Capítulo 19

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Ana sorriu timidamente, dizendo estar bem, mas que o lugar parecia um pouco assustador. O assassino assentiu, fingindo concordar, enquanto sua mente trabalhava freneticamente. Ele precisava agir rapidamente, antes que qualquer dúvida surgisse na mente de Ana. Com um movimento súbito, mas controlado, ele a puxou para mais perto, sua mão deslizando habilmente para alcançar uma pequena lâmina escondida em seu bolso. O coração de Ana acelerou, mas ela não teve tempo de reagir antes que Leonardo pressionasse a lâmina contra sua pele.

Ela arfou, seus olhos arregalados de surpresa e medo. Leonardo manteve uma expressão calma, quase serena, enquanto murmurava palavras tranquilizadoras, como se estivesse tentando acalmá-la. Sua voz era suave, mas seus olhos revelavam a frieza de um predador em ação. Ana tentou lutar, mas o homem era forte e experiente. Ele sabia exatamente como controlar suas vítimas, minimizando qualquer ruído ou movimento que pudesse atrair atenção. Em questão de segundos, o beco silencioso foi palco de mais uma tragédia, com o assassino se afastando rapidamente, deixando apenas a escuridão para testemunhar seu ato hediondo.

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Camargo e Renata saíram do bar, deixando para trás o calor aconchegante do ambiente e se preparando para enfrentar a fria escuridão da noite. A lua estava alta, lançando sombras longas e distorcidas sobre as ruas desertas da cidade. O vento sussurrava entre os edifícios, trazendo consigo uma sensação de inquietude.

Enquanto caminhavam em direção à Delegacia, a atmosfera mudou. O riso fácil e a conversa descontraída do bar foram substituídos por um silêncio pesado, quase palpável. Renata olhou para Camargo, notando a mudança em sua expressão. Ele estava alerta, seus olhos varrendo as sombras com a atenção de um predador.

— Está tudo bem? — perguntou Renata, sua voz baixa e cautelosa.

Camargo assentiu, mas não relaxou. — Apenas uma sensação. — disse ele, mantendo a vigilância. — Essas ruas têm um jeito de jogar truques na nossa mente.

Renata compreendeu. A cidade, com suas histórias sombrias e segredos enterrados, sempre pareceu ter uma vida própria, uma presença maliciosa que espreitava nos cantos mais escuros. Eles continuaram andando, os passos ecoando suavemente no asfalto, enquanto a sensação de estar sendo observados se intensificava.

Finalmente, chegaram à Delegacia. O prédio, com sua fachada austera e luzes piscando, parecia mais um santuário contra a escuridão do que um local de trabalho. Entraram, sendo recebidos pelo brilho artificial das lâmpadas fluorescentes e o som distante de telefones tocando.

Camargo se dirigiu ao seu escritório, Renata seguindo logo atrás. Ao entrarem, a porta se fechou com um rangido sinistro, isolando-os do resto do mundo. As sombras dançavam nas paredes, como se tivessem vontade própria. O silêncio na sala era quase opressor, carregado de tensão e antecipação.

Camargo sentou-se à sua mesa, observando os documentos espalhados à sua frente. Cada folha de papel parecia contar uma história de dor e mistério, e ele sabia que era sua responsabilidade desvendar esses segredos. Renata se aproximou, colocando uma mão reconfortante em seu ombro.

— Estamos nisso junto, lembra? — disse ela, com firmeza. — Não importa o quão sombrio fique, não estamos sozinhos.

Camargo olhou para ela, encontrando força no olhar determinado de Renata. — Sim, estamos. — respondeu ele, sentindo uma renovada determinação. — Vamos resolver isso, custe o que custar.

Eles passaram as próximas horas imersos no trabalho, revisando pistas e traçando linhas de investigação. A atmosfera na sala era tensa, mas havia uma camaradagem silenciosa entre eles, uma compreensão mútua de que estavam lutando contra algo muito maior do que qualquer um poderia enfrentar sozinho.

À medida que a noite avançava, a sensação de inquietude nunca os deixou completamente. Mas Camargo e Renata sabiam que, juntos, poderiam enfrentar qualquer escuridão que se apresentasse. E, no coração da noite mais sombria, a promessa que haviam feito mutualmente brilhava como uma luz na escuridão, guiando-os em sua busca incansável por justiça e verdade.

— Alguma coisa em mim se recusa a acreditar que um ser humano assim está vivendo uma vida a anos sem uma gota de remorso, mesmo com toda a minha experiência. — Disse Camargo enquanto revirava a papelada.

— A mente humana é bizarra. — Renata respondeu, os olhos fixos em um ponto distante, como se tentando compreender a profundidade da mente de um assassino. — Lembra do Ted Bundy? Ele era um homem charmoso, educado, tinha até uma namorada e estudava direito. Quem olhava para ele jamais imaginaria do que ele era capaz.

Camargo fez uma pausa, deixando os papéis caírem sobre a mesa. Ele se virou para Renata, curioso.

— No entanto, ele matou mais de trinta mulheres. Como alguém pode levar uma vida dupla assim? Sem demonstrar nenhum sinal?

Renata suspirou, balançando a cabeça lentamente.

— Bundy é um dos exemplos mais perturbadores de como a mente humana pode ser dissimulada. Ele se comportava de maneira tão normal que enganou até os mais próximos. Não se trata apenas da capacidade de cometer atos horríveis, mas de mascarar completamente esses atos com uma fachada de normalidade. É algo que desafia nossa compreensão.

Camargo assentiu, pensativo. A comparação com Bundy parecia pertinente. O serial killer que estavam investigando mostrava um nível semelhante de duplicidade e frieza.

— Precisamos encontrar esse cara antes que ele ataque novamente. — disse Camargo, decidido.

— Sim. — Renata concordou, os olhos brilhando com uma determinação renovada. — E precisamos entender como ele pensa. Somente assim poderemos antecipar seus movimentos e impedi-lo.

O clima na sala ficou mais pesado enquanto ambos se debruçavam novamente sobre as evidências, a sombra de Bundy pairando sobre suas mentes como um lembrete do mal que pode se esconder por trás das aparências mais benignas.

Sombras de Serra VerdeOnde histórias criam vida. Descubra agora