Whore.

12 0 0
                                    

ATENÇÃO AOS GATILHOS: O CAPÍTULO A SEGUIR RETRATA ABUSO FÍSICO E PSICOLÓGICO. SE TAIS ASSUNTOS TE ENGATILHAM, EVITE FAZER A LEITURA E PRESERVE A SUA SAÚDE!

DEIXO CLARO QUE NÃO COMPACTUO COM NADA ABAIXO, APENAS ESTOU REPRESENTANDO A RELAÇÃO DE PERSONAGENS FICTÍCIOS DE UMA OBRA FICTÍCIA, NADA É REAL!

|

Eu estava feliz vivendo na casa dos Torrance, pois era assim que meu irmão dizia que eu deveria me sentir.

Feliz e grata por um teto, por ele ter me comprado para viver escondida nas sombras de seu quarto e daquela enorme casa.

Cresci nas sombras das paredes, fria, com a sua ideia de amor de abraços que duram segundos e a extrema necessidade de me prender em seu quarto, em seus braços.

Sua ânsia por controle, o perigo que seria eu sair pelas ruas sozinha, me aproximar de seus amigos, conhecer um garoto. Falar com estranhos poderia me levar a paixão, perda de cabaço e um coração partido. E isso me tornaria uma vadia, uma puta.

Afinal foi disso que você me chamou quando me encontrou nas catacumbas com seu amigo Kai na Noite do Diabo. Ali, diante de seus olhos, tão próxima de seu amigo, eu não passava de uma puta.

Baixei os olhos, envergonhada demais para encarar você, para enxergar meu reflexo em suas íris escuras e visualizar as chamas de sua ira crescentes em seu olhar.

Naquela noite eu fugi de Kai, o choro preso na garganta já sabendo o que me esperava assim que você chegasse em casa. Eu tomei um banho frio, sentindo-me impura, indigna, repugnante e me vesti com algumas peças de roupas velhas suas.

Me aninhei em sua cama, em seus lençóis e cobertores, pegando em um sono calmo. A calmaria precedente da tempestade que foi vê-lo chegar de madrugada.

Bêbado, chapado e principalmente, irado comigo. Por desobedecer suas ordens assim como uma criança teimosa e ingrata. A culpa me corroeu quando senti o peso de seu duro olhar cortante sobre mim.

Quis desaparecer, envergonhada, tomada pela vergonha. E mais uma vez fui chamada de puta e ofensas pesadas. Me fazendo questionar a minha lealdade e bondade. Meus olhos marejados, eu chorei em silêncio enquanto o ouvia xingar e sentia as suas agressões.

Eu não era boa o bastante?
Mesmo depois de tudo o que fazia para si, mesmo depois de infligir dores em si para que ele substituísse a dor psicológica pela física?

Eu que fazia os seus deveres e estava em seu quarto sempre que ele chegava da escola, tarde da noite do Diabo ou qualquer outro compromisso com seus amigos.

Eu era mesmo tão terrível assim para o meu próprio irmão? Quando tudo o que eu queria era ser a sua irmãzinha. Tudo o que eu tinha era ele. Ele nunca teve apenas a mim, mas seus amigos também.

No entanto ele me prometia uma casa grande para nós dois assim que ele houvesse finalizado a faculdade, teríamos uma vida juntos. Sozinhos.

No entanto, eu o fazia mal. Eu era repugnante, seu estômago embrulhava ao me ver experienciar um pouco da vida de uma adolescente da minha idade.

Eu era pura, bonita e havia me contaminado. Isso fazia de mim uma puta, vagabunda e ele veio para cima de mim, me fazendo chorar feito bebê. Naquele momento eu senti medo de meu irmão.

Quis abraçá-lo, mas fui afastada como um inseto irritante. E tudo o que eu fiz foi chorar, encolhida no chão, sentindo o cheiro de sangue e algo escorrer de minha face.

Eu dava a ele todo o meu amor, minha atenção, meus ossos, minha frágil carne e meu sangue. No entanto, a carne ele feria, meus ossos já haviam enfraquecido e meu sangue aumentava a sua sede.

Ele ingeria a carne machucada, empilhava meus ossos feito castelos de cartas e pintava obras de sua vida com meu sangue, mas a carne se revirava em seu estômago, causando a ele intoxicação alimentar, os ossos lascados feriam a sua pele e meu sangue pegajoso não saía de suas mãos.

Eu o adoecia, mas ele me deixava dolorida e com náuseas. Eu estava exausta, no entanto não tinha para onde ir e ninguém além de Damon Torrance para me agarrar.

Antes que minha carne machucada o fizesse mal, ele me abraçava por poucos segundos, me trancava em seu armário com fones de ouvido e cuidava de mim de sua maneira agressiva.

Seríamos eu e ele para sempre.

Vivendo em uma casa feita de meus ossos, pintada com meu sangue e repleta de moscas na cozinha por conta de minha carne ferida e apodrecida, mas tínhamos um ao outro, seríamos felizes.

Seríamos mesmo felizes?

Você seria feliz depois de me agredir até que eu ficasse inconsciente por que algo banal te irritou? Ficaria feliz após perder todo o controle e por um fim a minha vida por algo banal?

Feeling Sick.Onde histórias criam vida. Descubra agora