Ⅲ • Cadê minha mãe?

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Sophie

Eu tinha uns treze anos, meu pai tinha morrido há alguns meses e minha guarda ficou com minha madrasta. Ela se mudou para outro estado assim que ele faleceu, acabando com todas minhas amizades de infância.

Quando nos mudamos, eu morava em um lugar onde minha madrasta só sabia gritar comigo e me culpar, sem amigos, sem conhecer a cidade e sem nada do meu pai guardado. Minha madrasta tinha o cabelo ondulado, escuro e olhos azuis. O lápis ao redor do olhar dela sempre foi muito marcante. Quando criança, a chamava de "baleia" para meu pai.

Era um dia normal de maio, mas minha madrasta tinha me acusado de roubar a maquiagem dela, e como eu tinha começado a usar sutiã, ela falou que eu queria dar para qualquer um para poder me livrar dela. Eu falei para ela que era a caçula dela quem havia roubado a maquiagem, e ela me deu um tapa na cara dizendo que eu deveria respeitar a minha meia-irmã. Ela gritou comigo por tantos minutos que cheguei atrasada na escola.

Quando cheguei lá, eu tinha uma marca feia no meu rosto. Minha mente ainda estava naquela discussão ridícula, fazendo eu esquecer de bater na porta ao entrar na minha sala de aula.

— Srta. Blare, seus pais não te deram educação? — O professor, um homem careca e somente com um bigode, perguntou-me.

— Nunca conheci minha mãe e meu pai morreu em dezembro. Não, meus pais não me deram educação.

Ele levantou as sobrancelhas e eu fui até meu lugar. Ele parecia chocado, sem saber como lidar com a situação.

— Sophie — Sam me chamou.

Na época, seu rosto era de um bebê, de tão jovem que ela parecia. Seus cabelos claros ainda eram grandes e batiam na cintura dela, um pouco arrepiados e bem ondulados. Seu rosto era bem corado e continha algumas sardas. O que sempre me chamou atenção sobre a aparência de Sam eram seus olhos grandes e caídos, que ainda eram inocentes nessa época.

— Minha mãe também morreu. Sinto muito.

Não queria ser consolada por ela, estava de saco cheio das pessoas dizerem que sentiam muito e me deixarem apanhar em casa. 

— A diferença é que minha mãe me queria — respondi, criando um silêncio desconfortável na sala.

Virei-me para frente, esperando o professor começar a aula. Ele me olhou com a boca aberta e todos se viraram para me ver. Franzi as sobrancelhas, não entendendo a reação. Quando olhei para o lado, Sam estava chorando com as mãos em seu rosto.

— Ah, não — exclamei.

— SOPHIE! Agora para a diretoria — o professor me reprimiu.

Andei até a saída da sala e logo em seguida Sam e o professor foram me acompanhar. Sam estava com o rosto mais rosado ainda, soluçando sem parar.

Fomos até a sala da diretora. Ela me deu uma bronca enorme, falando que eu não tive respeito nenhum pela morte da mãe de Sam, mesmo tendo passado pela mesma situação. Ela falou, falou, falou e eu não prestei atenção. Só prestei atenção quando ela disse as palavras mais tenebrosas que eu poderia ouvir.

— Eu irei chamar seu responsável. Sua conduta na escola é impossível, já está na hora de pedir ajuda.

— NÃO! POR FAVOR — implorei, fazendo eu ser a próxima a ficar com os olhos marejados. Tentei segurar ao máximo para não chorar. — Por favor, não, eu fico de dupla pro resto do ano com a Samanta, só por favor, não liga pra minha madrasta. 

A diretora ergueu uma sobrancelha, tentando decidir o que iria fazer. 

— Sophie, eu não vejo outra alternativa.

O Abismo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora