Os alarmes soam assim que os meus dedos enluvados roçam o diamante de 19 quilates.- Oh, meu deus, desculpa, Moon! - ouço pelo auricular.
Praguejo baixinho e agarro de uma vez na joia, e caminho para a corda que pende da claraboia do teto do Museu.
Antes que tivesse a chance de sequer encostar-me à minha fuga, as portas da sala abrem de par-em-par, três homens volumosos com armas em riste a procurarem o seu alvo - eu, já agora.
- Mãos no ar! - grita um, com um bigode tão espesso que no negrume da noite que entra pelas vidraças julguei ser uma ratazana colada à sua cara.
Levanto as mãos como me disse, olhando-o nos olhos.
- Vira-te, devagar, e coloca as mãos na cabeça!
Eu suspiro e murmuro:
- Mas afinal quere-las no ar ou na cabeça?
- O quê?
- O quê?
Ele faz um movimento exasperado e dá uns passos em frente, a pistola ainda apontada a mim.
- Caluda! Vira-te e põe as mãos atrás da cabeça. Devagarinho!
- Na cabeça será... - murmuro – Calma, senhor, tão agressivo...
Levo as mãos atrás da cabeça como me disse e agarro na corda atrás de mim.
- O colar desapareceu! - grita outro homem, este mais jovem.
- De joelhos! - ordena-me o Bigodinho – Agora!
Eu enrolo as pernas na corda discretamente, abaixando-me no processo até ficar de joelhos.
- Onde está? - cospe as palavras tão furiosamente que o bigode parece querer saltar-lhe da cara e pergunto-me se não será postiço.
- Onde está o quê, Senhor Guarda?
- Não te faças de parva, miúda! Onde está o colar de diamante de Santa Catrina?!
- Mas não é o seu trabalho saber isso?
Ele deixa escapar uma espécie de rugido e caminha violentamente na minha direção. Com um puxão preciso, impulsiono-me para cima na corda e começo a escalar em direção à claraboia de vidro no teto da sala. Oiço gritos e insultos abaixo de mim, mas só me posso concentrar em não me fazer alvo fácil para uma bala.
Chego à abertura e olho para baixo, esquivando-me por pouco a um projétil a alta velocidade que poderia fazer deste o meu último momento na Terra.
- Mas que rasco... - Resisto à vontade de rir lá para baixo. Levanto-me, observando os gestos furiosos do Bigodinho lá em baixo, e tiro a Catrina do bolso, mostrando-lha antes de me voltar - Até à vista, paspalhos!
Não me entendam mal – eu não sou malvada. Porém, não gosto de pessoas que não conseguem cumprir o seu dever. Se o seu trabalho é parar-me, apanhar-me, ser decente na profissão - então é isso que devem fazer. Estes "seguranças" muito pouco me deram o ar de seguranças e, se fossem realmente capazes, conseguiriam apanhar-me.
Ainda estou há espera de que esse dia chegue.
Oh, estou tão ansiosa de que esse dia chegue.
- Moon? - chamam-me pelo auricular.
- Está tudo bem, Annora, eu sei que foi sem querer.
- Desculpa, pensei que já estava desativado, mas tinha outra Firewall no sistema de segurança, e chaves de segurança ocultas, e...
- Não comeces génio, eu não falo codificações e essas cenas informáticas.
Ela suspira e percebo o quanto está desiludida com ela própria.
- Ouve, está tudo bem, eu vou falar com o Raven, percebido?
Ela fica em silêncio.
- Por favor diz-me que não acabaste de acenar com a cabeça para o ecrã.
- Oh, sim, desculpa, obrigada.
A Annora é o que se pode chamar uma irmã encontrada. É a única rapariga a que posso chamar de amiga, e somos muitas vezes parceiras de missão, ela no computador, a ver e a ouvir o mesmo que eu, no terreno; ela a abrir-me caminho com segurança para eu agir fisicamente em prol do bem da missão. É bastante inteligente, apesar dos seus jovens 13 anos. Tem muito mais que se lhe diga do que aparenta. Acima de tudo, valorizo-a.
Concentro-me em ir embora daqui, chegar à minha cama e descansar umas horas. As minhas botas de salto fazem um tiquetaque no telhado do edifício. As minhas roupas da cor da noite mascaram-me como uma sombra e tiro a minha máscara da parte inferior do rosto para poder respirar mais livremente.
Tiro um momento para voltar a olhar para a joia. Coloco-a contra a luz da Lua Cheia e admiro-a por momentos. É...
Vermelha. O tom flamejante e quente do fogo.
É horrível.
Volto a pô-la no bolso, resistindo à vontade de a atirar para longe – bem longe – de mim, e retomo à corrida de volta à base.
Vermelho. Que pesadelo.
Autora: Ah, e nada contra o vermelho, ok? Não é nada pessoal. Quanto à Moon... São apenas traumas gente...
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Segredos de Sangue
ActionEstamos em 2126. O Mundo não foi dominado por robôs como se pensava no passado, nem as secas e inundações destruíram o planeta. O Fim do Mundo não aconteceu. Bem, pelo menos, não da forma que se pensava. Agora, o planeta inteiro é controlado por alg...