I'll be there

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— A gente é mais tipo Joey e Chandler ou Sheldon e Leonard?

Como todas as perguntas infundadas que antecederam aquela, Sunghoon não queria responder. Não porque não gostava de seu colega de quarto como geralmente alegava – e com bastante ênfase, aliás –, ou porque era péssimo em se comunicar e estava num daqueles dias onde até falar custava energia demais, fazendo-o preferir dar um tiro no próprio pé se fosse menos esforço. Mas porque era sábado, o único dia livre antes de um domingo digitando trabalhos e preparando seminários para a semana na faculdade e ele só queria não ter que usar seus quatro neurônios restantes e fritos para pensar em que personagens de uma sitcom os dois eram.

Então ele fez o que qualquer ser humano normal na condição dele faria: pegou a tigela de pipoca e ignorou-o.

— Sunghoon — Jake gritou quando ele deixou a cozinha, e para o que Sunghoon caracterizaria como azar astral, o seguiu. — É uma questão séria, tá? Tipo, se a gente for Sheldon e Leonard, no final os dois arrumam uma namorada e casam, mas ainda moram no mesmo corredor do prédio. O que me faz pensar que se você for se casar tem que ser com a Wonyoung do 402. — Ele estava sentado ao lado do maior no sofá da sala. — Mas se a gente for Joey e Chandler, você casa e tem dois filhos com a garota do apartamento da frente, mas se muda e me deixa sozinho — a frase pareceu desanimar Jake gradativamente, enquanto seus ombros caíam e seu tom de voz diminuía.

— Dos dois jeitos eu paro de morar com você. Gostei.

— Para de brincar com isso — Jake rolou os olhos.

— Foi você quem introduziu o assunto — riu.

Jake era tipo um cachorrinho. Não como gaeul, sua poodle que ficou na casa de seus pais em Suwon quando Sunghoon passou para a faculdade, ela era bem menos enérgica, mas até que trazia certo conforto. Jake não pensava muito em Sunghoon quando ele estava fora, seu chat de mensagens no kakao tinha dez mensagens da primeira semana em que passaram juntos e nada mais, especialmente porque Sunghoon odiava conversar por mensagens e Jake amava conversar pessoalmente. E ele ficava feliz demais quando o mais novo chegava em casa, sempre grudado em seu encalço para contar as novidades do dia e irritá-lo com sua necessidade constante de contato físico.

O campus da universidade era meio grande e seus prédios eram longes demais para que cruzassem caminhos durante o dia, o que era um bônus porque Sunghoon não sabia se aguentava toda aquela animação enquanto estava com cálculos fazendo dança da chuva dentro de sua cabeça. No entanto, ele meio que não conseguia mais se imaginar vivendo sem aquele idiota. Era o esperado depois de dois anos, ele só não admitia em voz alta, porque ver Jake fazendo biquinho para suas implicâncias era muito mais satisfatório.

— Esquece. A gente é tipo… O Jake e o Boyle.

— E deixa eu adivinhar? — Ele fingiu pensar. — Você é o Jake?

— Coincidentemente — Jake argumentou, como se fosse defender o próprio TCC. — Eu não tenho apenas o nome dele, como sou tão carismático e engraçado quanto. Com semelhança também na aparência estranhamente atraente. Tipo, ei, você é esquisito mas gatinho. E eu seria um ótimo detetive, obviamente.

Quase clichê. Sunghoon rolou os olhos. Jake tinha um problema.

— Você não é esquisito, Jake.

Ele queria prestar atenção na programação. Não terem dinheiro o suficiente para pagar por um serviço de stream os fazia refém da TV a cabo disponibilizada pelo condomínio, e faltavam só cinco minutinhos para a estreia de Duna: Parte II no canal da HBO. Ele queria muito ver o filme, era um grande fã da saga, porém aquilo acabou roubando sua atenção.

blecaute | jakehoon Onde histórias criam vida. Descubra agora