Sombras de Serra Verde

Capítulo 23

— Eu sabia que seria complicado, mas não tanto. — Disse Renata, limpando o suor do rosto.

— Eles são a escória da humanidade

Renata assentiu, Camargo se atirou em sua cadeira, excomungando baixinho.

— Espero que consigamos montar um bom caso. — Disse Silva, entrando na sala como se estivesse correndo uma maratona.

— Com tantas provas assim? Impossível não conseguirmos. — Disse Camargo.

— Os motivos exatos por trás dos assassinatos não foram completamente esclarecidos, mas Isabel afirmou que os atos canibais eram parte de um ritual macabro e que ela preparava os corpos para consumo, transformando-os em pratos específicos. — Disse Renata.

Cada detalhe perturbador que ela revelou parecia uma peça de um quebra-cabeça grotesco que apenas começava a fazer sentido para os investigadores.

— As tortas! — Disse Silva, tendo uma arcada de vômito.

Renata sentou-se, tentando processar as novas informações.

— Rituais macabros... — murmurou, visivelmente abalada. — Será que há mais pessoas envolvidas nisso? Uma espécie de culto?

Camargo balançou a cabeça.

— Ainda não sabemos. Mas é uma possibilidade que não podemos descartar. Precisamos seguir todas as pistas.

Silva se aproximou com um laptop, exibindo as fotos encontradas na cena do crime.

— Essas imagens... começou ele, a voz trêmula. — É difícil acreditar que alguém possa fazer algo assim.

Isabel, a principal suspeita, havia descrito com frieza como desmembrava os corpos e os preparava como se fossem ingredientes de uma receita macabra. Cada prato tinha um significado especial no tal ritual, aumentando a sensação de horror entre os presentes na sala.

Renata levantou-se, determinada.

— Precisamos descobrir onde esses rituais eram realizados e se há mais vítimas. Esse pesadelo precisa acabar.

Camargo concordou, sentindo o peso da responsabilidade em seus ombros. Ele sabia que a investigação estava longe de terminar, mas com cada nova pista, estavam um passo mais perto de desmantelar aquele horror.

O caso gerou grande comoção em Serra Verde e no mundo, levando a questionamentos sobre como crimes dessa natureza poderiam ter permanecido ocultos por tanto tempo. A mídia local e nacional cobriu o caso extensivamente, com muitos detalhando os aspectos mais horripilantes das descobertas.

A residência de Dante e Isabel tornou-se o centro das investigações. A cada novo dia, mais detalhes perturbadores emergiam. Os restos humanos encontrados na casa eram apenas o começo; registros detalhados de vítimas, rituais descritos em diários e vídeos perturbadores gravados por Dante pintavam um quadro ainda mais sombrio. Os investigadores trabalhavam incansavelmente, tentando entender a magnitude dos crimes e identificar todas as vítimas.

Camargo, à frente da operação, enfrentava o desafio de manter a calma e a objetividade enquanto liderava sua equipe através do labirinto de horrores que era o caso Dante e Isabel. O impacto psicológico sobre os oficiais era inegável, mas a determinação em trazer justiça às vítimas os mantinha firmes.

A revelação pública dos detalhes do caso, aumentou a onda de pânico e descrença da comunidade. A ideia de que pessoas aparentemente comuns pudessem poder tais atrocidades abalou profundamente a confiança pública. As discussões sobre a fragilidade da segurança e as falhas do sistema judicial foram amplamente debatidas.

Enquanto as investigações prosseguiam, as autoridades também trabalhavam para prevenir futuros crimes. Protocolos de segurança foram reforçados, e a comunidade foi instada a permanecer vigilante e a relatar qualquer comportamento suspeito. A colaboração entre a polícia e a população local tornou-se essencial para restaurar a sensação de segurança na região.

Serra Verde era uma cidade monótona, estava diante dos maiores crimes já vistos, era o assunto em todas as rodas de conversas possíveis. Na delegacia Dante e Isabel permaneciam insensíveis com os crimes que haviam cometido, todos os dias que antecederam o julgamento do casal, Camargo fazia questão de passar pela cela dos dois, na tentativa de arrancar mais informações deles e claro mostrar seu triunfo.

Após a chocante confissão de Dante e as evidências incriminatórias coletadas pela polícia, o casal foi formalmente acusado de crimes hediondos. Dante enfrentaria acusações de assassinato e ocultação de cadáver, enquanto Isabel foi julgada por sua participação nos atos macabros. As provas incluíam fotografias perturbadoras, testemunhos e materiais encontrados na casa que confirmavam as práticas horríveis do casal.

— Eles se ferraram. — Disse Silva rindo.

— Não tem como não. — Disse Camargo.

— Mas adivinha quem vai ser a juíza do caso? — Disse Silva.

Camargo deu de ombros

— A Juíza Natalia Salazar! — Disse ele dando um tapa na mesa.

Camargo se permitiu comemorar. a juíza Natalia Salazar, emanava autoridade e confiança com sua postura imponente e elegante. Seus olhos claros profundos refletiam compaixão e determinação, características que equilibram sua justiça inflexível com empatia. Conhecida por sua inteligência afiada e ética de trabalho incansável ao longo de duas décadas de carreira, Natalia é uma defensora apaixonada dos direitos humanos.

Dias depois, o dia do julgamento chegou, a imprensa estava em peso diante do fórum, mesmo com a transferência do caso para a capital do estado. Durante o julgamento, Dante manteve uma postura fria e calculista. Ele confessou detalhadamente como planejou e executou o assassinato, sem, mostrar qualquer remorso. A corte foi informada de que Dante atraía suas vítimas com promessas de amor e carinho, apenas para depois atacá-las brutalmente. O testemunho das autoridades revelou como os corpos eram desmembrados e utilizados para consumo, fizeram com que o júri passasse mal e o julgamento tivesse que ser pausado.

Isabel, por outro lado, apresentava um comportamento errático e confuso durante todo o processo. Os psiquiatras que a avaliaram concluíram que ela sofria de uma grave doença mental, o que a tornava incapaz de compreender a gravidade de seus atos ou participar coerentemente no julgamento. Sua confusão e alienamento eram evidentes, e suas declarações muitas vezes não faziam sentido.

A Juíza, com voz firme e solene, proclamou as sentenças:

— Com base nas provas apresentadas e nas confissões, este tribunal condena Dante a 12 anos de prisão. Que esta sentença sirva de justiça às vítimas e traga alívio à comunidade que temeu pela possibilidade de um monstro escapar impune.

— Só 12? — Disse Silva.

Camargo lhe deu uma cotovelada e ele ficou em silêncio. Quanto à Isabel, a Juíza continuou com compaixão:

— Isabel, por sua vez, é considerada mentalmente incompetente para enfrentar um julgamento regular. Por isso, será internada em uma instituição psiquiátrica, onde receberá tratamento adequado. Esta decisão visa oferecer-lhe uma oportunidade de recuperação, apesar das dúvidas sobre a redenção diante dos crimes atrozes cometidos.

Com essas palavras, a Juíza encerrou o julgamento, deixando no ar um misto de justiça e preocupação pelo futuro dos envolvidos.