Capítulo 63 - Gens una sumus

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Um sopro de liberdade atingiu Ian, finalmente ele iria sair do quarto e da mansão. Uma grande festa beneficente promovida pelo prefeito estava prestes a começar e Dante fazia questão de comparecer acompanhado de sua Rainha. Antes seu objeto de desejo, agora um simples bibelô para ser exibido em público, ao menos até que descubram as suas origens. O falso troféu do Rei do Inferno seria descartado no minuto em que tudo viesse à tona.

Vestir-se como Ivy não tinha mais o mesmo significado de antes. Usar o vestido, a maquiagem e o salto alto costumavam libertar a sua verdadeira essência. Ian usou aquela máscara por tanto tempo que já tinha esquecido como era ser ele mesmo, depois de suprimir sua audácia, coragem e autoestima não lhe sobrou nada além de uma casca vazia e aquela aparência de coelho assustado que não lhe pertencia. Nunca lhe pertenceu.

Com todas as suas barreiras destruídas e o seu verdadeiro eu exposto, ele não precisava mais fingir. Ele não precisava mais ter medo. Ele poderia agir sem se podar e sem se importar com as consequências, afinal foi por fingir ser quem não era que o levou até ali. Por isso usar uma máscara que sempre foi o seu alicerce para agir como ele mesmo ser utilizado para esconder a sua real identidade era estranhamente doloroso. E não fazia com que o medo da solidão e da indiferença se apagasse.

Entrando na festa, Ian se sentia como se estivesse mergulhando em alto mar. A superfície podia estar calma e bonita, mas a sua profundidade era um mistério e as águas obscuras podiam ser perigosas. Manter a postura como Ivy era mais fácil, pois ela tinha uma armadura a mais, o que tornava o ato de desempenhar a falsidade quase natural, no entanto, o medo ainda permanecia, ela só fingia que não.

Ao avistar a multidão de pessoas com roupas caras, ostentando riqueza em cada detalhe com um sorriso estampado no rosto, Dante passou o braço pela cintura de Ivy, espalmando a mão em sua barriga puxando-a para perto, mantendo seu corpo colado no dele. Ali, no centro do corpo da esposa, a mão fez morada, permaneceu a festa inteira, era um ato demarcando seu território e que de alguma forma fazia com que Ivy se sentisse segura e protegida em meio ao mar desconhecido.

Copos e mais copos de champanhe foram entornados com sutileza enquanto Ivy atravessava o salão de festa tentando ignorar o aperto quente em sua cintura. Dante era todo sorrisos, muito gentil e educado, lembrando aquele homem que ele fingiu ser para convencer Ian a contar a verdade. Ele era um verdadeiro demagogo. Por isso, na frente de todos a tratava tão bem, era quase como se a amasse de verdade.

— Agora somos uma família — era a frase que Dante sempre falava ao contar orgulhoso sobre o casamento, como era o que sempre buscou construir e finalmente tinha alcançado e Ivy só sorria e acenava como uma dama bela, recatada e do lar.

"Hipocrisia do caralho"

Depois de tantas doses de álcool Ivy já não estava mais tão recatada, apesar de que parecia ainda mais bela. À medida que sua beleza e charme aumentavam com a desinibição a recatez ia diminuindo. Se até como Ivy estava sendo podada e precisava da ajuda do álcool para se sentir livre. Que tipo de vida estava vivendo?

Despedindo-se do grupo de empresários, Ivy foi em direção ao banheiro, tropeçando em seus próprios pés e rindo enquanto divagava com pensamentos confusos e aproveitando o pouco tempo que teria sem supervisão.

Quando foi que ele deixou de ser aquele menino alegre e extrovertido? Quando foi que a luz dentro dele se apagou? Para onde foi toda aquela coragem que ele costumava ter?

Ser uma criança animada e um menino afeminado em um orfanato onde ninguém realmente ligava para nada além de desviar dinheiro era tortuoso. Ian não se lembrava de sua vida antes daquele lugar, mas disseram que ele chegou aos cinco anos e a adaptação foi difícil.

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