Quando estacionei em frente da casa de Caio, ele estava gritando no celular e ao me ver desligou a chamada, se aproximou com uma expressão de ódio enquanto fechou os punhos. Nossos olhares se sustentaram, ele na sua raiva, eu na minha e ali nos entendemos.
Ele me olhou de cima a baixo, seu maxilar evidente se moveu, seus olhos claros me desnudaram. Eu estiquei a mão com a chave para devolver e estava pronta para ir embora quando Caio segurou meu braço com força, por mais que doesse, não demonstrei sentir. Ele me puxou e me beijou violentamente, aceitei aquela voracidade e retribui o empurrando contra a porta, que se abriu e entrei para ser completamente dele.
A mão deslizou entre os seios até agarrar meu pescoço, me obrigando a gemer. Seus dedos deslizaram pelos meus lábios e então levei um leve tapa no rosto, sorri. O deslizar da pele e o cheiro de homem era um momento nômade, a púbis melada e quente, fui tocada nas costas e ofereci o abraço mais vagabundo disponível, desci com as unhas arranhando seu trapézio tatuado e lhe causando arrepios.
Pulsei enquanto respirava nas pausas secas e uníssonas. Não estávamos em um monólogo: o estalar das bocas e o entrelaço das mãos se libertavam da renda jogada no chão. Caio se ajoelhou, suas mãos passeavam por minhas coxas grossas e sua boca me beijava com tesão. Ele retirou meu tênis e abocanhou meus pés, a língua circulou a cabeça do dedão e depois voltou a me olhar.
— Achei que tinha me roubado. — Ofegou.
— Eu precisava resolver algumas pendências.
— E resolveu? — Sorriu me entregando uma bala.
Aquela dentição alinhada revelava uma maldade intrínseca que me despertava o desejo de me aventurar. Coloquei a bala na boca: não era doce, mas era cítrico. Levei outro leve tapa no rosto e me suspendi para sentar no móvel encostado a parede, abri as pernas olhando para cima, comecei a ver cores que só o Caio soube misturar: vermelho intensificado com verde.
— De novo?
— Sexo é uma arte e você é minha tela. — Me respondeu. Sem perder tempo, Caio me abocanhou, fazendo de sua língua quente e babada um guia.
Aquele homem era minha gasolina, me comia com fome e eu revirava os olhos por tantas vezes que era impossível manter abertos. Eram setenta e nove orgãos do meu corpo recebendo um, como se fosse a primeira vez. Dedos e mais dedos com cauda gelatinosa a me explorar sem pena e sem nojo. Quando foi minha vez: eu o chupei como uma ventosa até suas forças esvaírem e foi aí que senti o gosto viscoso profano.
Bebi tudo sem desperdícios.
Quando ele se cansou, se afastou. Eu permaneci imóvel sentindo a saliva escorrer no canto da boca que foi limpa com a própria língua; satisfação. Ele se sentou no sofá, sua cabeça tombou para o lado e seus olhos fecharam enquanto seu sorriso alargou. Caio tinha as mesmas curvas do homem que havia destruído minha vida: cheirava a cerveja, fumava derby vermelho e usava injetáveis. Cambaleei e caí de joelhos, sem forças para continuar, ele me ajudou a se sentar ao seu lado e me ofereceu a garrafa de uisque pela metade. Bebi outra metade e pisquei os olhos encarando o teto ondular, encostei no peito com piercing no mamilo. E da minha boca ele tirou sua própria vertigem com sua língua almiscarada.
Suspirei como se eu fosse uma fumaça baforada, catei minhas roupas decidindo não tirá-las para mais ninguém. Me apaixonar causava muitos estragos, então eu não podia mais ficar. Senti as mãos pesadas me agarrar e me puxar, a conchinha confortável com o cheiro de casa me fez querer correr, mas sorri adormecendo em braços enormes.