Primeira Vez

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Alguns dias depois eu ainda estava sonhando com aquele garoto. Tão impossivelmente lindo... Recebi algumas mensagens de Anne, ela estava muito ansiosa. Diferente da minha primeira impressão, ela era uma garota divertida e não tão retardada quanto pensei.

Certa tarde de quinta, eu estava conversando com a Lu pelo celular e ela me perguntou o que eu faria no meu aniversário. Bom, eu já disse que vou fazer 18 anos dia 19 de setembro, e ela estava querendo planejar algo grande, como se fosse também uma despedida temporária. Pensei por alguns segundos e respondi "boate". Sim, isso soou bem anos 90. Sempre quis conhecer e entrar livremente por aquelas portas proibidas para menores. Vai ser isso mesmo.
Nós ficamos mais algumas horas planejando e ela sugeriu um lugar que tinha ido com outras amigas.

Dá pra acreditar? Outras amigas? Oi? Deixei?

Depois que desliguei o celular, continuamos a nos falar pelo WhatsApp e resolvi criar um grupo com todos meus amigos, inclusive Anne, para perguntar se eles topariam essa idéia. E olha, foi muito bem recebida por quase todos e isso me deixou bem tranquila. Combinamos tudo e depois "comuniquei" aos meus pais, daquele jeitinho meigo que todas fazemos quando queremos algo.

Na sexta, Anne criou um novo grupo com as pessoas que conhecemos da reunião. Fiquei impressionada com a rapidez dela em conseguir todos os números, mas também apreciei.

Agora eu tenho o celular do Rafael. Ótimo.

Mas ele não estava no grupo. Inacreditável. Anne disse que ficou com vergonha e eu queria mata-la, mas também entendi, pois eu mesma não conseguia trocar algumas palavras com ele, quanto mais pedir o celular né. Enfim, o grupo era bem divertido e acabei chamando todos para me encontrarem no dia 19.

Eu estava cheia de trabalhos do colégio para fazer e dando graças a Deus pelo ano estar passando rápido. Último ano de ensino médio e enquanto todos pensavam no que fariam pós-terceirão, eu estava pensando em quais roupas eu levaria para Paris me sentindo uma completa Lady.

Meus pais gostaram da idéia da boate e resolveram fechar o camarote para mim. Eu quase não acreditei, mas preferi não ficar questionando. Meia noite chegou e com isso, dia 19 veio também. A Lu veio se arrumar na minha casa (e me arrumar também), e tinha chego algumas horas antes de dar meia noite. Ela alegou que eu precisava ficar maravilhosa e eu concordei pela primeira vez. Coloquei um vestido preto de paetê, saltos altos e fiz uma maquiagem digna de capa da vogue. Saímos mais ou menos meia noite e meia. Meu pai nos levou e encontrei a maioria do pessoal na entrada. Era um lugar grande, portas de madeira escura e paredes vermelhas, bem estilo casa noturna mesmo. Entramos todos e fomos encaminhados para o camarote, onde todo mundo foi servido por um bar somente nosso. Da pra acreditar? Eu estava maravilhada e só conseguia olhar para todos os lados. Estava na cara que eu era novata, mas nem me importei. A Anne me encontrou e fez toda a cerimônia de aniversário, desejando todo aquele blá blá blá que estamos acostumados a ouvir, e na verdade o que eu desejava mesmo era algo para beber, estava muito quente. Foi como pensar em voz alta, Lu apareceu do meu lado com um copo de algo transparente, dizendo que a noite era minha e que eu tinha que aproveitar. Aquilo me incentivou, virei o copo e só depois parei para sentir o gosto da vodka escorrendo pela minha garganta. Engasguei.

- você ficou louca? - ela me encarou boquiaberta - quer sair daqui de samu?
- eu achei que fosse Sprite! - tossi, recuperando o ar.

Luísa riu e caminhou novamente para um grupo. Eu me sentei no sofá e levantei no mesmo momento. Eu precisava dançar e tinha que ser agora. Passei pela Luísa, agarrando-a pelo braço e a arrastei para a pista de baixo. Ela ria e eu tive a impressão de que ela já estava alta, só que eu também estava sentindo a vodka subir, então obviamente eu não tinha condições para julgar isso. Com algumas poucas músicas eu já estava me sentindo linda, leve e solta. Com certeza efeito da bebida. Eu nunca soube beber e já tinha passado por várias situações vergonhosas por conta disso. Eu dançava como uma louca, e quando senti alguém encostar as mãos na minha cintura, não me importei. Me virei para ver quem era e dei de cara com um moreno lindo, eu sorri o mais descarada possível e ele retribuiu. Nós dançamos colados, quase como se quiséssemos nos fundir um no outro. Ele sussurrou algo no meu ouvido e eu ri. Eu ria sem parar. Qual era meu problema? Não pergunte. O moreno me puxou para um canto e começou a beijar meu pescoço. Na minha cabeça só havia espaço para a seguinte questão "onde está a Luísa?". Ele continuou a beijar, até subir para os lábios. Eu deixei que fizesse por algum tempo, permitindo que me beijasse como bem entendesse, porém algo bateu mais Forte e eu me afastei. Uma sensação muito esquisita e dessa vez eu não sabia se podia culpar a bebida. Eu me virei e encarei um par de olhos azuis que estava acompanhado de um sorriso de escárnio. Rafael estava sentado em uma mesa perto do bar, a uns 15 metros de mim com vários amigos o rodeando. Eu o encarei e ele sustentou o meu olhar até que eu me sentisse desconfortável, me esquecendo totalmente de onde estava. Me virei para ir embora mas fui agarrada novamente pelo moreno. De repente, aquilo pareceu um erro total e tentei me desvencilhar das suas mãos na minha cintura, em vão. Eu o empurrei e senti outras mãos em mim, mas essas mãos traziam calor e algum significado que eu não entendia. Sabia de quem se tratava e deixei que ele me arrastasse para o outro lado.

- você costuma vir a esses lugares? - Rafael perguntou, me encostando num canto.
- na verdade não. É minha primeira vez. Não que isso seja da sua conta.

Ótimo. Passamos para a segunda fase da embriaguez.

Eu achei que isso o deixaria bravo mas ele apenas sorriu e continuou

- bom, não é um lugar legal para vir sozinha.
-eu não estou sozinha. - quando terminei a frase, Anne apareceu de braços dados com Giovanna e Henrique logo atrás.
-ah, reunião da turma de intercâmbio? - ele os encarou por alguns momentos, e voltou-se para mim
Eu me desesperei. Lógico que era uma atitude idiota, mas não queria que ele pensasse que combinamos e o deixamos de fora
- na-não. - gaguejei - é meu aniversário e eu chamei meus amigos
- ah, então não sou seu amigo? - ele perguntou calmo, quase se divertindo.

Pronto. Eu me desesperei totalmente e me enrolei toda. Não era isso. Nao queria que ele pensasse isso. Eu nem sabia porque estava dando tantas explicações. Só podia ser a bebida.

-não. Quer dizer, claro que é. Eu acho. Desculpa, você não estava no grupo e eu não tenho seu celular, não foi minha intenção. - falei rapidamente, tentando organizar meus pensamentos.
-ah, então tem um grupo e eu não estou incluso? - ele perguntou, se fazendo de ofendido

Eu fiquei vermelha e tentei explicar mais uma vez, me atrapalhando toda, até que ele deu colocou um dedo sobre meus lábios. Eu parei de respirar.

- Emily, shhhh. Estou brincando. - ele disse e abriu mais um de seus sorriso de tirar o fôlego. Eu respirei novamente. - me dá seu celular.

Eu obedeci, tirando o celular do decote, enquanto ele me encarava com um olhar divertido. Abriu e digitou algumas coisas, fez o mesmo no dele e depois depositou o meu novamente no decote. Eu arrepiei e ele disse no meu ouvido
- agora eu tenho seu número e você tem o meu. Não tem mais desculpa ouviu? E pode me colocar nesse grupo. - senti seu sorriso em meu pescoço e prendi novamente a respiração. - agora volte para os seus amigos e não beba mais. Esses caras estão loucos para te ver completamente bêbada e te levar pra casa. - eu assenti e ele se afastou.

Eu caminhei de volta para o camarote e fui recebida por uma Luísa quase morta em um dos sofás. Eu me aproximei.

- Emy, podemos ir? Estou morta.

Eu olhei para o relógio e marcavam 5:14. O tempo tinha passado muito rápido. Eu assenti e mandei uma mensagem para meu pai. Meia hora mais tarde, ele já estava na porta, onde me despedi e agradeci todos por terem vindo.

Meu pai deixou Luísa em sua casa e depois seguimos para a nossa. Tudo o que ele perguntava, eu respondia com sim ou não, até porque não sabia se estava bem para responder de outro jeito. Quando ele estacionou na garagem, desci correndo, entrei em casa e subi a escada para o meu quarto, tranquei a porta e me joguei na cama. Eu estava exausta e pretendia dormir até meu próximo aniversário. Meu celular apitou e eu o tirei do decote. Havia uma mensagem e era do Rafael. Meu coração acelerou e eu tinha certeza que devia estar batendo a mais de 200 por minuto.

"aposto que se divertiu bastante com aquele cara, mas se quer mesmo saber, acho que você tem muito mal gosto. Boa noite Ariel.

Ps: você estava linda. "

Eu sorri. Sorri por dentro e por fora. Ganhei o dia com uma simples mensagem. Não sei como o resto do dia 19 ia conseguir superar isso, mas enquanto pensava cai no sono abraçada ao celular. Tenho certeza que nem dormindo meu sorriso se desfez.

Amanhã Não Se SabeOnde histórias criam vida. Descubra agora