Capítulo 4 - A Grande Depressão

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Antúrio sentou-se calmamente na mesa de jantar.

Aquele cheiro delicioso infestava suas narinas e sua boca já salivava com mais ardor. Ele estava morrendo de fome, só havia bebido álcool nos dias anteriores.
  A bela mulher pegou um prato fundo e serviu-o com a sopa até as bordas. Nicholas suspirava de alegria.
  Assim, ao colocar o prato na sua frente, a Estrela nem esperou e já começou a comer rapidamente.
A mulher e o Padre entreolharam-se.
        - Nós geralmente rezamos antes das refeições. - falou o Padre, sério.
Nicholas estacou e, engolindo mais uma colher de sopa, pronunciou:
            - Desculpe... É que eu estou com muita fome.
O padre suspirou:
            - Tudo bem... Hoje eu deixarei passar.
A mulher sorriu de forma animada e divertida. Logo, ofereceu um pão para Nicholas comer junto com a sopa.
Nicholas agradeceu olhando-a bem nos olhos.
            - Posso perguntar quem é você? - ele dizia com uma sobrancelha arqueada
            - Meu nome é Celina - disse com uma pausa.
Nicholas franziu a testa, enquanto apontava para os dois:
            - E vocês são?
            - Irmãos - respondeu o Padre.
            - Ah - Nicholas suspirou.
            - Sim - confirmou Celina - Sou irmã do Bernardo. - dizia colocando a mão no braço dele.
"Bernardo"... Então esse era o nome do padre.
Nicholas sorriu. Sentiu-se acolhido pela presença da mulher. Então, logo voltou a comer.
Porém, mais uma dúvida surgiu em sua mente.
             - Espera... Vocês... Não me conhecem?
             - Você é o Nicholas - respondeu a mulher, simples.
             - Sim! Sou eu... Então você sabe quem eu sou?
             - Não... Eu acabei de te conhecer. - deu de ombros.
Nicholas apoiou as costas no encosto da cadeira, como se perdesse suas forças.
             - Vocês não usam internet aqui? Eu sou a Estrela! Nunca ouviram falar de mim?
Celina olhava-o com os olhos ligeiramente arregalados. Bernardo deu uma leve risada:
             - Por que continua insistindo nisso? É famoso por acaso?
Nicholas mordia um pedaço do pão enquanto fazia um movimento positivo com sua cabeça.
Ele terminou de mastigar e começou a explicar:
              - Eu... Sou um artista. Eu componho músicas, toco guitarra e violão... Um pouco de bateria também. Eu sou o vocalista de uma banda muito famosa... Meus fãs me chamam de Estrela. -e deu uma pausa, com o olhar baixo - mas eu sou muito famoso, é estranho nunca terem ouvido falar de mim.
               - Não me apego a essas pessoas famosas. Não é o estilo de vida que eu pretendo seguir... Drogas, álcool, sexo desregrado... Não é minha vida. - Afirmou Celina.
   Nicholas abaixou o olhar. Era como uma flecha em seu coração. Ele não gostava de viver aquilo, porém amava a música e os palcos também, logo, isso arrastava-o para um certo abismo.
Antúrio respirou fundo, deixando seus ombros relaxarem e sua face tornou-se mais séria, pronunciando:
              - Todo palco tem seu camarim... Uma parte que ninguém é capaz de enxergar. - ele olhava fixamente nos olhos da mulher.

Houve um silêncio, como se aquela fala tivesse dado um ponto final na conversa. Nicholas sentia-se levemente mal pois ele achou que havia trazido um assunto triste e profundo demais para aquela ocasião, sendo que, na verdade, os dois irmãos só não compreendiam muito o que ele realmente queria dizer.
  Ninguém falou nenhuma palavra até o final da janta. Assim que acabaram de comer, Nicholas se ofereceu para lavar a louça, porém Celina não permitiu. Logo, ele, ao menos, insistiu em secar todos os pratos e talheres.
  Os dois trocavam olhares fugazes e rubores incertos. A curiosidade e a incerteza da vida a instigavam a conhecer uma sala totalmente escura, que era a Estrela.

  Nicholas umedecia os lábios constantemente ao olhar para os olhos daquela mulher, entretanto sua consciência o castigava por certos pensamentos.

Ele não era digno daquela mulher.

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