Ⅴ • Wolverine

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Sophie

Após o sangue escorrer pelo pescoço e pela cabeça de Alicia, ouvimos três batidas na porta. Todos olhamos para ela, e Alana fechou imediatamente a janela, com uma força que até me impressionei de não ter quebrado.

— VOCÊ É LOUCA? PSICOPATA? VICIADA EM MATAR? — André gritou.

— VOCÊ FALA COMO SE EU FOSSE O FOGO NA CABANA OU COMO SE EU FOSSE QUEM CORTOU O PESCOÇO DE ALICIA. E-EU NÃO QUERIA ISSO — Me defendi. Eu estava falando isso mais para mim mesma do que para André. Senti minhas lágrimas, mas me recusaria em soltá-las. Eu soltei a cabeça de Alicia e fui para o lado de Sam, amedrontada. Ela havia se levantado, mas ainda estava com as mãos em seu ouvido. Quando ela me viu, me abraçou de lado.

— ANDRÉ, SÓ CALA A BOCA UM SEGUNDO. TEM ALGO LITERALMENTE CORTANDO PESCOÇOS E VOCÊ TÁ PREOCUPADO SE A CULPA É DA SOPHIE? — Marck explodiu.

— Por favor... deixa eu entrar... — Algo disse.

Muitas pessoas estavam falando ao mesmo tempo, tanto que minha cabeça estava latejando, mas no momento que ouvimos aquela voz aguda e agonizante implorando, todos se calaram. Conseguia observar um por um ficando pálido.

— "Não deixe o homem alto entrar. Todos nós nos tornaremos um." — Sam traduziu. — Eles estão falando comigo.

— Merda...

— "Vamos todos nos tornar... um só?" — Sam recitou, novamente. Quando percebi, ela estava no sofá, com a mão nas cabeças e uma expressão de dor no rosto. Fui para o lado dela, com a mão no cabelo dela, sem saber o que fazer.

Ouvimos três socos na porta. Minha mão estava tremendo, muita coisa estava acontecendo. Algo acabou de matar Alicia e essa coisa queria entrar na cabana. Não, eu não iria morrer. Não hoje. Apesar de não querer estragar as aparências, saquei a arma que achei na cabana queimada dos professores e apontei para a porta, pronta para atirar em qualquer momento.

— D-DE ONDE CAR-R-RALHOS V-VOCÊ T-TIROU I-S-SSO? — Alana gritou.

— Da cabana do diretor.

— QUE PORRA É ESSA? Depois eu te chamo de assassina e eu que sou o errado — André bufou.

Sam olhou para mim, parecia meio chateada e meio confusa. Ela quem ficou de guarda para eu entrar na cabana e eu não falei para ninguém dessa belezura de arma. Sentia-me mais calma com a arma de metal em minhas mãos. Sentia que tinha controle de algo.

— Calma, por que o diretor tinha uma arma? — Marck perguntou, como se eu fosse saber por quê.

André abriu a porta. Óbvio, tinha que ser o André.

— Lucas?

Quando a porta abriu, vi meu professor de educação física. Ele tinha o cabelo médio e preto, e a aparência jovem. Eu e ele tivemos uma relação esquisita. Fumávamos maconha juntos e às vezes eu comprava dele para revender — óbvio, com a permissão dele.

— Sophiezinha — ele se surpreendeu. Ou pelo menos pareceu surpreso...

Quando olhei para trás dele, percebi duas coisas, a chuva havia parado e vi uma criatura nos observando. Por um segundo. A criatura estava claramente me olhando, e tinha um sorriso de orelha a orelha. Seu olhar era assustador, e aquilo me arrepiou tanto quanto a velocidade que vi aquilo. Nesse ponto, já não sabia diferenciar mais o medo, a falta de sanidade, e aquilo.

— Puta merda — sussurrei, respirando fundo ao ver aquilo. — Vi algo. 

— Tá bom, "esquizofrênica" — Marck debochou. — Lucas? Quem é esse aí?

O Abismo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora