Bem vindos a Cornell

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Minha vida sempre foi tranquila e familiar aqui na Califórnia. As manhãs começavam com o sol entrando pelas janelas da cozinha, onde o cheiro do café fresco e das panquecas de minha mãe preenchia o ar. A rotina era simples, mas cheia de amor e risadas. No entanto, tudo mudou há alguns meses quando minha mãe faleceu. A dor da perda foi como um furacão, devastando tudo ao meu redor.

O dia do enterro foi um dos mais difíceis da minha vida. O céu estava cinzento, como se o mundo estivesse compartilhando a minha tristeza. Ver o caixão sendo baixado à terra foi um momento surreal; eu queria gritar, mas as palavras ficaram presas na garganta. As lembranças dela surgiam em flashes—suas risadas, suas histórias, seu carinho ao cozinhar. A sensação de vazio e a saudade me acompanhavam como sombras, e eu me perguntava como seguir em frente sem ela.

Tentei focar nos estudos como uma forma de escapar da dor. Entrei na faculdade de administração aqui na Califórnia, buscando uma nova perspectiva e uma maneira de honrar a memória da minha mãe. Era um desafio, mas eu sabia que ela gostaria que eu seguisse em frente e buscasse meus sonhos.

Meu pai, por outro lado, encontrou uma forma de lidar com a perda dele: realizar o sonho de construir uma cafeteria. Ele sempre sonhou em ter um espaço onde as pessoas pudessem se reunir, compartilhar momentos e desfrutar de boas conversas acompanhadas de café fresco. Com isso em mente, decidi que poderia ajudá-lo nas finanças e com a gestão do negócio. Isso nos aproximou ainda mais, transformando nossa dor em um projeto comum.

Certa manhã, enquanto estava na faculdade, recebemos a notícia de que haveria uma viagem para Cornell. Lidia, minha amiga mais próxima e sempre cheia de energia, não hesitou em me puxar para essa ideia. "Você precisa ir!" ela insistiu com aquele brilho nos olhos que só ela tem. Eu sabia que havia um motivo oculto por trás do entusiasmo dela—o verdadeiro motivo que a fez considerar a proposta era a possibilidade de passar algumas horas no mesmo ônibus que o Jackson.

Após alguns dias pensando sobre isso, percebi que talvez fosse exatamente o que eu precisava: uma pausa da rotina pesada e uma chance para me reconectar com as pessoas ao meu redor. Decidi que iria à viagem; quem sabe isso não traria um pouco de luz para os dias escuros que eu havia enfrentado?

Finalmente, chegou o dia da nossa viagem para Cornell. Iriamos passar três meses participando de eventos de tecnologia, e a expectativa estava nas nuvens. O ônibus que nos levaria até lá era grande e confortável, mas a jornada até Nova York parecia interminável. A estrada se estendia à nossa frente, cercada por paisagens deslumbrantes—montanhas verdes, lagos cintilantes e pequenas cidades que pareciam saídas de um filme. Cada parada era uma oportunidade para tirar fotos e fazer novas memórias.

Dentro do ônibus, a atmosfera era animada. Lidia e eu nos sentamos juntas, cercadas por outros alunos, todos empolgados com a aventura que nos aguardava. Risadas ecoavam pelo corredor enquanto contávamos histórias e compartilhávamos músicas. Lidia, com seu jeito extrovertido, não parava de fazer piadas, e eu não conseguia conter os sorrisos. Mas havia uma presença que tornava tudo um pouco mais complicado: Jackson.

Ele estava sentado na frente, fazendo comentários sarcásticos sobre tudo o que acontecia ao nosso redor. Eu não suportava sua maneira de agir; ele parecia ter um talento especial para me irritar. "Olha só quem está tentando se divertir," ele disse uma vez, virando-se para me provocar com aquele sorriso escarninho. Meu olhar fulminante deve ter dito tudo, mas ele parecia se divertir ainda mais com meu desconforto.

Após horas de viagem e algumas paradas para esticar as pernas, finalmente chegamos a Cornell. Quando pisei no campus pela primeira vez, meu coração disparou. Os prédios históricos eram impressionantes, com suas torres majestosas e jardins bem cuidados que exalavam um ar de prestígio acadêmico. Era como se eu estivesse entrando em um mundo novo e cheio de possibilidades.

Fomos direto para os alojamentos próprios da faculdade. O nosso quarto era pequeno, mas aconchegante—uma cama de solteiro em cada canto, uma mesa simples ao centro e um banheiro privativo que parecia ter sido feito nas pressas. Mas assim que entramos, Lidia já começou a planejar como iríamos decorar o espaço.

"Vamos deixar isso aqui com a nossa cara!" ela exclamou animadamente, enquanto começava a tirar coisas da mala. Eu sorri diante da sua empolgação; mesmo em meio à confusão dos últimos meses, sua energia era contagiante. Começamos a pendurar fotos nossas na parede e a organizar nossos livros em prateleiras improvisadas.

"Olha isso! Um toque pessoal!" Lidia disse enquanto colocava uma pequena planta no parapeito da janela. "Nada como um pouco de verde para alegrar o lugar." E assim fomos transformando aquele quarto simples em um espaço que refletia quem éramos—um lar temporário onde podíamos dar asas à nossa criatividade.

Enquanto trabalhávamos na decoração, Jackson entrou sem avisar e fez uma cara engraçada ao ver o quarto. "Parece que vocês estão tentando transformar isso em um jardim secreto," ele comentou sarcasticamente. Eu revirei os olhos; ele realmente não sabia quando parar.

"Se você não gosta do nosso estilo, pode sempre voltar para o seu quarto," eu retruquei com um sorriso desafiador. Ele apenas riu e saiu do quarto, mas eu sabia que essa convivência seria uma montanha-russa de emoções nos próximos meses.

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