Capítulo 4

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Coletamos muitas pistas hoje. A fazenda Bom Lugar é imensa, há um pouco mais de verde na propriedade do que nos arredores, ela é cercada de árvores frutíferas e possui dois grandes açudes nos fundos. O casarão herdado por Heitor, como um presente de casamento de seu pai, possui dois andares, imensas janelas e um grande alpendre. Heitor era mais rico do que imaginava. Pelo que me contou, o seu pai, além de ser juiz, possuía uma grande fazenda de algodão e tinham forte influência na cidade. Ele revelou ser um grande amigo do prefeito e me aconselhou a oferecer os meus serviços a ele, já que a pressão para encontrar o suposto "maníaco" aumenta a cada dia. Foi bom ouvir isso. É sempre bom ter ajuda das autoridades nesses casos.

Após uma longa conversa, Francisco foi se ocupar com as suas obrigações diárias (se é que ele conseguiria trabalhar com tanto álcool que tomou) e mandou um de seus empregos, um tal de Matias, nos guiar pela propriedade. Era um sujeito reservado, bruto, sisudo e um tanto mal-encarado, mas não nos tratou mal, ou só não teve a oportunidade. Ele nos levou até os fundos do casarão, onde encontramos uma mulher de avental, chamada Maria, gritando à procura de um jovem chamado Eliseu. Segundo a mulher, o jovem estava sumido há horas, mas Matias não se importou. Segundo o que nos contou, Eliseu, o filho da empregada, não batia bem da cabeça e vivia sumindo por aí. Pedimos uns minutos à mulher, para que pudéssemos interrogá-la. Ela aceitou e nos levou à cozinha, onde panelas de barro no fogão exalavam um delicioso aroma de galinha cozida. Ela nos serviu um café e nos contou tudo que sabia. Lembro de tudo que ela disse.

— Eu pensei que fossem falar sobre o maníaco, senhores? — Disse ela, um pouco confusa, quando lhe perguntei se ouviu algum uivo esquisito.

— E estamos, senhora. — Digo — Só achamos que pode ter algo a ver com o caso. Mas recapitulando o caso, você ouviu algo?

Ela nos olhou incrédula.

— Seu patrão acredita — disse Jônatas sorrindo.

— Não, eu não ouvir nada — Responde ela retribuindo o sorriso do meu amigo. — Mas confesso que estou muito assustada com tudo que anda aconteceu. Graças a Deus, o meu filho, Eliseu, dorme no mesmo quarto que eu, senão não pregaria os olhos a noite.

— E por falar no seu filho, onde ele está?

— Em algum lugar por aí. Ele ama dar umas fugidas — Disse, cabisbaixa, mexendo a panela com uma colher de pau. — Ele gosta de ir à cidade, mas graças a Deus, ele sempre chega antes do sol se pôr. Eliseu tem problemas mentais de nascença. É muito difícil cuidar dele. Como agora, por exemplo, eu não posso deixar as panelas no fogo e ir atrás dele. Tenho que trabalhar para sustentar nós dois, mas patrões são muito bons para mim. Tenho medo de ele aprontar alguma coisa um dia desses, mas, felizmente, o seu Francisco é muito compreensível. Ele até se ofereceu para financiar um tratamento para o meu filho, o médico da cidade veio aqui a mando dele, o doutor aconselhou mandar meu filho para uma clínica especializada nesse tipo de caso. Mas não tive coragem de mim separar do

meu filho. E, além disso, ouvir falar de tratamentos desagradáveis feitos nesses lugares. Não poderia estar com meu filho nesses momentos e não sei se conseguiria se adaptar.

— Entendo perfeitamente, senhora. Doenças relacionadas a mente sempre são mais difíceis de se cura. A medicina ainda precisará evoluir muito para conseguir tal feito. Bem, acho que a ocupamos demais. Precisamos conversas com os outros empregados, com licença.

Nos despedimos e fomos atrás de Matias. Ele nos levou até alguns peões que dizem ter visto o bicho. Conversamos individualmente com eles. Para termos uma descrição fiel, todos descreveram um bicho grande, preto, de olhos vermelhos, que andava com quatro patas. O que não me surpreende, essa espécie é comum no Nordeste.

 O que não me surpreende, essa espécie é comum no Nordeste

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