Eu nunca me queixei do trabalho que tinha, mesmo não sendo a carreira que eu gostaria de seguir em minha vida inteira. Contudo, não posso negar que, apesar do cansaço diário, eu gostava do que fazia, pois era uma maneira de estar perto do clube que amo!
Corinthians era tudo que eu tinha de mais precioso, acima até mesmo de grande parte do meu parentesco, afinal, o time não saia falando mal de mim por aí, pelas minhas costas.
Conseguir trabalhar aqui, mesmo que não na vaga dos meus sonhos, era sim uma grande conquista, e de certa forma me sentia realizada por isso.
Faltava cinco para seis horas da manhã e eu já estava no CT. Chegava sempre em volta das quatro e quarenta, isso porque morava longe e o metrô era um inferno. Meu trabalho era limpar tudo antes que os jogadores chega-se no ambiente. E passava o resto do dia ali, para limpar o resto da bagunça.
Não era fácil, obviamente. A vida de CLT é humilhante, mas o desemprego é triste e não me dar a grana que preciso para concluir meu Curso. Então, a primeira opção parece-me mais vantajosa.
É trabalhando aqui, que percebo o quão a vida é injusta. Enquanto uns tem tanto e não fazem, outros tem tão pouco e dão a vida. E é por isso que tenho raiva de grande desses jorgadorizhos meia boca.
Odeio a falta de vontade de grande parte ao entrar em campo. Caralho, vocês estão ganhando um milhão por mês, custa correr? Tentar? Se esforçar um pouco?
Com um milhão de reais eu saia andando nua por aí, gritando a quatro ventos que sou uma Tartaruga Ninja.
Deixei os pensamentos de lado quando vi a luz do dia resplandecer pelas vidraças. É, já estava a ficar tarde! Preciso adiantar o meu serviço, para não levar sermão.
Estava ajoelhada no chão, esfregando vigorosamente o piso. Meus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo alto, e uma mecha rebelde insistia em cair sobre meus olhos.
Suspirei, afastando o cansaço e concentrando-me na tarefa. Era um trabalho solitário, mas eu gostava da tranquilidade. A sala estava quase impecável quando a porta se abriu abruptamente.
Quem era tão cedo?
Direcionei os olhos a minha frente o vi entrar, sempre com o mesmo ar de sempre; calado, fones no ouvido, shorts de treino e uma camisa do Corinthians, boné e o semblante fechado; Igor Coronado.
Meu corpo acelerou, como se estivesse virado um copo de energético a garganta a baixo. Ligeiramente lembrei das mensagens em que lhe mandei, e as que ele respondeu.
Não me arrependo! Faria tudo de novo se fosse preciso, ele merece isso e um pouco mais. Inútil.
O homem adentrou a sala, pisando fundo, observei os tênis sujos de terra e grama. Eu parei por um momento, observando incrédula enquanto ele caminhava pelo chão recém-limpo, deixando rastros de sujeira por onde passava. Senti meu sangue ferver de raiva
- Você só pode estar de brincadeira! - exclamei, levantando-me rapidamente.
Coronado parou no meio da sala, surpreso. Seus olhos castanhos encontraram os meus, e por um breve instante, o tempo pareceu parar. Havia algo nos olhos dele, uma intensidade que me fez hesitar, talvez seja pelo o ódio que sinto.
- Desculpe, eu não vi que você estava limpando - ele disse.
Apertei os lábios, segurando a vassoura com mais força do que o necessário.
- Claro que não viu. - retruquei, meu tom cheio de ironia.
Achei que o problema dele era só nas pernas, estão vendo que olhos também é um problema.
Coronado levantou uma sobrancelha, aparentemente surpreso com meu posicionamento.
Ele olhou ao redor, avaliando a sujeira que tinha acabado de espalhar. O silêncio entre nós se estendeu, carregado de uma tensão que eu não conseguia ignorar. O olhar dele não era apenas de surpresa, mas também de desconforto, como se estivesse refletindo sobre o impacto das suas ações.
- Olha, eu realmente não queria causar mais trabalho para você - ele começou, seu tom mais suave, como se tentasse se redimir. - Vou limpar isso.
Ele se abaixou e pegou o Pano de Chão, próximo e quando estava prestes a se agaixar, eu retirei-o de suas mãos.
- Não precisa, esse é o meu trabalho.
Deus me livre arriscar perder meu emprego por causa dele. Limparia no ódio, mas limparia.
- mas eu sujei, eu limpo.
Ele tentou pegar o pano de novo, mas eu não deixei. Meu olhar estava tão afiado quanto um fio de navalha.
- Não precisa, eu já disse. - fui mais firme que antes e o vi recuar. Então, o homem agaixou e retirou os sapatos, me deu a última olhada e saiu. Para onde? Não faço a mínima ideia, e pouco me interesso em saber.
A única sujeira que eu queria que ele limpar-se, ele não tem capacidade de limpar. Então me interessa! O time continua na Lona, e isso já é o suficiente para deixar-me de saco cheio.
Após a saída de Coronado, eu permaneci ali, imóvel por alguns instantes, tentando acalmar meu coração acelerado e a raiva que ainda fervia dentro de mim. Voltei a esfregar o chão com vigor renovado, como se cada movimento fosse uma forma de descarregar a frustração.
O tempo passou lentamente. A sala finalmente estava limpa e pronta para receber os jogadores. Olhei em volta, satisfeita com meu trabalho, e dei um último suspiro antes de pegar meus pertences e me dirigir ao vestiário para guardar os materiais de limpeza.
Co-autora: Flaviia1296
A Sabrina é uma fofa, graças a Deus 🤡
Mas não irei julgar, a indignação dela em relação ao time, é igual a minha e talvez a sua. Ninguém aguenta mais as coisas que acontecem nesse time.
Lamentável.
Mas e você? O que achou do cap?
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𝙼𝙰𝙻-𝚀𝚄𝙴𝚁𝙴𝚁 // Igor Coronado
FanficOnde Igor Coronado começa a receber hater de uma desconhecida que o detesta e lhe culpa pela fase do seu time de coração.