Ishigami

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Ela melhorou depois de algumas semanas. Uma recuperação mais lenta do que eu esperava, mas isso eu assumo a culpa. Minha vontade de protegê-la, colocar ela em um potinho para que nada a aconteça limitava que ela fosse ao jardim, respirar o ar fresco com o sol batendo em seu corpo.

Óbvio que ela brigou comigo. Ela não é um passarinho para ficar presa em uma gaiola. S/N é uma pessoa livre, que ama correr nos campos e viver a vida ao seu modo mais simples.

Agora ela estava ao meu lado enquanto meu punho é estendido e o pai de Ruri e Kohaku faz um discurso sobre como a Grande Luta terminou honrosamente com a minha vitória.

- De agora em diante, este homem, é o novo chefe do vilarejo Ishigami! E em breve, esposo de S/N, a Santa. - O loiro saiu quase que derrotado.

Ishigami?

Segurei a mão da morena enquanto tentava compreender os sinais. Ela sorriu para mim, arrumou a gola da minha roupa como se aquilo não fosse nada e deixou um beijo em meu rosto.

- Então, Senku... - Ruri começou a falar se aproximando de nós. - S/N me contou há um tempo que o seu nome é Senku Ishigami.

- Por que não falamos disso em um lugar mais reservado? - Sugeriu a morena ao meu lado enquanto me puxava para a tenda das santas (informação que eu descobri após "invadir" com o medicamento da Ruri).

Subimos as escadas sendo acompanhados do povo da Vila da Ciência. S/N segurava a minha mão deixando rente a sua cintura ao subir as escadas na minha frente. Céus, eu espero que as pequenas coisas que vivemos há milênios atrás nunca mudem como isso. Sempre fiz com que a morena subisse as escadas na minha frente e descesse atrás de mim como um ato de cavalheirismo que aprendi com meu pai, assim como pagar a conta, deixa-la andar na parte interna da calçada, apenas começar o jantar de fato após ela se sentar e pegar o garfo, saber preparar um sanduíche as duas da manhã e um omelete entes dela acordar...

Coisas "bobas" e muito simples que aprendi antes de pedir ela em namoro. Eu sei que ela gosta disso e, desde que descobri, passei a aprimorar pequenos atos de serviço para demonstrar meu amor de forma que ela entendesse completamente.

Assim que chegamos no topo da escadaria já tinha entendido antes mesmo que alguém começasse.

- Agora faz sentido. Se todo mundo no planeta foi petrificado, quem criou esse vilarejo? Por que você e a Kohaku claramente têm sangue estrangeiro em suas veias? Todos os mistérios foram resolvidos.

- Não, nada disso faz sentido para mim. - Sussurrou Kohaku.

- Como o Senku tem o mesmo nome que o vilarejo? Espera, você sabia sobre o Senku, Ruri? - Questionou Chrome.

- Senku faz parte da mitologia assim como Momotaro. - A morena ao meu lado contribuiu com minha fala.

- Não é de se estranhar que conheçam essas histórias folclóricas e animais gigantes que nunca viram antes.

- Ruri me explicou sobre as histórias que são passadas de geração para geração. Os Cem Contos. Uma forma simples de se entender os perigos e as origens. - Comentou S/N que colocou a mão em meu ombro. Observei o símbolo esculpido na madeira principal da cabana.

- Há quanto tempo você sabe? - Questionei enlaçando a cintura da mais nova.

- Ruri me contou os contos quando me visitava na cabana... O centésimo e último conto... Se chama "Senku Ishigami".

A história foi contada por Ruri, cada detalhe dito me atacava uma saudade do homem que me criou. Me pegou no colo, impulsionou-me a aprender sobre o espaço, acariciou minha cabeça em dias de choro, que dizia palavras bonitas quando eu estava doente, ensinou-me a ser quem sou hoje.

Memórias que serão eternas, lembradas com nostalgia, peso no coração por não tê-las valorizado antes, tristeza por achar que esse momentos seriam eternos e ter superestimado o poder do tempo. 

A mão de S/N deslizava em minhas costas em um conforto terno, me lembrando que ela só estava ali, comigo, como minha cônjuge por conta dos ensinamentos que uma vez chamei de tosco.

- É uma história tão estranha que eu não sei o que significa. - Comentou Suika.

- Toda a humanidade se transformou em pedra milhares de anos atrás. Você sabe aquelas estátuas de pedra que você encontra por todo o lugar? Todas elas são humanos. - Esclareci.

Minha cabeça parecia nebulosa concomitante a dor de cabeça que se aflorava.

- Seis pessoas, incluindo o pai do Senku, sobreviveram porque estavam acima do céu. Todo mundo no Vilarejo Ishigami é descendente deles, milhares de anos depois. - Disse Chrome em um raciocínio mais para si mesmo do que para os outros.

- Isso significa que somos todos parentes do Senku?

- Byakuya e eu não éramos parentes de sangue. Além disso, estamos a centenas de gerações de diferença. Vocês não podem dizer que somos parentes. - Respondi a pergunta da loira.

A conversa se estendia lá fora, S/N sorriu e foi para a abertura da tenda. A dança da fogueira iluminava o corpo esculpido por algum deus habilidoso, mesmo com o macacão feito com o couro de algum animal, eu podia ver a silhueta que me faz perder a razão.

- Vamos para o banquete, eu estou faminta. - Disse descendo as escadas.

A segui apressado, segurei a mão macia e a ajudei a descer as escadas de pedra. Segurei o corpo macio e beijei os cabelos escuros.

- Sabe o que eu estou pensando?

- Se a bebida daqui é segura? - Retrucou a garota pegando duas espécies de caneco para nós.

- Também.

- Você já é maior de idade, não se preocupe... e, ah minha nossa! Eu sou mais velha que você! - Os olhos arregalados da garota me fizeram rir. Ela tinha despertado meses antes de mim de acordo com nossas datas.

- Eu perdi alguns aniversários seu.

- Está chateado por isso? - Perguntou deslizando a mão em minha cintura, um carinho gostoso seguindo até meu peito.

- Um pouco, mas o que eu realmente estou pensando é que... A gente está aqui há mais de meio ano, transando há meses e, eu nunca tive um rastro que você menstruou antes, duvido que eu vá ter agora, mas tenho dez bilhões por cento de certeza, que não existe anticoncepcional nessa era.


Você vai nos salvar, meu doutorOnde histórias criam vida. Descubra agora