Em Yoria, pouco havia reclamações sobre o cotidiano. Por mais que fosse uma megacidade gigantesca, o zoneamento era menos estrito comparado a outras cidades de outros países; até mesmo os subúrbios de Valentine comportavam quaisquer localidades necessárias no dia a dia, como mercadinhos pequenos, escolas, etc, e graças às ruas majoritariamente estreitas, tornava-se cômodo caminhar a pé até quase qualquer local; e, para longas distâncias, ainda havia o transporte público (trem, metro, bonde, ônibus) que era supimpa. A segurança era mais um ponto forte da megacidade: quando relatavam-se anomalias, a região era ligeiramente evacuada e os caçadores eram notificados imediatamente sobre a situação. Ainda assim, diariamente havia baixas por causa de anomalias; o que, levando em consideração os mais de dez milhões de habitantes da metrópole, era um número bastante baixo.
Várias medidas foram analisadas no congresso para proteger a população das criaturas, mas o presidente era um sacana e decidira que seria melhor que as pessoas virassem caçadores por conta própria, e que a polícia cuidasse somente dos casos cometidos por criminosos humanos — não muito diferente de como era nos tempos antigos. No entanto, havia sim um compartimento específico do Olimpo de caçadores que trabalhavam diretamente em contato com o governo; um cargo raro que era composto quase inteiramente por caçadores extremamente poderosos, já que o governo dificilmente iria querer um conflito com tais caçadores.
Não é nem mesmo necessário dizer que os vagabonds não continham tal cargo; eram fracassados, e, nesse momento, estavam relaxando em uma linda casa com um tão lindo quanto jardim; que não era deles, mas sim daquela que chamavam de "vovó" — uma forma bastante fofa de se chamar uma velhinha se me permite dizer. Passando pela portinhola de madeira da mureta, seguindo o caminho do jardim e entrando no casarão decorado por vasos de plantas e flores e mobília nobre, se chegava na sala de estar, onde Nio se via deitado em uma cadeira reclinada almofadada, e entre ele e a poltrona: uma toalha branca, pintada com manchas vermelhas de sangue.
Alguns metros ao lado mexendo em uma gavetinha, estava uma velha senhora curvada, de aparência modesta, com óculos redondos e pequenos, vestindo uma touca bege com um pompom no topo por cima dos cabelos grisalhos, um vestido colorido em padrões excêntricos, um ponche de tricô e sandálias simples. Ela abriu a gaveta, onde dentro haviam vários dedos humanos de pele escura organizados um ao lado do outro; e a vovó pegou um deles, levantou, observou-o contra a luz, então fechou a gaveta e caminhou até onde Nio estava.
"Eu nunca me acostumo com isso", disse ele, com a mão pouco trêmula.
"Não se preocupe, jovenzinho", a vovó, com sua voz carinhosa, declarou. "Hm... deixa eu ver..."
Seus dedos magros ergueram o que havia da mão de Nio, pôs o dedo contra o pedaço aberto, mexeu um pouco para os lados enquanto Nio grunhia de forma quase inaudível, e retirou-o.
"Este vai ficar bem." A senhora largou o dedo em cima da toalha branca, inclinou o tronco e puxou da mesinha de madeira ao lado uma pequena agulha e um fiozinho enrolado. Novamente, ela pôs o dedo no lugar onde estava faltando. "Poderia segurar pra vovó?"
"Claro", disse ele, já segurando com sua outra mão.
A velhinha então perfurou o dedo com a agulha a qual já havia passado o fio e fez um ponto. Nio manteve a calma, por mais que doesse um tantinho, e a senhora puxou a agulha com delicadeza e fez mais um, e outro. Segundos depois, Nio levantou sua mão — o dedo estava ali, como se nunca houvesse o perdido.
"Ah, muito bom poder sentir isso de novo", disse, mexendo o dedinho.
"Sim, certamente", disse ela com um sorriso querido. "Eu vou pegar o outro."
"Que isso vovó!", disse Cris chegante pela porta do pátio dos fundos, flutuando deitado no ar. "Deixa que eu pego pra você."
"Ah, você é muito educado", disse ela, já levantando. "Mas a seleção é muito precisa, então eu mesma preciso escolher."
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The Vagabonds: Clima Carmesim
MizahQuatro caçadores freelancers, estilosos e sem grana, utilizam de poderes cósmicos para enfrentar criaturas bizarras em uma cidade que nunca dorme. Queriam apenas viver uma vida tranquila, mas um clima sangrento se aproximava daquela cidade, manchand...