⚠️AVISO DE GATILHO! Este capítulo contém: menção a assédio⚠️
『••✎••』
Lucy abriu a porta de seu quarto, encarando seu interior sem ânimo algum.
–Quer ajuda para se trocar, Lucy-sama? – Spetto questinou, a feição esboçando a preocupação que sentia. Tinha notado que a loira não se sentia tão bem após a reunião de negócios do pai.
–Não precisa, Spetto-san – apesar do claro cansaço, a Heartfilia abriu um pequeno sorriso para a mulher, na tentativa de demonstrar que estava tudo bem.
A empregada não deu um passo pelos segundos seguintes, insegura de simplesmente deixar a garota sozinha pelo restante da noite.
Graças ao seu receio, declarou firme, embora sorrisse docemente para a jovem:
–Prepararei um chocolate quente para a senhorita!
–Spetto-san, realmente não...
Nem teve a chance de dizer o que pretendia, visto que a mais velha já tinha lhe dado as costas e corria o mais rápido que conseguia pelo corredor.
–NÃO DURMA ATÉ QUE EU VOLTE, LUCY-SAMA! – gritou quando já virava em outro corredor, sem realmente se importar se seu berro incomodaria alguém.
A loira deu um longo suspiro, balançando a cabeça, mas sorriu.
Ainda existiam pessoas que se importavam com ela.
Com esse pensamento, Lucy adentrou seu quarto espaçoso e luxuoso, que, em contrapartida, possuía um clima infeliz e solitário. Em seguida, fechou a porta, sendo deixada na escuridão.
A garota não acendeu as luzes. Ali mesmo onde estava, começou a se despir, tirando o vestido longo, belo de aparência e surpreendentemente confortável, porém que não se encaixava nela. Era do tamanho perfeito para seu corpo, mas ao usá-lo, se sentia extremamente incomodada, como se tentasse colocar à força uma peça do quebra-cabeça no lugar errado.
Suspirou mais uma vez, deixando o vestido cair aos seus pés. Pegou-o e o carregou até um banco posicionado ao lado da cama. Colocou-o ali, recolhendo a carteira com suas chaves e não esperando nem mais um segundo para se deitar de barriga para cima no colchão. Seu abdômen exposto subia e descia conforme respirava profundamente.
Lentamente, a loira ergueu o molho de chaves celestiais. Observou cada uma delas com carinho e pesar, os olhos lacrimejando conforme seus pensamentos giravam e giravam sem pausa.
Ainda estava bem fresco em sua memória o momento que as camareiras da mansão apareceram em seu quarto, avisando que Jude requisitava sua presença para a noite de negócios que se seguiria.
Tão logo se arrumara, tinha sido conduzida ao salão onde aconteceria a reunião. No instante que viu o olhar frio e satisfeito de seu pai recair nela, soube que a noite seria longa.
E foi. Quando não estava em algum canto fazendo o papel de boa moça, mantendo-se em silêncio e de cabeça baixa, quase como uma boneca, o patriarca vinha e a conduzia com a mão em suas costas quando queria conversar com alguns figurões, possíveis presas para o aumento do "Império Heartfilia". E ela estava sempre ali, muda e comportada ao seu lado, sendo exibida como um troféu para atrair a atenção daqueles homens.
Se recordava também de como alguns canalhas se aproveitaram sutilmente dela, quando pegavam em sua mão e beijavam-na, fingindo ser um simples gesto cavalheiro, ou então quando sem pudor seus olhares vidravam sobre seus seios avantajados. Um ou outro ainda tnha a audácia de roçar os dedos em sua pele, geralmente ombros, braços ou mãos, gestos que eram bem disfarçados para que as segundas intenções não ficassem muito explícitas.
Mas ela percebia. E seu pai também, mas fingia que não.
O nó na garganta se intensificou. Para Jude Heartfilia, não passava de uma mera ferramenta descartável, uma pequena ponte para que ele chegasse mais perto do poder que tanto almejava e que poderia ser facilmente substituída por outra. Se sentia como um mero objeto para o sucesso nas mãos do pai.
Quando pensava nisso, não conseguia evitar pensar nos espíritos celestiais.
Quantas vezes eles já não tinham sido usados e descartados por magos celestiais nos últimos séculos? Quantas vezes suas chaves não foram vendidas como se fossem simples itens de comércio, sem que alguém perguntasse o que achavam disso? Quantas vezes os espíritos não foram vítimas de abuso de poder nas mãos de seus próprios contratantes?
Ao pensar nisso, o interior de Lucy se inflamava. Silenciosamente, a maga celestial cerrou os olhos e encostou as chaves na testa, sentindo o frio do metal contrastar com seu calor corporal.
–Enquanto estiverem comigo, não vou tolerar que sejam tratados como objetos – confidenciou, uma única lágrima escorrendo por sua bochecha.
Não, não permitiria que eles fosssem tratados como objetos assim como ela era tratada.
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Promessa
FanfictionLucy sabia bem como era ser tratada como algo ao invés de alguém. Então não toleraria que seus espíritos fossem tratados da mesma forma.