20 - Anjo bom.

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Fiquei boa parte da madrugada pensando naquele beijo. Isso contribuiu para que meu sono não chegasse tão cedo. Eu virava para o lado, me via a mente o sorriso de Adrien; virava para o outro, vinha os resquícios daquele beijo.

Era como se eu estivesse cercada por ele e embora eu tenha tentado colocar isso na minha cabeça, - negando até a morte -, o beijo dele é muito bom.

- Eu preciso esquecer isso. - Mirei meu olhar para o teto e suspirei. - Meu foco é a academia, estúdio de dança! Nada além disso e você sabe o porquê. - Me relembrei. Eu precisava as vezes ser dura comigo mesma para cair na realidade.

Eu tinha um péssimo histórico com homens. O meu ex-namorado me traiu com a minha melhor amiga. E não foi só a traição dele que me magoou tanto: foi a intimidade que tínhamos, a confiança que ele conseguiu conquistar de mim... tudo isso nem passou pela cabeça dele quando ele decidiu estragar tudo isso.

Fico pensando no quanto eu poderia significar para ele, no quanto ele dizia que eu significava para ele, mas por que ele não pensou nisso nenhum segundo sequer antes de jogar todo esse amor fora?
Eu não consigo entender e jamais entenderei por quê entreguei meu coração para ele e aconteceu tudo aquilo. A verdade é que eu me recusava acreditar em um homem novamente porque eu tinha medo. Medo de ser machucada novamente. Medo de não ser levada á sério. Medo de ser traída, medo de amar novamente.

Ontem ele quase me estupra. O Adrien me salvou, como sempre. Ele era para mim um anjo bom. Poderia ter seus mil defeitos, mas pelo menos era alguém que sempre aparecia quando eu precisava.

Isso era bom.

[...]

No sábado eu acordei mais tarde do que previra. Na verdade só acordei mesmo com as batidas na porta do meu quarto.

Esfreguei os olhos e a abri, vendo o meu irmão ali, me olhando com o cenho franzido.

- Como você está? Posso entrar? - Fiz que sim e ele entrou, se sentando logo na minha cama.

- Estou bem. Quer dizer, eu jamais poderia sonhar que ele tentaria uma coisa daquelas comigo. Logo ele! - Dei de ombros e fui até o banheiro, no intuito de escovar meus dentes e jogar uma água no rosto.

- É aí que você se engana. - Escutei ele dizendo. - Você sempre espera o bem das pessoas, você acha que as pessoas sempre serão boas com você, sempre terão que ser boas com você... mas Rebeca, você sabe que não é bem assim! Se der confiança á elas, vão perceber que era melhor não ter confiança. Você confia, e elas te machucam. - Suspirei, enquanto me olhava no espelho, NOTANDO, naquele instante o enorme hematoma roxo em meu pescoço.

Eu arregalei os olhos imediatamente e cobri o pescoço com a mão. Como meu irmão não tinha visto aquilo? Olhei de um lado para o outro e peguei uma toalha, colocando no pescoço. Eu precisava urgente expulsar meu irmão do quarto e dar um jeito naquilo.

- Você sempre ta certo. - Disse, desconfiada. - Não sei o que poderia ter acontecido se Adrien não tivesse chegado lá.

- O quê? O Carl Adrien?! - Fiz que sim. - Ele foi de suma importância. Somos amigos desde a adolescência, mas você... você sabe. - Me olhou de rabo de olho.

Fiquei com o coração na mão e com uma pontada de culpa por não ter cumprido a única coisa que o meu irmão já ousou me pedir.

- Eu sei. - desviei o olhar para alguma outra coisa para que ele não soubesse que eu estava mentindo.

- Você o agradeceu? - Minha cabeça estava tão cheia que nem sequer pensei em agradecer pela atitude maravilhosa que ele teve comigo. Será que eu só conseguia pensar em mim mesma e esquecia dos outros?

- Não, mas da próxima vez que o vir, vou agradecer.

- Ele estava aqui ontem, mas você quase nunca aparecia. Talvez não viu ele. - Seus dedos contornavam as flores da colcha da minha cama.

- Foi isso, então.

Alex se levantou e esticou as costas. Eu poderia dizer que as pessoas e atacavam nas ruas, que pensavam que eu queria roubar a fama dele, que eu era metida e arrogante por causa dele, mas não quis encher a cabeça do meu irmão com tanta baboseira.

Eu poderia lidar com aquilo por um tempo. Por ora, era nelhor que ele não soubesse de nada.

- Tenho que ir. Passei somente para vê-la. - Deu de ombros e caminhou até a porta. Fui atrás. - Gostaria que soubesse que estou aliviado por nada ter acontecido com você, e que me preocupo demais com você para deixá-la voltar da academia sozinha. Vou providenciar algo. Não quero passar pelo perigo que você passou ontem, Rebeca. - Olhei para ele. Meu irmão era a coisa mais preciosa que eu tinha nesse mundo. Ao olhá-lo, eu poderia discernir esse amor que eu sentia por ele, um orgulho imensurável, um paixão de irmãos.

- Pode ser. Estou aflita e amedrontada. - Confessei. Alex abriu os braços e eu me joguei neles. Ficamos em silêncio por uns instantes, mas eu podia até entender o que ele estaria querendo me dizer: dizer que sempre estaria lá por mim, que ainda que toda a riqueza do mundo chegasse aos seus pés, eu seria a maior preciosidade dele.

•••
Seguinte...

Como Consertar Meu Coração.Onde histórias criam vida. Descubra agora