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Querido diário...Não espera, eu não tenho idade para isto. Vou chamar-te "Finn".

Querido Finn,

Dedico esta primeira página para me poderes conhecer melhor. Sou a Alice, mais conhecida por Ali e sou que vou andar a rascunhar as tuas páginas em branco. Tenho 17 anos e vivo na cidade mais estúpida de sempre, bem no centro do Arizona...UNNI City. Uma cidade com um avanço tecnológico que hoje ainda não tem explicação. A vila mais próxima fica a mais de 3 horas de viagem e quem entra em UNNI, não sai. Há nossa volta só há floresta. É estranho. Mas a cidade é um refúgio para Nós. É difícil viver no exterior com a nossa "condição especial"...Pertenço a uma das linhagens mais antiga de Puro Sangue, os Drakunov. Se ainda não percebeste, eu sou uma vampira.É estranho estar a escrever num caderno em branco, mas aqui não há amigos, não há confiança e este é o meu último recurso para desabafar. Tenho quatro irmãos: Cayden, o mais velho, Jasper e as gémeas Erika e Katie. Eu sou a mais nova deles todos. O Cayden já vai para o seu 125º aniversário, mas eu sou diferente...eu nasci vampira, mas ainda não parei de envelhecer e não sou muito a favor de me sustentar à base de sangue, humano ou animal. Sou estranha, eu sei...

Parei de escrever quando ouvi passos junto à minha porta. Saltei da cama e aproximei-me dela, abrindo-a de repente. À minha frente estava Jasper, com o punho fechado pronto para bater:

- Devias fazer menos barulho quando sobes as escadas. - tapei o nariz quando senti o fedor que o raio do rapaz emanava - Porra Jasper! Que cheiro é esse? Eu tenho as narinas sensíveis!

O meu irmão apenas riu-se e afagou-me o cabelo:

- Vocês pitinhas...É uma excelente colónia e vai-me fazer muito jeito hoje à noite. O Cayden está a chamar para irmos jantar.

Suspirei. Fechei a porta atrás de mim e começámos a descer as escadas:- O pai e a mãe ainda não voltaram? - perguntei.

O meu pai e a minha mãe partiram há duas semanas e a única pessoa que sabia o paradeiro deles era o Cayden. Ninguém nos dizia nada e só nos restava esperar.

/ /

- Não comes nada? - perguntou Erika

Olhei para ela, tentando forçar um sorriso fechado:

- Não estou com muita fome Kika... - os odores do peixe invadiam o meu nariz com uma força tremenda, retirando qualquer apetite que eu tivesse. Para um jantar em pleno verão, estava tudo perfeito: um jantar leve, limonada fresca e a família, ou quase toda reunida, mas algo não estava bem. Fiz um esforço e levei à boca uma garfada do que tinha no prato. A custo, mastiguei e para ajudar a descer dei dois goles na limonada. Foi o suficiente. Quando a comida me caiu no estômago e o ácido do limão se juntou, não demorou até vir asneira. O vómito subiu-me à boca e só tive tempo de atirar a cadeira ao chão e correr para a casa-de-banho. Alguns minutos depois despejei o autoclismo, lavei a boca e saí. Para minha surpresa, Cayden estava encostado à parede. Não me perguntou como estava, não ofereceu ajuda, simplesmente apontou-me uma lanterna aos olhos. A luz foi demasiado forte para mim, senti-me tonta e acabei por tombar contra a porta:

- As tuas púpilas não estão a reagir normalmente. Mostra-me o teu braço. - o tom preocupado na voz dele assustou-me. Eu até acho que sabia o que se passava comigo, apenas não queria admitir.

- Para quê?! E porque raio me apontaste essa luz! - barafustei

- Ali, mostra-me o teu braço. - falou pausadamente, ordenando. Com a minha demora ele simplesmente agarrou-me no braço e puxou a manga para cima. Pelo olhar dele, as suspeitas confirmaram-se. As minhas veias estavam mais salientes que o normal, com uma coloração estranha, e o meu organismo mandava sinais de ajuda - Quando foi a última vez de caçaste?

Revirei os olhos e bufei:

- Sabes bem a minha posição quanto a isso Cayden...

A mão dele apertou-me o pulso, imobilizando-me:

- Isto não se trata de escolhas, posições, valores, etc! Isto trata-se de sobrevivência! O teu organismo está a rejeitar tudo o que consumires até lhe deres o que ele quer. É por isso que os teus sentidos têm estado mais sensíveis que o normal. - Puxou-me e sentou-me numa das cadeiras na cozinha. Virou-se e abriu o frigorífico. Grande parte das prateleiras tinham as mais diversas coisas que se encontram num típico frigorífico, mas as duas últimas estavam infestadas de vermelho. Bolsas e bolsas com um líquido vermelho, tão bem conhecido por todos nós. Ele tirou uma e pô-la à minha frente, com uma palhinha ao lado:

- Bebe isso. Tudo! - ordenou. Engoli a seco. Eu desejava beber aquilo tudo. Eu tinha que beber aquilo tudo. Mas uma parte de mim perguntava-se a quem pertencera aquele sangue e isso enojava-me. Afastei a bolsa ligeiramente. Eu não ia beber aquilo. O meu irmão não teve outra hipótese senão abrir a bolsa. O cheiro a sangue despertou logo a vampira que há em mim. Os meus caninos saíram para fora, involuntariamente, e os meus olhos azuis tenho a certeza que ficaram bem vermelhos:

- Vai-te lixar Cayden! - e aproximou a bolsa com a palhinha lá dentro, mas eu tinha demasiada sede para isso. Atirei a palhinha para um lugar qualquer e basicamente foi bota-abaixo. O sangue frio descia suavemente pela garganta e ao meu paladar parecia néctar dos deuses. Quando terminei, limpei o excesso que ficara nos lábios com as costas da mão. Eu tinha uma besta dentro de mim que tentava controlar à força, mas Cayden sabia como me ajudar. Pôs-me a mão no ombro enquanto a transformação se desfazia:

- Ouve, eu sei como tu és sobre isto tudo do sangue e de ser vampiro. Todos nós sabemos isso, todos sabemos que és diferente, mas eu não te quero perder por não quereres beber sangue. És uma vampira e aceita isso. És uma Drakunov porra! - ele riu-se e isso reconfortou-me. Levantei-me e avancei para a janela. A nossa casa ficava afastada, graças a Deus, da cidade. A floresta era nossa e ali havia paz. Olhei para o sangue na minha mão. O sabor é único, isso eu tenho que admitir, e cada gota dá-me mais força. Eu simplesmente tinha que aceitar isso. Abri a janela e inspirei bem os cheiros da noite, saboreando cada um mentalmente. Olhei para o meu irmão, já com os caninos de fora e os olhos bem despertos:

- Cayden...leva-me a caçar. - apenas sorriu e transformou-se.

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2015 ⏰

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