Driftmark - Capítulo 3

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Pela primeira vez nos nove anos de nome da filha, Rhaenyra estava profundamente preocupada com o estado emocional da jovem princesa. A Herdeira do Trono de Ferro tinha se empenhado em dar a notícia da forma mais delicada possível, a notícia que um corvo, chegado mais cedo em Dragonstone, havia trazido.

Harwin Strong estava morto.

Mas aparentemente, não havia como suavizar o impacto. Astraea foi irremediavelmente abalada.

Os aposentos da jovem Velaryon, apesar da aura gótica de Dragonstone, possuíam uma graciosidade própria. Flores, rosas e heras adornavam o ambiente, com suas cores vibrantes contrastando com as paredes de pedra negra. As prateleiras, repletas de livros, evocavam a paixão da princesa pela leitura, enquanto pinturas valirianas e quadros pintados por ela mesma decoravam os espaços.

A cama de dossel, envolta em cortinas de veludo rosa que desciam suavemente ao redor, era acompanhada por um edredom e almofadas do mesmo tom. No canto do quarto, uma escrivaninha de madeira escura com detalhes dourados servia como local para suas cartas e diários. Acima dela, um grande espelho emoldurado de ouro, com pequenas gravuras de dragões, refletia a luz suave das velas espalhadas pelo quarto. Ao lado da cama, uma penteadeira com pentes de marfim e frascos de perfumes exóticos oferecia um espaço para a jovem Velaryon se preparar para o dia.

Por fim, uma imponente lareira de pedra preta ocupava o canto mais afastado do aposento. Foi ali que Rhaenyra a encontrou, sentada no tapete e fixando o olhar nas chamas. Mas não era somente isso.

Astraea sussurrava alguma coisa, quase de forma inaudível. Não... não sussurrava; cantava, Rhaenyra percebeu. Cantava e murmurava, quase como uma canção de ninar ━━ mas com um tom melancólico e sinistro demais para ser ━━ em alto valiriano.

━━ Vezof rhaeshis, virsos valonqar,
Edrus, vridar, ilas aōha....
━━ A voz da princesa ecoava, pouco mais do que um sussurro fúnebre.
━━ Vezhvenari sōvētis, sōvētis rhaeshis,
Dārys, dārys, rhaeshis ilas.

Rhaenyra permaneceu ali, estática, sem saber como reagir, apenas assistindo enquanto a canção continuava a ecoar. Apenas as costas de Astraea eram visíveis; seus longos cabelos castanhos estavam soltos, não trançados, fluindo livremente. A luz do fogo os tingia de um tom quase ruivo. A postura de Astraea era tão relaxada, leve como uma pena, enquanto no colo repousava uma espada.

━━ Vezhvenari sōvētis, sōvētis rhaeshis
━━ Astraea cantava e entoava, sua voz fluindo como um rio suave, subindo e descendo as notas com uma cadência hipnótica. A pausa entre as frases era ao mesmo tempo suave e macabra.
━━ Edrus, vridar, ilas aōha.

Vezhvenari sōvētis, sōvētis rhaeshis,
Dārys, dārys, rhaeshis ilas

Vezof rhaeshis, ēdrus yne zūg,
Vezhof riñī, zūg rhaeshis ābra

Līr nūmās, līr vīvos,
Rhaeshisar sōvētis vaor

Vezof rhaeshis, drējat rhaeshis,
Hūlus, hūlus, rhaeshis ābra

E então, silêncio. A voz da princesa se desfez como um sussurro fantasmagórico, deixando apenas o crepitar do fogo, as sombras dançantes nas paredes e o calor abrasador da lareira.

𝗡𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗘𝗠𝗕𝗘𝗥 ☄Aemond Targaryen Onde histórias criam vida. Descubra agora