Na terceira noite, após mais um longo dia em que a delegada não havia lhe direcionado a palavra nem lhe enviado uma mísera mensagem, Verônica decide acabar com aquilo.
Anita pula de susto no banco do carro ao vislumbrar Verônica ao lado da janela. Sua postura era rígida e tinha os braços cruzados por baixo do grande moletom preto. Faz um sinal apontando para o lado do passageiro, onde se direciona, adentrando o veículo quando Anita o destrava.
- Você não fala comigo na delegacia. Mal olha pra mim. Me ignora e eu não sei o que fiz.
Anita olhava pra frente e tinha seu coração na garganta. Não esperava aquela abordagem naquele momento, mas admitia que ansiava por ela. Era muito boa em gerar conflitos, mas não sabia como resolvê-los. Teve muito tempo para pensar e não achava que pedir desculpas fosse suficiente, além do que, isso não apagaria o modo como havía falado com sua escrivã. Por isso fugia de qualquer contato, não sabia como fazê-lo.
Mesmo que aquele abismo estivesse a arrastando pra dentro e consumindo cada dia mais.
Já não se sentia tão culpada pelas palavras ardilosas de Carvana ou qualquer um. Permitiu-se sentir novamente abraçada pelo que sentia por Verônica. Permitiu-se ser abraçada pelo amor que batia novamente em sua porta, ou janela.
- Mas continua vindo aqui todos os dias. Eu realmente gostaria de ter minha Anita de volta. É horrível receber olhares tortos depois de assumir um relacionamento com você e não tê-la comigo. Tê-la tão perto e tão longe. E eu sinto que estou fazendo um monólogo agora - Suspira frustrada. Vira o rosto para encarar a delegada que a fita de volta lentamente, quase como se tivesse vergonha.
- Eu não sei fazer as pazes - Confessa baixinho.
- Eu não sei suas motivações e já te desculpei, mas eu preciso que se abra comigo, preciso que me deixe entrar. Não é confortável ficar do lado de fora sozinha.
- E se você não gostar do que vai ver? - Pergunta num fio de voz.
- Então lidaremos com isso juntas. Se faz parte de você, vale a pena lutar por isso.
- Como pode ter certeza? - Seu olhar era vacilante, quase piedoso.
- Porque eu acredito em você, mesmo que todos tentem me dizer o contrário. Não é o que meu coração diz e sente.
Os olhos de Anita marejam assim como os seus e Verônica a puxa para um abraço repleto de saudade. Como era maravilhoso tê-la em seus braços novamente.
O abraço só é interrompido para que pudesse grudar seus lábios numa troca necessária. A língua de Anita tocava a sua com adoração, como sempre, mas com um pouquinho mais de intensidade cultivada pela saudade. Enche o rosto de Verônica de beijinhos afoitos, puxando-a para um abraço apertado outra vez.
- Eu não mereço o seu afeto...
Sua voz não era mais que um sussurro.
- Não sou eu quem deve decidir isso? - Pergunta carinhosamente, como se falasse com uma criança, afastando-se novamente para encará-la envolvendo o rosto delicado entre as mãos - Você precisa entender que eu estou aqui porque quero e porque sinto reciprocidade, do contrário nós não estaríamos acontecendo.
- Desculpe... Desculpe por ser... Uma pessoa tão complicada.
- Não acho. Acho que você é alguém que já deve ter passado por coisas difíceis e isso te fez mais forte.
Novamente a delegada era atingida por uma onda de afeto. Havia alguém que acreditava tão fielmente nela e no que poderia ser. E isso era reconfortante quase como um farol em meio ao maremoto agitado e escuro.
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Senses - Veronita
RomanceDizem que entre o ódio e o amor há um fio de conversação. Ambos são intensos e afetam os sentidos, mas quando esse diálogo acontece entre a boca e o coração, tem-se o desejo desenfreado. Verônica e Anita ainda não sabiam, mas colocariam essa teoria...