Reddan Wayward encontrava-se a dormir, esparramado na sua cama, com uma perna de fora dos lençóis, quando a porta do quarto foi aberta de rompante. A sua mãe, uma mulher alta e larga, que usava uma touca na cabeça, entrou pelo quarto adentro e abanou a cabeça, parecendo aborrecida. Aproximou-se do filho e abanou-o de forma vigorosa, o que fez com que ele acordasse algo estremunhado, sem perceber o que estava a acontecer. A mãe começou de imediato por lhe dizer que ele era um preguiçoso, pois eram quase onze da manhã e ele ainda estava a dormir, em vez de fazer algo produtivo. O filho, a quem todos travam por Red, sentou-se na cama. Vestia uma t-shirt cinzenta algo larga. Depois de passar uma das mãos pelos olhos, encarou a mãe.
- Não era preciso teres-me acordado desta maneira – queixou-se ele, numa voz lamurienta. – Estava a ter um bom sonho...
- Gritei lá de baixo e não respondeste, portanto vim aqui acima e estou zangada, porque me doem as ancas e tenho andado levantada desde as sete da manhã, enquanto tu apenas dormes – disse-lhe a mãe, colocando as mãos nas ancas. – Tens de deixar de ser tão mandrião.
- Até parece que cometi algum crime. Só estava a dormir, mais nada.
- Tens sempre uma resposta na ponta da língua. Ouve bem, vais levantar-te e despachares-te, pois preciso que vás fazer uma visita à tua avó. Tenho algumas coisas para lhe levares – informou a mãe, aproximando-se da janela do quarto e abrindo as cortinas, para deixar entrar mais luz ali.
- Porque é que não mandas a Dana ir lá? Ela gosta mais da avó do que eu. A avó tem mau hálito e está sempre a dizer que eu me visto mal. Não quero lá ir. A Dana que vá.
- A tua irmã não está, saiu. Tem andado a trabalhar arduamente aqui na quinta, ao contrário de ti e pediu-me para ir sair com o namorado hoje, pelo que eu deixei. Quem se esforça, merece uma recompensa.
- Essa também só anda bem junto do namorado. Qualquer dia ainda aparece aí a dizer que a família vai aumentar...
- Não digas mal da tua irmã. Vá, toca a despachar! Levanta-te, toma um duche, come alguma coisa rápida e depois faz-te ao caminho. Ainda vais demorar um tempo a chegar a casa da tua avó.
- Não demora assim tanto tempo, de carro.
- Pois, mas a tua irmã levou o carro – indicou a mãe, o que fez Red praguejar. A mãe aproximou-se dele rapidamente, dando-lhe uma palmada na cabeça. – Vê como falas! Não te criei para seres mal-educado. De qualquer maneira, não te faz mal nenhum andares a pé. É bom para a saúde e da forma como tu comes e fazes pouco exercício, qualquer dia ficas mais pesado.
- Não percebo porque é que tenho de ir – indicou Red, mas levantou-se da cama. Tinha o cabelo preto despenteado e ao passar uma mão por ele, ainda ficou pior. – A avó é tua sogra, não é como se gostasses dela, nem nada. Mas de vez em quando, lá temos de lhe levar coisas. Aliás, se pensar bem, talvez até faça sentido. Estás a ver se quando ela for desta para melhor, nos deixa alguma coisa de valor.
- Estás a chamar-me de interesseira? – questionou a mãe, furiosa, mas não lhe deu tempo de responder. – Pois fica sabendo que a tua avó neste momento só tem dois netos, tu e a tua irmã e um filho que está longe e já não vê há imenso tempo. Faz todo o sentido que ela deixe dinheiro aos netos. Aquela velha... quer dizer, aquela senhora tem imenso dinheiro, apesar de viver numa casa pequena e isolada, que não se diria. Mas é importante relembrá-la de que estamos aqui para ela.
- De que estamos aqui para usar o dinheiro dela, assim que ela for para a cova, queres tu dizer.
- E se for, qual é o problema? Convidei-a para vir viver connosco e ela não quis. Aqui, estamos numa aldeia, em comunidade, mas ela prefere viver numa casa isolada, no meio da floresta. Ou não gosta muito de nós, o que não compreendo porque sempre a tratei bem, ainda que ela seja uma víbora ou é simplesmente maluca, mas eu não conseguiria provar isso em tribunal e considerá-la incapaz de tomar as suas próprias decisões... - a mãe suspirou. – Enfim, desde que ela não ande a gastar o dinheiro onde não deve, mais cedo ou mais tarde, virá para nós. E agora, chega de conversa. Tens de te despachar.
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Red
FantasySlash. Red é um jovem preguiçoso e quando um dia a sua mãe o manda levar uma cesta à sua avó, que vive na floresta, ele parte, contrariado, acabando por se cruzar com um homem perigoso, com uma pele de lobo e com um caçador que está apaixonado pelo...