Capítulo 6

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Quando eu cheguei na faculdade Dante estava me esperando na porta. Pela primeira vez com um moletom mais vivo, um moletom vermelho bordô. Mas ainda sim, ele estava com o capuz cobrindo a cabeça.

Assim que me aproximei ele me deu um selinho. Confesso que achei o beijo confortador. Eu estava bem tensa sobre o que esperar daquela situação, mas quando ele me deu aquele selinho tudo pareceu tão natural e nem parecia que a gente estava forçando, hein?

Mas era meio óbvio que os dois tinham uma atração prévia um pelo outro, a gente só pulou um monte de etapas.

A vida era composta disso, fazer as negociações para obter aquilo que a gente deseja, no caso eu acho que fui coagida, principalmente quando eu tinha minha privacidade invadida.

Mas também pude unir o útil ao agradável, que era o fato de eu poder invadir a privacidade da Jéssica. Não sei muito bem o que eu sentia em relação a ela. Não sei se era inveja, se era fixação, se era... sei lá.

Só sei que eu tinha um desejo incessante de saber mais e mais sabe Deus lá fazer o que com essas informações.

Respirei fundo, enquanto olhava os olhos esverdeados de Dante fixamente. Não sabia o que sentir, muito menos o que dizer, mas sabia que algo estranho estava dentro de mim.

- Tá tudo bem, amor? – Dante perguntou estreitando o olhar. Fiquei completamente sem reação. Nunca ninguém havia se referido a mim por uma palavra tão forte como "amor", na verdade eu me questionava se eu já tinha sido amada de fato alguma vez na vida.

A questão é que eu sei que esse teatrinho de chamar de amor era falso, mas ainda sim aquilo despertou um gatilho dentro de mim que eu não sabia explicar.

- Não sei. – Minha voz saiu com um vazio por dentro. Acho que notou, porque sua expressão mudou.

- Se em algum momento você quiser parar é só falar, eu só não posso prometer que... – Sua voz estava em tom normal e de repente ele começou a falar sussurrando. - ..bem, que vou invadir os dispositivos da sua amiga, ou... manter sua privacidade.

Respirei fundo. Não, não era como se eu quisesse parar, mas eu também não sabia que tipo de sensações aquela coisa ia me causar.

Mas era um valor alto que eu estava pagando.

- Não, eu quero voc... digo, quero continuar. – Na psicologia, mais precisamente na psicanálise, existe uma coisa chamada "ato falho", que é quando nosso inconsciente "aparece" brevemente em nossa fala.

Aconteceu isso agora.

Eu realmente quero ele?

Caramba, inconsciente!

Freud, seu filho da puta!

- Você me quer? – Ele disse estreitando os olhos dando uma risadinha zombeteira logo em seguida, mordi o lábio inferior quase como reflexo. Nossos olhos se encontraram e ficaram se encarando. Eu podia facilmente me perder naqueles olhos cor de caleidoscópio.

- Não! Sei lá... Que seja. O que você precisa pra hoje? – Falei disfarçando completamente aquele assunto que eu não queria falar sobre.

Ele respirou fundo desfazendo a conexão entre nossos olhares.

- Bom, preciso de um local com wifi aberto no qual a Jéssica vá com frequência. Alguma balada, restaurante... A faculdade não vale.

- Ela frequenta muito uma cafeteria duas ruas daqui, ela costuma sair por aí com seu frappuccino. – Caramba, eu a observava mesmo! Não só o que ela fazia nas redes sociais, mas o que ela fazia também na vida real. Não era por menos, ela sempre colocava a localização em suas fotos e elas constantemente eram tiradas naquela cafeteria em questão.

Stalker - ATO I [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora