Capítulo dois: Tsukishima Kei, ex amigo

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Yamaguchi Tadashi

"Eu quero ser maior, eu quero ser melhor, me quero mais bonito
Eu quero estar contente, mas eu simplesmente não consigo."
-Triste pra sempre, Jão

Caminho pelas ruas, desviando das pessoas, segurando sacolas pesadas e repletas de comida. Está frio pra caralho, por isso uso uma touca por baixo do capuz e fones de ouvidos sem fio, o celular guardado no bolso da frente da calça que uso, uma blusa dois números maiores do que eu realmente uso e por cima o casaco. No fone toca imaturo do Jão, um dos meus cantores favoritos atualmente.

Passei boa parte do meu dia andando pra cima e pra baixo, sem descanso algum, comprando coisas e mais coisas. Ainda preciso ir até o colégio para me matricular pois eu me recuso a perder o ano por causa da merda de uma mudança repentina.

Respiro fundo e solto o ar com calma, enfio outro quadradinho de chiclete na boca e sigo mastigando, tentando enganar meu estômago vazio. Eu deveria ter comprado algo para comer na padaria perto de casa, ainda tenho um dinheiro guardado do meu último pagamento. E com esse pensamento, lembro-me que preciso arranjar um emprego novo o mais rápido que puder. Depender do meu avô para ter dinheiro seria o mesmo que esperar uma causa na justiça sair. Ou seja: eu não veria o dinheiro nem tão cedo na minha mão.

Entro na última loja do dia e compro cobertas, travesseiros e lençóis de cama. Meu avô não vai ter que reclamar de frio na minha cabeça por um bom tempo porque todas as cobertas compradas são extremamente quentes e confortáveis.

Mesmo que aquele velho de merda sempre arruma algum motivo para reclamar de algo.

Só de pensar que assim que chegar, terei que começar com a maldita faxina dentro daquela casa já me causa arrepios. E é arrepios de nojo, não de frio.

Me sinto a Cinderela, só que sem as irmãs e a madrasta malvada. Apenas com o avô fodido das ideias e que adora me explorar.

✨️

O caminho de volta pra casa é calmo, devagar, e com a cabeça em diversos pensamentos. E todos, sem exceção, voltam diretamente a uma única pessoa: Tsukishima Kei. Me pergunto se ele me reconheceu ontem ou se achou que fosse alguém alugando ou comprando aquela casa.

Bom, não que o meu eu de agora tenha mudado tanto do meu eu de sete anos. Estou mais alto e talvez mais magro? Sim, mas não acho que mudei tanto fisicamente. Meu cabelo está mais longo, admito, mas.. não é necessário para que uma pessoa não reconheça a outra, certo?!

Ou talvez ele apenas não tenha se importado com a minha volta. Por que ele se importaria!? Eu sumi, não mandei nenhuma mensagem - e não que eu tivesse celular na época ou Internet -, ou uma carta.. mas ele também não fez nenhum esforço para vir atrás de mim. Digo, se ele estivesse com raiva por causa disso, sabe?

Prefiro a primeira opção: a que ele não me reconheceu. Por mais que isso me machuque, porque eu o reconheceria até de longe.

Tsukki está mais alto, mais velho. Mas continua o mesmo.. fisicamente. Não sei dizer se o corpo está mudado, ele estava usando calças largas e um casaco por cima, então não conseguia ver muito. Mas os olhos.. pareciam diferentes. Gélidos. Distante. Sem vida. Antigamente costumava existir um brilho neles que eu sempre considerei ser de outro mundo. Diferentes, bonitos e chamativos. Igual o sol. Dourados e brilhantes.

Mesmo sendo uma criança, eu sempre fui fissurado por aqueles olhos. Era o que mais tinha a minha atenção.

Sinto falta dele.

E pensando direito agora, me dando ao luxo de pensar em Tsukki, percebo que continuo o mesmo de antes enquanto ele.. ele ficou mais bonito do que já era.

Te amo, idiota - Em pausaOnde histórias criam vida. Descubra agora