Capítulo 3

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Desvio o olhar do garoto misterioso e retorno o olhar para Laila.

— Botei fogo na minha antiga escola. - Respondo a cacheada.

— Quando crescer quero ser igual a você. - Taylor diz e todos dão risada, inclusive eu.

Conversei bastante com o pessoal, mas Donna me puxou para vir pegar meus uniformes. Entro na secretaria e me entregam um formal do dia a dia, o de educação física e o de...trabalho coletivo? isso aqui estava bom demais.

— Ah, temos trabalho coletivo todas quartas - Donna explica olhando meu rosto de desentendimento - Temos aulas normais na segunda, na terça temos etiqueta, na quarta trabalho coletivo, na quinta esportes e na sexta, se estivermos comportados, Teatro.

— Até que não é tão ruim - digo impressionada - colocavam uma fama exagerada nesse lugar.

— Bom, acredito que aqui tem sim suas partes obscuras - Donna diz entrando em nosso dormitório - Aqui tem um porão que alguns são levados, normalmente os que mais dão trabalho. Os que tentam fugir ou desobedeçam alguma ordem, sempre voltam com a cabeça embaralhada.

Olho com interesse para Donna e ela continua.

— O que mais fica lá é o Schneider, ninguém sabe muito sobre ele, só sei do passado dele por ele ser meu amigo de infância, se é que posso chamar de amigo.

Schneider ?

— Quem é esse ? - Será o menino do
refeitório?!

— Você vai conhecer ele hoje na festa do Mayllon! ele sempre está em todas. - Diz Donna empolgada.

— Festa do Mayllon? - digo e a olho com uma careta. Estava planejando fugir essa noite.

— Sim, você vai comigo. E não aceito não como resposta! - acesso que sim.

— Só não tenho certeza se tenho roupa para um evento desse, não esperava festas nesse...lugar. - digo pensativa.

— Relaxa amiga! eu te empresto algo, vai ficar perfeito nesse seu corpinho! - Donna sorri.

Eu colei alguns pôsteres na minha parede , apesar de ter planos de fugir, acabei achando alguns na minha mochila e resolvi usar.
Donna realmente gosta de festas, ela ficou a tarde falando com as amigas e planejando cada mínimo detalhe, acho que as vezes ela esquece de aonde está.

A festa seria às dez, fiz um babyliss no cabelo, coloquei um corset vinho, uma saia de couro e um coturno. É, eu sei, quem trás essas coisas para um lugar desse? Só a Donna mesmo.

Às dez e vinte eu e Donna saímos do quarto, chegamos no dormitório masculino e conseguimos fazer isso passando por dois guardas sem ambos se quer nos ver, acho que ela costuma fazer muito isso.

A tal festa tem muita bebida e muita droga, não faço ideia de como eles conseguem isso, mas achei legal. Tem umas pessoas bonitinhas, legais, mas quem eu aguardava pesar o olhar novamente ainda não havia chegado.

— Blake? - escuto uma voz chamando, quando olho para trás vejo Taylor me chamando e o resto do pessoal em volta, em circulo. - chega mais!

Ando em direção ao pessoal, me sento em um puff.

— Eai, gente! - digo acenando para ambos.

— Está curtindo? - pergunta Jien.

— Ah, estou sim. - afirmo para o garoto, mas passando meu olhar pelo lugar, ainda em procura - Então, vocês ainda não me contaram o que fizeram para vir parar aqui.

— Bom, eu e Taylor acabamos fugindo juntos e roubando algumas lojinhas, coisa pouca. Meus pais surtaram, os dele também e acabamos aqui. Pelo menos sempre juntos. - Maddison começa contando.

— Eu  hackeei a Ita. - Diz o ruivo, Jien.

— Eu roubei o carro dos meus pais e fui curtir o quatro de julho com meus amigos, mas acabou que fomos para Ibiza ilegalmente. - Diz Laila.

— Eu esfaqueei meu ex namorado. - Diz Donna. A olho com um olhar intrigado, mas com humor. - Ele era tóxico. - Dá de ombros.

Todos respondem, menos...Thomas.
Me viro para o garoto, ele possuía um cigarro entre seus dedos, e fumaça saindo entre seus lábios.
Eu já havia reparado que ele é mais calado, mas resolvi questionar, até por que, apesar de não falar muito, vejo seus olhares em mim.

— E você ? - pergunto ao garoto que usara moletom.

— Matei meus animais de estimação. - O garoto responde. Mórbido.

Deus me livre, perdi todo mísero interesse.

Me vi perdida entre meus pensamentos, tanto que nem notei quando a porta foi aberta, só vi quando ele já estava chegando perto, quando ele estava perto.

Não sei como foi possível, em tantas poucas vezes em um ambiente juntos, mas já consigo reconhecer a sua áurea pesada, obscura.
Acredito que seja também por não conhecer ninguém como ele até hoje, na verdade nem sei se posso dizer "conhecer", até agora seus olhos pretos e profundos são um mistério, e sua boca rosada uma questão.

Seu olhar para em mim, ele caminhava para mais perto, para...mim?
O garoto passa ao meu lado, consigo sentir o ar batendo mais forte, seus passos mais barulhentos. Vejo o ar ficar mais pesado, parece que os minutos se transformaram em segundos e...em nada.

— Acho que você está com uma babinha aqui - Diz Donna rindo.

— O que ? - digo anestesiada.

O garoto, ou posso dizer, Schneider, se senta em um espaço entre a roda, todos o cumprimentam, Schneider me encara. Todos da roda percebem a tensão, então Donna começa a falar, me despertando.

— Schneider! essa é blake - Donna diz mesclando seu olhar entres nós dois.

— Prazer, blake. - indaga o garoto.

que voz é essa ?
meu deus.

Nunca vi uma voz combinar tanto com alguém, na verdade, acho que coloquei até menos expectativa. A voz do garoto, era forte, mas não de um jeito arrogante, era calma, mas com poder, autoritária.

— Prazer, schneider.

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