Ⅵ • Viúva negra

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Sophie

Vi Alana ser enforcada por uma mão completamente escura e muito longa, só a palma da mão tinha 30cm e os dedos eram maiores ainda. Entre os dedos tinha um tecido esponjoso e quase líquido, a membrana interdigital, que os ligava, parecendo as patas de um pato. Seu braço, o limite de minha visão, continha vários pequenos ossos para fora e sangue em volta deles. Tanto o braço quanto a mão eram extremamente magros, de modo não humano. Tive sérias dúvidas se o que eu via eram músculos ou realmente pele, era difícil distinguir com a forte chuva e a falta de luminosidade.

A mão se envolveu no pescoço de Alana e a levantou lentamente, a cada centímetro apertando mais e mais o pescoço dela, chegando em um ponto que o pescoço dela explodiu na mão dele e fez a cabeça dela ser jogada pelos ares. Antes dela sair voando consegui ver sangue saindo de seus olhos e logo depois eles saltarem para fora.

Acordei no susto e sem ar, respirando fundo e feliz de que era só um sonho. Olhei para o lado, e a pequena luz lunar do lado de fora indicava que estava de noite. Também reparei que Sam não estava mais do meu lado. Tínhamos ficado ontem com medo do Tall Man e dormimos na mesma cama, ainda com aquele clima estranho pela discussão sobre Lucas.

Coloquei meus pés que só estavam com uma meia no chão e me arrepiei com o frio. Minha mão tremia e vesti uma blusa que estava jogada no chão. Fui até o banheiro, procurando por Sam, mas ela não estava lá. Espiei a janela, tentando ver se ela estava do lado de fora, mas o escuro impossibilitava eu sequer ver outra cabana.

Liguei meu isqueiro para iluminar e me lembrei do cigarro, a tensão do meu corpo implorava por mais um, mas me controlei, respirei fundo e abri a porta, tentando ignorar.

O vento gelado e a mudança maior ainda de temperatura arrepiaram meu corpo inteiro e me preocupei com Sam. Onde ela estava nesse frio? Ela não gostava de usar calças, se estivesse aqui fora estaria em perigo. Percebi que além de não iluminar, o isqueiro apagou. Apertei minha blusa e dei passos lentos em direção à área central.

— S-sam? — Balbuciei.

Minha visão estava turva e meus sentidos bagunçados, meu corpo todo encolhido tentando reter algum calor. Quando levantei um pouco minha vista, vi luz. Muita... luz.

Vi um crucifixo de cabeça para baixo gigantesco, de talvez três metros. Em uma corda apertada no pescoço, estava pendurado o corpo nu de Emily. Estava diferente de quando a vimos: certas partes de sua cabeça não tinham cabelo, seus olhos estavam faltando e marcas de queimaduras ao redor dos seios dela. Seu corpo estava muito mais magro que o comum dela e suas mãos estavam amarradas acima da cabeça. Os dois cantos do lábio inferior da boca dela estavam costurados perto do queixo, a deixando de boca aberta e com uma cara assustadora.

Dos dois lados do crucifixo ao contrário, estavam tochas de 2m aproximadamente. Seu pilar era puramente feito de ossos, com a ponta, onde estava o fogo, uma caveira feita de ouro que possuía uma coroa, com pequenas flechas ao redor dela. O corpo dos pilares tinha um certo molde que formava uma árvore. Em volta dos pilares e do crucifixo se encontrava um círculo feito de sangue. Alguma coisa estava escrita com sangue perto das bordas, mas estava longe demais para ver. Dentro do círculo, tinha um meio-círculo de milhares velas que juntava as duas tochas.

Meus olhos se arregalaram e senti meu coração parar por um segundo de medo. O frio que congelava minha pele não era mais o problema principal. O medo invadiu meu corpo tal qual uma doença, se apossando lá dentro e se alimentando de mim. Dentro desse lugar, o medo é infinito.

De frente para o círculo de sangue, estava minha Sam. Ela estava ajoelhada e encarando firmemente o fogo.

— SAM? Sam, por que você tá aqui? A gente precisa ir embora!

O Abismo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora