Cap. 3

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Se a tristeza se apoderar de nós por um erro ou pecado nosso, lembremo-nos de que um coração esmagado pela dor é um sacrifício digno de Deus.

-Santo Agostinho

Akira

Acordei sobre um travesseiro. Eu não tenho travesseiro, pensei. Sentei-me no chão observando o espaço vazio e o estrelar do meu corpo rígido sob a superfície. Hoje era Domingo, fui para meu apartamento me banhar pra ir na missa. Quando conseguiria pagar por um aquecedor? A conta é cara demais para uma pobre lascada feito eu.... É isso, tenho que arranjar lenha, dá uma de "carpinteiro" como meu bom Criador.

-Me mandou pra cá me confundido com o Rambo! -Brinquei.

Mas me era completamente assustador o rumo em que estava seguindo. Não tenho perspectivas de vida. Não fui pra faculdade e nem poderei sem bolsa integral. Seria uma vida pagando mensalidades da universidade... ou melhor dizendo, dívidas. Vou acabar parecendo o...

Corri para água não desejando pensar no meu catálogo pessoal da mágoa que é mais destrutivo do que um corte no pulso. Mas era inevitável a mente ser a pior inimiga de todas. Naquele domingo fui a missa rezando por tudo aquilo que não tenho controle, só resta a esperança.

(6 anos de idade)

-Akira, vem cá com o papai.

-Você não é meu pai...-Disse chorosa.

-Oh você sabe o que acontece com as meninas más.

Não sei pelo o que eu era má para ser punida de forma tão incisivamente cruel. Não entendia inicialmente porque os socos levavam-me a uma inconsciência com o meu corpo sacolejando. Mas pior se tornou a vividez dos momentos em que estava lúcida no balançar. Dóia-me na alma aquilo que sentia no corpo e a dor de minha alma meu corpo sentia. Eu me sinto tão infeliz. Vivo num mar de dores incompreensíveis, torcendo para que a noite não chegue, torcendo para que a professora na escola não me mande para casa. Tudo acompanhado de um filme de pessoas nuas que fazem coisas perturbadoras, eu tapo os ouvidos para não ouvir nada, mas ele abre a porta do quarto e quer imitá-las comigo.

Mamãe morreu e me deixou com ele. Por qual mal estou sofrendo? Tudo que mais quero é voltar para os braços de minha mãe. Não acho que ela tenha caído da escada acidentalmente. Se alguém te empurra, é algo errado. Eu vi algo errado e por isso sou errada? O meu pai de verdade era bom, mas cada vez esqueço mais dele. Não quero esquecer ela. Minha mamãe... qual o nome....Meu papai...

Liz e Ethan. Eu vou encontrar vocês.

Estava no parquinho e olhava de cima do escorregador imaginando se a queda me faria morrer. Um garotinho de cabelos pretos cutucou meu ombro, me assustei pelo toque e quando fui me afastar quase cai e senti muito pavor. O garoto segurou minha mão e me puxou para não cair,

-Você tá bem?

Estava sem fôlego e de olhos arregalados, me encolhi no canto para que o menino não me tocasse de novo.

-Estava tudo sobre controle, era pra acontecer isso. -Respondi.

-Não era, se não, não estaria com medo! -Ele desceu pelo escorregador e n final do mesmo me encarou de cima. Desci também no escorregador e fiquei de frente pra ele.

-Qual seu nome? -O garoto perguntou.

-Akira.

-Akira, me deram essa coisa aqui, não sei o que é mas acho que você pode gostar.

-O que é?

-É uma oração. Não sei direito. -Ele entregou e então os pais dele o chamaram "Filho" e ele foi. Queria ser chamada assim também.

Era uma oração de um Santa que amava Deus e sofreu com incesto. Naquele dia pesquisei o que era e vi que a Santa e eu éramos parecidas. Rezei como e vi no site que ela rezava, e tentei confiar naquilo que não podia ver nem entender.

Perturbada e cheia de lágrimas, após rezar diante do Santíssimo, retornei para minha casa com o peito pesado de dor, envolta naquela névoa pesarosa que aflige todo o meu espírito e implorando ao Espírito Santo "me console", a Virgem Mãe de Cristo "seja a minha mãe".

Desejo de Eternidade -romance católicoOnde histórias criam vida. Descubra agora