando você vê algo de passagem, mas sem prestar atenção. Naquela manhã parei de repente, sem nenhuma razão, e olhei para ele. Era uma árvore, e de cada galho que se estendia para os lados saía um elemento diferente: um coração, uma lágrima, uma esfera de luz, uma pena... Fiquei tanto tempo ali que cheguei atrasado no trabalho. Fascinado por um desenho no qual eu nunca havia reparado, embora ele devesse estar naquela parede há sabe-se lá quanto tempo. Isso me fez pensar que, às vezes, o problema não está no mundo ao nosso redor, mas em como o vemos. Perspectiva, Jennie, eu acho que tudo depende da perspectiva.
Ela não disse nada, mas eu quase consegui escutar seus pensamentos, vê-la agarrando as palavras, guardando-as para si mesma.
Continuamos subindo pelo cabo Byron, atentos a cada passo que dávamos. Eu já tinha estado lá muitas vezes, passeando ou vendo o sol nascer, mas cada ocasião era diferente, única. Essa, porque Jennie estava ao meu lado com uma expressão pensativa e o olhar fixo nas ondas que quebravam à nossa esquerda.
Meia hora depois chegamos ao farol, que se levantava a mais de cem metros acima do nível do mar. Ficamos ali um pouco contemplando a paisagem, até que decidimos continuar por uma trilha ao longo dos penhascos.
Paramos quando vimos um grupo de cabras selvagens.
— Estou morrendo de sede — ela disse, enquanto se sentava.
— Aqui. Bebe.
Passei a garrafa para ela e me sentei ao seu lado, de frente para o mar. Cada vez que uma onda grande batia nas rochas, a água entrava e se deslizava até quase tocar nossos pés.
— Almoçamos aqui? — perguntou.
— Pode ser. — Tirei os sanduíches da mochila.
— Sabe… acho que você tem razão. Às vezes a gente não olha direito para as coisas. Eu fazia isso antes, quando pintava. Observava os mínimos detalhes, as tonalidades, as formas e as texturas. Gostava disso. Absorver. Internalizar.
Prestei atenção nela, em seu perfil, na linha um pouco mais ovalada da testa, nas maçãs do rosto salientes, na curva dos lábios e no nariz arrebitado; em como sua pele parecia macia sob a luz do sol e no tom dourado que ela adquiria.
— Mas também não dá para fazer isso o tempo todo. São momentos — acrescentei.
— Acho que sim. — Deu uma mordida no sanduíche.
Terminei o meu, então tirei os tênis e me acomodei melhor na rocha, deitando ao lado dela. O céu estava limpo e soprava uma brisa suave. Se aquilo não fosse felicidade, calma e vida, eu não sei o que poderia ser.
Fechei os olhos e notei Jennie se mexendo, quando ela se deitou também. Não sei quanto tempo ficamos ali, se foram dez minutos ou quase uma hora, mas foi perfeito e eu me limitei apenas a respirar.
— Taehyung, obrigada por isso. Por tudo.
Abri os olhos e analisei a expressão dela. Estávamos muito próximos, e somente seu cabelo bagunçado nos separava.
— Não precisa me agradecer. Somos uma equipe, lembra?
— Achei que você tinha dito “tribo”, com um chefe já estabelecido.
— Dá na mesma. — Eu ri. Estendi uma mão, já sério, e toquei em seu braço para chamar sua atenção; ela o puxou bruscamente. — Ei, lembra do que falamos no primeiro dia desse mês?
— Lembro.
— Bem, o mês está quase acabando e vou te fazer a mesma pergunta que te fiz lá no começo, preparada?
Ela negou com a cabeça e eu segurei a vontade de abraçá-la e protegê-la de seus próprios pensamentos, tão nocivos, tão perturbadores. Continuei, apesar de sua súplica silenciosa:
— Você quer ser feliz de novo? Com tudo que isso implica? Assimilar o que aconteceu, aprender a esquecer, sorrir quando você se levanta pela manhã sem se sentir culpada por fazer tudo isso, mesmo com a ausência deles? Olha para mim, Jennie.
Ela olhou. Seus olhos se cravaram nos meus enquanto ela fazia que sim com a cabeça lentamente, e meu peito se encheu de orgulho.
𖹭
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Tudo o que nunca fomos 𑁯 𝐉𝐍𝐊 + 𝐊𝐓𝐇
Romantizm𔓘ֹ⠀Em andamento. - taennie, livro um. ꒰ long fic ꒱ Jennie está de luto e tem vivido como uma sombra desde o acidente que levou os seus pais. Taehyung é o melhor amigo do seu irmão mais velho, e, quando ele concorda em levá-la para sua casa durante...