Prólogo

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OXFORD, 2006

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OXFORD, 2006


  O taxista estaciona o carro na porta da enorme universidade, e, saindo do banco do passageiro, sapatos da última coleção da Prada tocam o chão de cascalhos graciosamente. Maya, o cisne branco da turma de 2006 de administração, de Oxford, estava de volta.

— Senhorita — chama o homem grisalho, oferecendo a bagagem recém retirada do porta-malas.

— Muito obrigada. — agradece docemente botando a mala no chão antes de abrir a bolsa e pegar uma quantia alta de libras.

— Não, eu não posso aceitar. — o mais velho nega educado.

— Eu insisto, senhor. Pegue.

Relutante, o motorista que foi pago com mais dinheiro que devia pela viagem, aceitou desajeitadamente, mas não porque não precisa, mas porque seria falta de educação negar a boa vontade de alguém rico — em dinheiro.

Com um sorriso no rosto, Maya observa o homem acenar minimamente em despedida antes de entrar no carro, dando partida para qualquer lugar em que precisem dele.

Num suspiro, a jovem vira-se para os portões da universidade, apenas observando e imaginando o que a guardaria neste ano letivo. De canto de olho, uma movimentação chama sua atenção e o rosto de Farleigh é visto antes de um forte abraço, que quase a faz cair.

— Não tem mais pau pra chupar? — Maya ironiza retribuindo o afeto sem a mesma significância.

Farleigh ri.

— Eu já chupei.

— Por isso o bafo.

O moreno não conteve a expressão incrédula, situação que a fez soltar um escárnio. Ela poderia ser diversas coisas, mas bondosa ela não era — era o que pensava de si mesma.

— Onde está Felix? — a morena perguntou intrigada olhando ao redor.

Ele dá de ombros.

— Fumando por aí. — Dá de ombros e Maya franze o cenho.

— Sozinho?

— Não, deve ‘tá com o grupo.

Ela assente suavemente e puxa a mala para si.

— O que foi? — Farleigh pergunta, curioso. — Ele falou que ‘ia te esperar chegar? — Dessa vez ele é quem solta o riso de escárnio.

Maya comprime os lábios e os umedece.

— Não… Só disse que estaria me esperando. — trocam olhares.

— Felix tá é te esperando com a boca em outra.  — Farleigh ri pegando a mala das mãos de Maya, guiando-a até o campus.

O ar desconfortável da resposta de Farleigh fez o sangue de Maya gelar, e o estômago dar voltas. Então, num suspiro breve, segue em silêncio, afinal, não poderia fazer muito.

O ambiente universitário tem dois lados: o calmo e o caótico. O calmo ocorre sempre quando os alunos estão em seus primeiros dias ou pós ressaca. Os caóticos, bem, não precisam ser citados.

— Como estão as coisas com sua família? — Maya pergunta entrando no ambiente gélido do castelo, rumo ao dormitório.

Farleigh coça o canto do pescoço, meio desconfortável.

— Ah… O mesmo de sempre. — se entreolham.

— Sua mãe tem que parar de gastar dinheiro assim, onde você vai parar desse jeito? — comenta enquanto sobem as escadas.

— Por enquanto a gente precisa da ajuda dos pais do Felix, mas sabe… É um cú. — Farleigh solta um riso frustrado.

— É ruim depender de terceiros, eu sei. — os dois param no canto da escadaria para que um grupo de alunos desçam animados, provavelmente rumo a algum pub.  — Sabe o que eu acho? — Farleigh levanta uma sobrancelha. — Que você devia roubar um banco.

Os dois se entreolham por um instante antes de caírem na gargalhada, seguindo o caminho.

— Você não pode ficar se prostituindo ‘pra estender sua estadia na universidade. — diz ela mais seriamente agora, que viram outro corredor.

Farleigh solta um bufo de desgosto ao ser lembrado, mesmo que não tenha dito para a amiga as atrocidades que faz para manter sua bolsa em Oxford.

— Como… — se perde um instante. — Como soube?

— O quê? — Maya o olha de canto, não ouviu muito bem pela gritaria de algumas meninas se reencontrando.

— Que eu faço o que faço. — Farleigh a encara.

— As pessoas dizem e eu não duvido. — solta uma bufa assim que toca a maçaneta do quarto.

A expressão que o amigo evidenciou fez com que Maya se sentisse brevemente comovida. Talvez seja um pouco grossa com os outros, mas estava tentando melhorar.

— Desculpe. — expressa remorso.

Farleigh levanta o olhar aos dela e balança a cabeça.

— Não, tá tudo bem, eu só ‘tô precisando de um coma alcoólico muito bem induzido. — faz piada, provocando uma revirada de olhos da garota.

— Você não tem jeito. — conclui antes de abrir a porta do quarto e dar de cara com Félix, bexigas e fitas por todo o cômodo.

— SURPRESA! — Catton abre os braços e sorri bobamente, em seus lábios há uma língua-de-sogra.

Maya esboça um sorriso de orelha a orelha antes de pular nos braços grandes e (devo dizer) musculosos do amigo. Ele a balança e dá alguns pulinhos, depois beija seu rosto por inteiro em meio às risadas dela e, de modo carinhoso, a solta.

— Você mentiu, Farleigh! — a garota se vira para a porta, encontrando a face de desdém do amigo pela recente interação.

— É é, menti né. — estala a língua e gesticula cruzando os braços.

Maya semicerra os olhos com a audácia.

— Sabia nada.

A expressão do moreno é de cinismo.

— E daí? — Farleigh responde impaciente e Felix ri baixo.

— Ele sabia, eu paguei ele ‘pra te trazer rápido. — o mais alto pega algo do bolso e entrega para Farleigh. Dinheiro.

— Então você foi me buscar no portão por dinheiro? — Maya pergunta com certo desapontamento. Bem que estava estranhando.

— Sim. — Farleigh não demora ao menos um segundo para ponderar em responder. — Beijão gata. — manda um beijo no ar e sai dali.

A garota fica estática, incrédula com o descaro de um gay meia boca.

— Viado passivo. — resmunga baixo, coisa que fez Catton rir com os olhos antes de fechar a porta.

— Eu acho que não.

— Quê? — ela não entende e ele se aproxima, colocando uma mecha de seu cabelo para atrás da orelha.

— Que Farleigh seja um viado passivo.

— Ele é. — rebate com certeza.

— Se você diz. — ergue as sobrancelhas, não desejando estender a dúvida em questão.

ᵇᵒʳⁿ ᵗᵒ ᵈⁱᵉ | 𝐒𝐚𝐥𝐭𝐛𝐮𝐫𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora