Capítulo 1

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Ceará, 16 de junho de 1940

É a quinta viagem que faço ao Nordeste na minha vida. Mesmo assim, ainda não me acostumei ao calor escaldante do serrado e, talvez, nunca me acostume. Tenho mais afinidade com o clima frio. Porém, esse detalhe não me impede de admirar este lugar. Sou fascinado pelas histórias desse povo sofrido. Das poucas vezes que vim aqui, conheci pessoas extraordinárias, com uma força e determinação fascinante. Realmente, são árvores resistentes plantadas em meio à seca. Faço esta viagem a pedido de uma delas. Há um tempo, o meu amigo, Isaque, me mandou uma carta relatando sobre acontecimentos bizarros que andam acontecendo aos arredores da cidadezinha de Serra do Conde. 

Pelo que consta na carta, uma fera anda cometendo assassinatos em série por toda a região. Tudo indica ser obra de um lobisomem, um homem amaldiçoado, que se transforma em noites de lua cheia. Até aí, tudo bem, nada de anormal. Afinal, essas criaturas podem ser encontradas por todo o país e, geralmente, têm um curto período de vida. Mas esse caso, segundo Isaque, é diferente. A criatura anda matando desordenadamente de uma forma tão recorrente que chega a ser anormal até para um recém-amaldiçoado.

 Este comportamento peculiar fez-me interessar pelo caso. Tanto que, assim que terminei de ler a carta, levei-a com as fotos — também enviadas por meu amigo — e fui correndo à diretoria da universidade comunicar ao diretor. Ele ficou tão intrigado quanto eu e disponibilizou os recursos necessários para a investigação. No dia seguinte, partir em viagem, junto de meu companheiro, Jônatas, recém-formado.

 É a sua primeira missão de campo. E por falar nele, ele está, agora, nesse momento, distraído observando as fotos das cenas do crime. Ele é um homem jovem, tem 25 anos, mas aparenta ter menos. Tem o rosto redondo e o cabelo extremamente penteado e totalmente nos padrões da moda. Percebo o seu amor pela aparência, mas apesar de sua vaidade e trejeitos de adolescente, consegue ser um excelente profissional e é muito dedicado no que faz. Por isso, o escolhi para esta missão.

— Acha que pode ser um recém-amaldiçoado? — pergunta ele.

Um recém-amaldiçoado é um homem, que foi mordido recentemente. Quando a pessoa está neste período, ela não consegue ter controle. Ela fica tão irracional e instável quanto qualquer animal que exista por aí. E só depois de muito tempo e muito autocontrole que conseguira ter consciência durante a sua forma lupina.

— Não acho que seja o caso. Talvez, sim, ele tenha se transformado recentemente, mas esse comportamento não é normal.

Ele olha para as folhas e voltou a pergunta.

— Tem alguma teoria sobre o que pode estar acontecendo?

— Ainda não, preciso de mais informações para supor qualquer coisa. Talvez tenha alguma informação sobre isso no livro que eu trouxe da biblioteca da universidade.

O livro se chamava: "Monstro e assombrações, criaturas soltas pelo mundo." Era um livro acadêmico, muito completo e atualizado, sobre criaturas fantásticas, catalogadas

pelo mundo. É a melhor forma de conseguir informações confiáveis no momento. E o meu foco de estudo principal é o capítulo 5, cujo tema é: lobisomens.

— Vou aproveitar o tempo que nos resta de viagem para procurar por alguma coisa — falo.

— Será que falta muito para chegar? — diz Jônatas, impaciente.

— Não vai demorar muito, faltam duas horas para chegarmos à cidadezinha de Serra do Conde e o cobrador disse que o trem é sempre pontual.

Passei os minutos seguintes folheando meu livro até pegar no sono. Jônatas, depois de se cansar de olhar para a janela, fez o mesmo. Quando acordei, vi um punhado de gente se esbarrando umas nas outras para sair do trem. Finalmente, chegamos.

Ao saímos da estação, a nossa primeira ação é procurar uma estalagem para podermos passar a noite. O que não foi difícil, a cidade não é grande e só há uma pousada, localizada na esquina da mesma rua onde fica a estação de trem. É um lugar um tanto humilde, mas tem quartos aconchegantes e limpos. E o preço da diária é barato. Há muitos quartos vazios. Provavelmente, os recentes assassinatos afastam os viajantes de Serra do Conde. Afinal, em lugares como esses, as notícias correm. Histórias como essas são suficientes para fazer qualquer um mudar a rota. Já está de noite, são 19h e vou para a cama cedo hoje, estou muito cansado para trabalhar. Amanhã, com a mente descansada, começaremos a investigação. Há meia hora, Jônatas me convidou para ir beber no bar ao lado. Eu o aconselhei a ficar no quarto esta noite, pois não é seguro sair por aí. Seja quem for que estiver cometendo essas atrocidades, não está em seu juízo perfeito e, Deus, livre de acontecer, vai continuar matando... Muito sangue ainda pode rolar. 

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E cuidado quando saírem em noites de lua cheia

pois tudo pode acontecer...

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