Vagalumes

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Me recordo vividamente de uma noite especial, um daqueles momentos que se agarram à memória.

Era uma noite estrelada no sítio onde vivíamos, meu pai decidiu apagar todas as luzes do barracão.
A lua cheia lançava seu brilho prateado sobre nós, e o céu estava pontilhado de estrelas cintilantes. Lembro-me dele dizer que veríamos algo mágico naquela noite.

Ainda consigo ouvir o som dos sapos ecoando suavemente quando fecho os olhos. A memória é algo poderoso. Posso sentir o cheiro do capim do pasto onde os bezerros ficavam, separados de suas mães que descansavam nos fundos do velho barracão.

A alguns metros dali, no meio da relva espessa, havia uma campina de pastagem, longos fios de braqueara dançavam ao vento, ali também erguia-se uma velha aroeira, com sua copa gigante que, aos meus olhos de criança, parecia uma enorme cabeça de cebola. Eu devia ter uns dez anos ou menos naquela época.

E então aconteceu: a mágia prometida se revelou diante de nós.

Centenas de vagalumes começaram a piscar na velha aroeira.

Era como se uma lâmpada mágica tivesse sido acesa, transformando a árvore em uma magnífica versão de Natal, com suas luzes piscando em sincronia. Eu estava maravilhada, extasiada pela beleza daquela cena.

Me lembro de prender o fôlego, era tanta beleza que eu não conseguia sequer respirar.

Minha infância foi marcada por momentos como esse, cercada pela natureza e pela simplicidade do campo. Tenho muitas memórias daquela época e quando elas surgem meu coração explode de alegria e também de saudade.

Apesar das dificuldades que nossa família enfrentava, nunca nos faltou amor naquela pequena casinha do sítio recanto sonhado.

Esta lembrança, agora revisitada, trouxe à tona um misto de nostalgia e preocupação.

A notícia de que os vagalumes estão desaparecendo me tocou profundamente.

Num instante, me vi teletransportada de volta àquela noite, vendo os vagalumes dançando entre as folhas da velha aroeira, cada um deles piscando como pequenos faróis de esperança.

Aquela árvore, com sua copa que parecia uma cabeça de cebola gigante, era um santuário de luzes vivas, uma cena que agora parece cada vez mais rara.

Escrever sobre isso se tornou uma necessidade.

É como se eu estivesse tentando capturar um fragmento da minha infância, um tempo de magia e inocência que está desaparecendo junto com os vagalumes.

Que essas memórias não se percam, que possamos preservar não apenas as lembranças, mas também a beleza frágil da natureza que nos cercava naqueles dias felizes.

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