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Lucas - Você quer um café, um chocolate quente, um chá ou alguma outra coisa?

Amara - Aceito um chá.

Lucas - Qual?- falo os sabores para ela.

Amara - Erva doce parece ótimo para mim.

Lucas - Ok! Não muito quente e com três colheres de açúcar?- ela me olha.

Amara - Eu não coloco açúcar no chá, só no café porque acho muito amargo.- ele sorri de canto.- Mas, se puder eu gostaria que não fosse muito quente...- ele acente com a cabeça e sai andando, o soldado engraçado olha rindo pra ele que o encara sério e o vejo balbuciar um: "O que foi?"
...

Dom - Ah, não acredito!- caio na risada quando vejo.

Lucas - Vai encher outro!- falo irritado.

Dom - Por isso que você demorou tanto. Estava assoprando o café até amornar como tá fazendo agora com o chá?- tiro sarro dele.

Lucas - Ela não toma nada muito quente. Você não ouviu?

Dom - Ouvi, mas eu não tomo café frio e você nunca se ofereceu pra esquentar pra mim.

Lucas - Era só o que me faltava. E você não passou por tudo o que ela passou, não perdeu ninguém importante, tem família e uma casa pra quando quiser voltar.

Dom - Touché! Você está certo.- ele continua mexendo e assoprando o chá para ela.- Quer ajuda?

Lucas - Some daqui.- ele sai rindo.

Dom - Depois não diz que não tentei ajudar.- não demorou muito para ele surgir com o chá e entregar para ela. Depois sentou em uma poltrona diagonal um pouco mais atrás dela. Notei ele observando ela algumas vezes com uma expressão de cuidado, e essa é a primeira vez que o vejo assim.
...

Amara
Custei muito a dormir, a viagem foi muito longa, mas tranquila.
Acordo com o soldado apertando o meu cinto.- O que foi?

Lucas - Vamos pousar.- o pouso foi tranquilo.- Vou levar você até o seu novo endereço, um soldado já levou os seus pertences recuperados no navio, ele também passou na casa que sua amiga morava e buscou as suas coisas.

Amara - Obrigada! Quando você conseguir o endereço do cemitério...- não terminei a frase, ele colocou a mão no bolso e me entregou um pedaço de papel dobrado.

Lucas - Os pais dela optaram por não realizar o velório, o corpo chegou na madrugada enquanto você estava no hospital. O enterro foi logo cedo.

Amara - Obrigada por tudo. Eu vou para lá agora.- falo dando cerca de dois passos, antes dele segurar o meu braço.

Lucas - Eu te levo.- ela para e me olha.

Amara - Acho que já te dei trabalho o suficiente...

Lucas - Eu preciso te deixar em casa mesmo, então passamos no cemitério antes.

Amara - Tem certeza?- ele concorda. Não demorou muito para um carro preto com vidros escuros se aproximar, e um rapaz descer e entregar a chave para ele. Ele me guia até a porta do passageiro e abre a porta para eu entrar, me acomodo enquanto ele dá a volta e começa a dirigir tranquilamente.- Você é sempre assim?

Lucas - Assim como?- pergunto sem tirar os olhos da direção.

Amara - Tranquilo, calmo, quieto...

Lucas - Não!

Amara
Ele não esticou o assunto e achei melhor seguir em silêncio o resto do trajeto. Quando ele estaciona, olho no papel o endereço do túmulo e ando um pouco por ali, até um funcionário me informar o caminho correto. Vou andando e procurando por aquele caminho cheio de túmulos praticamente iguais, o soldado me segue um pouco distante.
Assim que encontro o túmulo de Zoe, me ajoelho e é impossível não chorar. Lembro das nossas conversas, das risadas, do seu jeito espontâneo e do quanto ela fazia os meus dias melhores. Também lembro do quanto ela estava empolgada com o tal cruzeiro que acabou tirando a vida dela. Fico ali por alguns minutos, o suficiente para começar a anoitecer, visto que já desembarcamos no fim da tarde. Sinto alguém se aproximar e se abaixar ao meu lado.

Lucas - Eu preciso te levar agora.- ela me olha com o rosto já inchado de chorar.

Amara
Ele me entrega um pequeno buquê com flores que deixei no túmulo antes de me despedir dela.

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