Eu conheço minha nova casa

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Quando eu era criança, eu achava que, quando eu crescesse, eu me tornaria um adulto rico, gostoso e bem sucedido, e eu até tinha feito um plano de como fazer tudo isso, mas hoje eu sei que era um pouco irreal a minha ideia de me casar com a Maísa e roubar o dinheiro dela. Acontece que agora, na casa dos vinte, o que eu menos fiz foi crescer e ganhar dinheiro, mas pelo menos passei a voar mais baixo, já que sou mais acostumado a estar perto do chão e a queda é menor.

Desde adolescente, eu me sinto deslocado no lugar onde moro. Estar em uma cidade pequena e caipira é calmo, interessante, mas não é o que eu preciso... eu não posso passar a minha vida inteira morando em um canto que sempre que eu digo o nome, tenho que falar o estado que fica e alguma cidade mais importante que esteja próxima, e geralmente, nem assim alguém conhece. Sim, eu estou falando de Ijuí, e sim, meu maior sonho é sair de cá e ir pra outro canto, andar com minhas próprias pernas. Eu achava que eu faria isso sozinho, mas no meu primeiro ano de ensino médio eu conheci a minha melhor amiga, a Evie. Ela é uma guria bem peculiar, tem gostos questionáveis e uma fascinação por japoneses consideravelmente perturbadora, mas é muito legal e eu a amo muito. Ela foi a única que falou comigo quando eu entrei naquela bomba de escola, e eu acho que eu também fui o único a falar com ela, mesmo ela já sendo aluna há uns dois anos. De qualquer forma, a gente se entendeu muito bem, gostávamos de coisas parecidas e de quebra, ela também queria sair de Ijuí, mas diferente de mim, ela tinha planos mais consistentes. Ela me falou sobre a Academia Mulberry, uma universidade super requisitada que tinha um modelo diferente: você poderia estudar qualquer matéria que quisesse, pelo tempo que quisesse (e pudesse pagar), e poderia tomar o tempo que precisasse até escolher um curso sem perder a vaga. Basicamente, a gente podia testar diversas áreas até de fato entrar em uma específica, e isso é incrível... me disseram que é um modelo americano, mas eu acho que o nome é pura coincidência. A única coisa que me deixava em dúvida se eu tentava ou não era o fato dessa faculdade ficar em Garanhuns, em Pernambuco. Apesar de ser uma cidade mais conhecida que Ijuí, eu ainda sairia do meio do nada pra ir pro cu do mundo, então eu não sei se queria... mas aí eu conversei com meus pais e eles me disseram que a ideia era ótima, não sei se eles querem me ver longe pra poder me dar outro irmão ou se querem que eu tenha um futuro legal, talvez os dois. Então, eu e Evie nos dedicamos durante todo o ensino médio pra poder prestar o vestibular para Mulberry, o que não foi algo fácil, mas acho que mandamos bem.

A prova foi há 2 meses, hoje sai o resultado. Eu estou sentado na frente do computador, enquanto a Evie está deitada na minha cama brincando com a Cacau, minha gata. Nós decidimos ver juntos, porque se um não passar, o outro ajuda a criar uma conta no Only Fãs ou Privacy pra tentar ficar famoso vendendo vídeos de amor intenso. Esse é o segundo plano dos dois.

- Bah, Lucas, que horas que sai o resultado? Tô cansada de esperar. - Evie bufa em cima da minha gata.

- Para de ser apressada, guria, nasceu de 7 meses? Sai meio dia, faltam cinco minutos. - Respondi e tirei minha gata do colo dela.

- E se a gente não conseguir? - Ela se senta, me olhando com preocupação.

- A gente vai conseguir... eu acho... - Também estou preocupado, mas eu sou o macho aqui, tenho que ser forte.

- Mas e se a gente não conseguir? - Ela insiste.

- Daí a gente grava collab pros nossos perfis do Only Fãs. Aposto que vão amar olhar um twink tomando tapa na bunda de uma garota que tem "Nijiro" tatuado na barriga. - Brinco, e ela me dá um tapa.

- O dildo que eu vou usar pra te comer também tem o nome dele tatuado.

- Pra que você tatuou o nome do Nijiro em um negócio que você enfia na... ah, entendi. - Os pensamentos que estão na minha cabeça me assombram.

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