Querido diário, embarquei nessa viagem com o objetivo de me abrir para novas experiências e, de fato, tenho conseguido. Na Califórnia, optei por ser invisível, sempre me escondendo atrás de Lidia, tornando-me sua sombra. Embora esteja encantada por Cornell, minha mente insiste em vagar em direção a Alex. Sua verdadeira identidade e ocupação são um mistério para mim, mas sua arrogância marcante e o olhar intenso que ele me lança têm o poder de desestabilizar qualquer segurança que eu tenha.Hoje saí cedo, pois o professor pediu que trouxéssemos alguns exemplares dos nossos livros. Infelizmente, me esqueci deles em meio à correria do dia. No entanto, descobri que em uma cidade vizinha vendem os mesmos livros e um ônibus partia em breve. Apesar de não ser aconselhável ir sozinha — a cidade é estranha para mim — Lidia estava ocupada no dormitório e as opções eram limitadas.
"Agradeço," digo ao funcionário da livraria que me ajudou com um sorriso tímido. "Tenha uma boa noite!" As ruas já estão escuras e a cidade parece mais pequena à medida que a iluminação se torna escassa. Um grupo de garotos começa a me provocar com comentários desagradáveis, palavras que prefiro não repetir aqui. A tensão no ar é palpável.
Avisto um beco e decido escapar por ele, mas logo me deparo com outro grupo. Eles começam a me seguir, suas risadas ecoando como um mau presságio. Um deles tenta me puxar pelo braço, um frio na barriga toma conta de mim. É quando, como se fosse uma cena saída de um filme, um carro para abruptamente ao meu lado.
"Espera! Alex!" grito por ajuda, minha voz tremendo entre o medo e a esperança. O grupo hesita ao ver o moreno se aproximar com uma confiança inabalável. Eles recuam, assustados, enquanto Alex avança em minha direção. Ele me puxa para ficar atrás dele e entrega um bolo de dinheiro a um dos garotos: "Agora vaza daqui," ele responde com frieza, seus olhos fixos nos deles sem demonstrar medo algum.
"O-obrigada," murmuro enquanto ele segura meu braço firmemente e me guia até o carro dele. O coração ainda acelerado pela adrenalina da situação começa a se acalmar ao sentir sua presença protetora ao meu lado.
Ele estava usando um moletom com o capuz levantado, o que dificultava ver seu rosto, mas a tensão no ar era palpável. "Vamos, entre no carro, Kes", ele diz, abrindo a porta com um gesto impaciente. Entro rapidamente, sentindo o frio da noite se dissipar ao fechar a porta atrás de mim.
Dentro do carro, um clima de silêncio se estabelece. Com as mãos unidas no colo, observo Alex dirigir com uma expressão séria, concentrado na estrada. "Então foi por isso que se arriscou nas ruas de Denniol", ele comenta ao lançar um olhar furtivo para o livro em meu colo. Queimei de vergonha ao murmurar: "Não esperava que ficasse tão tarde." Ele apenas responde com um "Hum" monótono, mas eu sinto que ele está ouvindo.
"Obrigada, Alex", digo, mirando seus olhos profundos. Seu olhar intenso provoca um turbilhão dentro de mim; meu corpo reage involuntariamente e fico desconcertada. De repente, ele faz uma curva brusca e para em frente a um prédio de apartamentos. "Vamos ter que fazer uma parada", informa com firmeza, e eu o sigo hesitante.
Ele abre a porta de um quarto bagunçado, indicando que não era habitado há muito tempo. O cheiro de poeira e abandono permeia o ar. "Preciso pegar alguns documentos; pode se sentar aí", ele aponta para o sofá desgastado e desaparece em um dos cômodos. Enquanto espero, meus olhos vagam pela sala até que avisto uma foto emoldurada na parede. Era ele com os garotos do primeiro dia; a imagem irradia uma camaradagem genuína e nostálgica.
"Perdeu alguma coisa?", assusto-me ao ouvir sua voz repentina e me viro para encará-lo. "Que susto, idiota!" exclamo, tentando esconder meu coração acelerado. Ele sorri de forma despreocupada enquanto arruma a moldura atrás de mim, como se aquele momento simples fosse capaz de desfazer toda a tensão que nos cercava.
"Você é bem curiosa, não é?", ele sussurra, aproximando-se ainda mais, sua respiração quente ecoando em meu ser. Um arrepio percorre meu corpo, que reage instantaneamente ao dele, enquanto ele observa. "Encontrei algo para fazer enquanto você lidava com seus assuntos". Seu tom se torna mais suave, quase sedutor: "Você precisa parar de se meter em problemas." Seus braços me envolvem delicadamente, e em um momento de silêncio profundo, o som do meu coração se apaga, dando lugar ao pulsar forte do dele. "O que você está fazendo comigo, Kes?", sua voz desliza em meus ouvidos, provocando ondas de eletricidade pela minha pele. Encosto-me na mesa, sem escapatória; seus braços me mantêm presa. Embora uma parte de mim anseie por fugir, outra clama por tê-lo ainda mais perto, desejando sentir suas mãos explorarem cada centímetro do meu corpo.
"Preciso te levar de volta ao alojamento antes que percebam que você está faltando, Califórnia," ele diz com um tom sério. "Sim," respondo, ainda cativada pelo brilho intenso de seu olhar, enredada em seu abraço protetor. "Não posso continuar assim," murmuro para mim mesma, "mesmo que seja uma luta resistir e não te arrastar para aquele sofá minúsculo."
Questiono se ele sente o mesmo que eu, se a intensidade do nosso desejo é recíproca. Agora percebo que sim. No entanto, não compreendo por que ele se contém.
Alex irradia força e uma aura de frieza por onde passa. Seus cabelos escuros como a noite contrastam com os olhos brilhantes como estrelas no céu claro. Sua boca tem um poder magnético sobre mim; suas mãos despertam um desejo profundo de entrega. Sempre impecável em suas roupas escuras e elegantes, ele é mais alto do que eu, e seu rosto é como uma obra-prima que captura minha atenção sem esforço.
Mais tarde naquela noite, quando finalmente me libertou de seus braços e me conduziu de volta ao alojamento, o silêncio no carro foi denso e palpável. Eu esperava que ele dissesse algo antes de eu sair do veículo; no entanto, ele se conteve, preferindo o quietude entre nós. Ao descer do carro e me virar para seguir em frente, optei por não olhar para trás. Ele aguardou pacientemente até que eu entrasse no alojamento — um gesto atencioso que revelava sua preocupação.
Aquela noite me encontrou mergulhada em pensamentos sobre tudo o que havia ocorrido. Sabia que não poderia mudar o que não aconteceu; será que ele realmente desejava se afastar? Parecia possível. Por que lutava tanto entre o desejo avassalador e a contenção diante daquilo que ambos ansiávamos? Essas questões ecoavam em minha mente enquanto adormecia, tentando decifrar os sentimentos tumultuados que nos envolviam.
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O Diário de Kessie - Entre dois Mundos
RomanceKessie tem vontade de desfrutar ao máximo sua nova etapa na universidade planejando uma viagem com sua grande amiga, Lidia. Situações curiosas e excitantes estão prestes a acontecer, já que, de forma surpreendente, um rapaz aparece trazendo mistério...