Eu estou escrevendo isso com uma sensação de que preciso relatar isso a vocês, porque não sei como isso irá acabar e muito menos o que fazer. Eu não sei qual é sua vertente religiosa, e eu particularmente nunca tive uma, mas ultimamente tenho rezado a Deus, seja ele qual for, para que me salve da merda que está acontecendo comigo.
Pouco menos de três meses atrás, mudei-me para um apartamento lindo na zona sul do Rio de Janeiro. Era um valor acessível para um técnico de TI iniciante. Meu apartamento fica no terceiro andar de um prédio antigo; não posso dizer que ele está caindo aos pedaços, porque ainda é habitável. Não há elevador, mas acho que seria exigir demais que tivesse. Há um longo lance de escadas que vai até o décimo andar, e particularmente tenho pena de quem mora lá em cima.
A estética dos apartamentos é exatamente a do prédio por fora: velha. Você consegue ouvir o ranger das paredes, o ranger do chão, e se for de madrugada, consegue ouvir até a respiração do seu vizinho do andar de cima. Parece que estamos em um prédio de papel.
Talvez a estética velha do meu apartamento traga essa sensação de que estou vivendo em um lugar em que não deveria, de que isso aqui tem muita história para contar. Mas pode ter certeza de que quem vai contar essa história para você hoje não vai ser o prédio, serei eu.
Há alguns dias, algumas coisas estranhas têm acontecido e acho que não estou sabendo lidar bem com isso. Tem três noites que eu acordo sentindo que alguém está me observando. Não é uma sensação muito agradável. Além disso, não há como ninguém ter entrado no meu apartamento, porque não vejo meus amigos há muito tempo e nesse prédio também não possuímos um síndico. Ou seja, no térreo não há nenhum velho com molho de chaves que possa entrar no meu apartamento durante a noite enquanto eu durmo.
Na primeira noite, acordei com uma sensação de formigamento na nuca, como se alguém estivesse me observando. Acordei de repente, com o coração acelerado, e olhei em volta do quarto, mas não havia nada fora do lugar. Tentei me acalmar, mas a sensação persistiu, como se houvesse uma presença no quarto, algo invisível e maligno. Passei a noite em claro, fitando a escuridão, esperando que aquela sensação desaparecesse, mas ela permaneceu até o amanhecer.
Na segunda noite, a sensação de ser observado voltou, mas desta vez, foi acompanhada por um ruído estranho. Era um som baixo, quase imperceptível, como um sussurro vindo de algum lugar próximo. Meus olhos se abriram de súbito, e eu podia jurar que vi uma sombra se movendo pelo quarto, desaparecendo rapidamente quando me virei para olhar. Acendi a luz, mas novamente, nada estava fora do lugar. O sussurro cessou, mas a sensação de ser observado ficou ainda mais intensa. Meu corpo inteiro tremia, e mal consegui pegar no sono.
Na terceira noite, a situação piorou. Eu estava determinado a ignorar a sensação, acreditando que era apenas fruto da minha imaginação. No entanto, por volta das 3 da manhã, acordei novamente. Desta vez, não era apenas uma sensação. Havia uma figura parada no canto do meu quarto, envolta em sombras, impossível de ser distinguida. Fiquei paralisado, incapaz de me mover ou gritar. A figura permaneceu ali, imóvel, apenas me observando. O terror tomou conta de mim, e tudo o que consegui fazer foi fechar os olhos, rezando para que aquilo fosse apenas um pesadelo. Quando finalmente tive coragem de abrir os olhos novamente, a figura havia desaparecido, mas o medo continuava me consumindo.
Eu não sei mais o que fazer. Já chequei todas as fechaduras e janelas, e elas estão todas trancadas. Não há sinais de arrombamento ou de que alguém tenha entrado no meu apartamento. As noites têm sido um tormento, e eu temo pelo que pode acontecer nas próximas. Sinto que estou ficando louco, mas algo dentro de mim diz que isso é real, que há algo ou alguém tentando me atormentar. Tudo o que me resta é rezar para que isso acabe, antes que eu perca completamente a sanidade.
A quarta noite chegou, e o medo já havia se transformado em um companheiro constante. Cada pequeno som, cada rangido do prédio, parecia amplificado. Decidi tentar algo diferente naquela noite: liguei todas as luzes do apartamento e me mantive acordado, determinado a encarar de frente o que quer que estivesse me assombrando. Sentei-me no sofá, com uma xícara de café na mão, olhos fixos na porta do quarto, onde a figura havia aparecido na noite anterior.
O tempo passou lentamente, cada minuto uma eternidade. Às 2:45 da manhã, senti a temperatura do ambiente cair drasticamente. O ar ficou pesado, quase sufocante, e a sensação de ser observado voltou com força total. Lutei contra o impulso de correr, tentando manter a compostura. Foi então que ouvi o sussurro novamente, dessa vez mais claro e próximo: "Vá dormir, pequeno Eddie"
Meu coração disparou. A voz parecia vir de todas as direções, como se estivesse ao meu lado, atrás de mim, dentro da minha própria mente. Eu me virei lentamente, esperando encontrar a figura sombria mais uma vez. No entanto, para meu horror, vi algo ainda mais perturbador: a figura agora era minha avó. Ela estava ali, parada me olhando, meu rosto desfigurado, cabelos desgrenhado e um sorriso doentio emanava de sua quase face, ela babava algo escuro que quando pingou no chão, pude ver a vermelhidão, era sangue.
Aterrorizado, peguei meu celular e tentei ligar para a polícia, mesmo sabendo que iriam me taxar como esquizofrênico, mas não tinha sinal. Nenhum número funcionava, nem mesmo o de emergência. Desesperado, comecei a recitar todas as orações que conhecia, misturando fragmentos de diferentes religiões, qualquer coisa que pudesse afastar aquela coisa que ficava dizendo meu nome repetidas vezes "Eddie, Eddie, Eddie".
Enquanto eu rezava, os sussurros aumentaram de intensidade, transformando-se em um grito ensurdecedor que preenchia todo o apartamento. Tapei os ouvidos, mas o som parecia vir de dentro da minha cabeça. Quando pensei que não poderia piorar, a figura sombria apareceu novamente, agora mais próxima, a poucos passos de mim. os olhos não existiam naquele rosto, era apenas um buraco fundo, era como se fosse uma boneca amaldiçoada.
Meu corpo finalmente reagiu ao terror. Saí correndo do apartamento, descendo as escadas sem olhar para trás., pude ouvir como se estivesse ao meu lado a voz dela: "Eddie, Eddie" como um canto terrível que me chamava para o abismo. O prédio parecia distorcido, com corredores mais longos e escuros do que antes. Quando finalmente cheguei ao térreo e saí para a rua, estranhamente voltei para dentro do meu apartamento.
Eu chorei, sim, foi tudo que eu pude fazer. Porque ela me encontrou de novo e está mais forte e com muito mais raiva. Eu preferia quando minha avó estava enterrada no quintal da nossa velha casa do interior.
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Imagem meramente ilustrativa:
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REDOMA CREEPY
TerrorEm "REDOMA CREEPY", cinco histórias emergem das sombras, tecendo um labirinto de terrores ocultos sob a superfície do cotidiano. Cada conto é um fragmento sombrio, onde a realidade é apenas o começo, e o verdadeiro horror está nas entrelinhas, esper...