Capítulo 1 |

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Aquele era o quarto mais gelado da casa.

O cômodo possuía boa parte dos móveis de cor branca: o guarda-roupas, a mesa de estudos que, curiosamente, não havia vestígios de materiais didáticos e até a cama hospitalar. Diferente do resto da casa, a temperatura não oscilava de acordo com os dias lá fora, sempre permanecia no 18o graus. A iluminação era incômoda para quem ficava por lá por muito tempo.

Apesar de ter uma janela relativamente grande, a cortina de persiana bloqueava toda a luz solar, impedindo que a luz natural entre no quarto. As únicas coisas que deixavam evidentes que aquele era o quarto de alguém, era o tapete felpudo, também branco, disposto abaixo da cama e algumas fotos em polaroid dispostas na lousa branca na parede da mesa de estudos.

Não era possível ouvir nenhum barulho externo, era como se o quarto fosse revestido por abafadores de som. O único som possível de ouvir era os de bip bip bip contínuos, vindos de aparelhos que acompanhavam e registravam a estabilidade e possível avanço no quadro do corpo. Além de cochichos vindos de enfermeiros que atendiam a domicílio, e na maioria das vezes eram comentários nada positivos.

"Será que ela vai acordar?"

"Impossível ela acordar. Já fazem meses"

Aquele recinto exalava e cheirava a hospital. Nem o perfume adocicado da jovem que antes ocupava o cômodo já não se sentia. Parece que todos aqueles aparelhos tiraram toda a vida que havia ali, mesmo tendo o propósito de salvá-la.

O corpo feminino era pálido. Em sua bochecha esquerda, havia um corte, não muito profundo, porém parecia que era a única coisa que lhe dava cor perante aquele rosto. Era magra, alta e suas mãos viviam frias, a ponto de estarem cobertas o tempo todo. Estava irreconhecível. O cabelo castanho comprido caía como castata, cobrindo os seus ombros, mas não bloqueava as olheiras que ainda permaneciam abaixo dos olhos. Por mais que naquela semana a garota completasse 4 meses em vegetação, seu semblante parecia cansado.

Do outro lado da porta azul, o ambiente era completamente diferente do quarto. Funcionários que trabalhavam na casa perambulavam pelos corredores da mansão para executarem suas funções. As paredes possuíam um emaranhado de cores pasteis, enquanto todos os cômodos eram decorados com itens de luxo. Parecia que cada canto daquela casa fora projetado minuciosamente de acordo com os gostos de quem morava ali e, principalmente, na segurança das crianças.

Desde o fatídico dia, a casa carregava uma energia estranha. Nada ali foi mais o mesmo. A senhora Chou parecia cada dia mais estressada, ainda mais porque ouvia a mesma frase todos os dias: "O quadro da senhorita Chou Tzuyu permanece estável, mas sem sinal de melhoras." A frustração tomava conta da família taiwanesa. A cada dia que passa, as respostas neutras e negativas já não são mais o suficiente. O fato de Chou Tzuyu não apresentar melhoras desde o trágico acidente deixava a família cada vez mais distante da esperança.

[...]

Sana grunhiu quando ouviu a terceira xícara que segurava sob a bandeja ir diretamente para o chão. Ao contrário das outras vezes, que apenas apertou os olhos e se agachou para pegar os pedaços do vidro, lágrimas se espalharam por seu rosto, assim como o café havia se espalhado pelo chão.

Era mais um dia difícil.

Seus olhos, agora molhados, pareciam perdidos em uma neblina que apenas sua mente havia projetado. Seus braços se moviam rapidamente e de maneira automática, na expectativa de limpar toda aquela bagunça causada pela falta de atenção. Os olhares estavam sobre si, uns com pena e outros com desprezo, mas naquele momento pouco se importava com eles.

A porta Azul | SaTzuOnde histórias criam vida. Descubra agora