Despeça-se

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—Eu não irei ! — Foi tudo que pude dizer ao meu pai, esperneando enquanto tentavam me colocar dentro daquela carruagem.

As garotas ao meu redor pareciam inconformadas com a situação, os olhares delas eram como espinhos e sinceramente, eu não me importava nem um pouco em ser picada.
Entendo que a maioria delas gostaria de estar no meu lugar. Amber, a filha do Barão de Ducant com toda a certeza queria estar no meu lugar, já que não havia arranjado casamento algum por três temporadas.
Todas elas gostariam de estar sendo levadas para onde eu estava, seria até mesmo um mistério empolgante para elas , algo que despertava interesse em seus corações.

Mas eu...

Tudo que eu gostaria de fazer era chorar.

Nascida e Crescida em Portmeirion, nunca desejei sair daqui. Gostava da minha vida , de como as coisas eram simples. Nunca me preocupei em tomar o chá tarde demais , ou não estar presente em algum baile ou tarde na casa do Visconde.
Mas quando completei 16 anos , as coisas mudaram de repente.
Meus pais me deram pretendentes, dividiram suas terras para compartilhar com meu futuro marido, deram-me sua herança em um papel que regia muito .

Meses foram passados, e a busca por pretendentes nunca acabou. Porém , nenhum deles me agradava. O filho do Marquês, Harry...Era muito grande, robusto demais , ao menos conseguia segurar uma xícara. Thomas, da família de engenho , vivia um romance ardente com a prima, e estava assim como eu , sendo forçado a se casar. O único homem que considerei uma alternativa foi Charles, um cientista que veio de longe pedir minha mão.
Conforme o passar dos dias, aprendi a gostar da sua capacidade de pensar além da própria cabeça, do modo como fazia todos rir e das suas palavras estranhas. Estava começando a me conformar com a ideia de casar-me, mas um dia ele teve que partir para o Ocidente , e nosso casamento foi com ele.

Acha que isso fez com que meus pais desistissem?

Não.

Embora cansados, meus genitores continuaram sua busca incessante por um marido. Até que um dia , uma carta chegou a nossa casa.
Estávamos almoçando quando uma das empregadas da casa leu, em voz alta , plenamente.

Um príncipe , ou melhor...Um futuro rei,  estava procurando por pretendentes há anos, e ao ver uma pintura minha na casa de veraneio de meus tios, se apaixonou por mim instantaneamente.

Porque eu ?

Como um homem que é o futuro rei de um lugar fica anos procurando pretendentes? Até me encontrar. Eu, uma garota de 16 anos que cresceu em uma pequena vila , cercada de galinhas e porcos, de gente humilde e trabalhadora.

Porquê Elizabeth Aubinet?

Quatro meses se passaram desde então , e me faço essa mesma pergunta todos os santos dias.
Então hoje, serei mandanda as Américas para encontrar meu marido , casar-me e viver em um lugar que nunca fui , que nunca vivi , onde não existem porcos e galinhas nem gente humilde e trabalhadora.
Ao menos sei com quem vou me casar, mas de acordo com minha mãe, não devo ser ingrata pois é um rei , eu deveria estar feliz.

Não deveria ?

—Ellie, entre nessa carruagem imediatamente! — Mamãe segura meus tornozelos , empurrando-me para dentro enquanto sinto lágrimas molharem minhas bochechas.

— É isso que quer fazer com sua própria filha ? Manda-lá para longe ? Para um homem que você jamais viu o próprio rosto!— Grito, enquanto meu coração bate firme no peito.

—É assim que deve ser , Elizabeth. Em breve iremos visitá-la , quando se tornar rainha. Imagine só ? Rainha! — Mamãe fala mais alto , engrandecendo a palavra que remete a realeza . Vejo as meninas atrás dela com os olhos brilhando. Como eu gostaria de estar no lugar de cada um delas...

Meu coração se parte complemente, vendo o interesse na voz da minha própria mãe enquanto me manda para longe.

—Eu não quero a visita de vocês! Estão me mandando para longe!

—Elizabeth , tenha uma boa viagem. Não faça nada que faça nossa família passar vergonha, temos seus tios lá . — Meu pai dá seu último aviso , fechando a porta da carruagem e dando um tapinha no cocheiro.

—Jamais os perdoarei por isso ! —Grito , entre respiradas de ar rasgadas. —Jamais!

Meus olhos molhados se fixam no horizonte ao fundo enquanto me afasto da vila e das pessoas.

—Vou deixar esse lugar para sempre...— Sussurro para mim mesma, com as mãos entre uma bochecha e outra.

O sol cai no céu como fogo , alaranjando o lugar que um dia cresci e vivi por toda minha vida. Não me conformo com a ideia de que não viverei mais aqui, de que todo esse lugar é apenas meu passado agora , de que essas pessoas serão memórias antigas que guardarei no fundo da mente.

E agora , cá estava eu . Em direção a Transilvânia

Prometida ao Drácula Onde histórias criam vida. Descubra agora