UTOPIA: A caminho do sol

A verdade sobre o humano que um dia o robô foi

Chaewon, Yunjin e Jay começaram a descer a montanha rumo ao povoado próximo. Estava fazendo muito frio e a neve tinha se acumulado, então a viagem até lá foi mais difícil do que o esperado. Quando finalmente avistaram as casinhas adiante, ficaram muito aliviados.

Aquele era um povoado pequeno, não devia ter mais do que umas duzentas pessoas morando ali. Havia uma rua principal com comércios simples, como uma padaria, um mercado, uma clínica para primeiros socorros, uma loja de roupas e algumas vendas de frutas pelas ruas. Tinha tudo o que precisavam, então pararam primeiro na loja de roupas para ver os casacos de frio. Depois de escolher um para cada um, Chaewon se pegou olhando para um casaco marrom, que era da mesma cor da roupa que aquele soldado do rei usava. Seu olhar ficou parado ali por bastante tempo, até que Yunjin se aproximou e colocou a mão em seu ombro.

— Eu sei o que você está pensando. Será que não fomos muito cruéis?

— Agora já está feito e não podemos voltar atrás. Espero que ele consiga chegar até o vilarejo e receba ajuda...

Depois que colocaram seus casacos, Jay ficou responsável por carregar os dos demais e as compras que fizeram no mercado. Tiveram que comprar um lampião também; Yunjin o carregou na frente, enquanto Chaewon seguia o mapa de volta ao navio. Já estava bem escuro quando retornaram.

Assim que subiram as escadas de corda e pularam para dentro do navio, Riki e Toto pareciam muito agitados. Eram como crianças que tinham feito uma travessura, mas não queriam contar. Estiveram desesperados nas últimas horas desde o sumiço de Heeseung e Jungwon; tinham jurado que eles voltariam em um segundo, mas isso não aconteceu. Quando ouviram o que aconteceu, os outros três ficaram nervosos.

— Isso não faz o menor sentido! Se não tivesse acontecido alguma coisa, é claro que já teriam voltado. — Chaewon cruzou os braços e olhou para a noite escura. — E agora...

— Não devíamos ter ido atrás daquele soldado, foi imprudência nossa pensar que daria certo... Sinto muito! — Toto se desculpou sinceramente.

Chaewon e Yunjin não achavam que a ideia tinha sido de todo mal; elas mesmas tinham se arrependido de tê-los mandado embora daquele jeito. Se estivessem todos no navio quando aquela decisão foi tomada, provavelmente teriam concordado em mandar aqueles dois. Não havia o que fazer...

— Eu vou atrás deles! — Jay prendeu sua espada na cintura e estava quase pulando do navio, quando Chaewon o segurou pelo casaco.

— Ficou maluco? A noite está muito escura, você não vai enxergar nada no meio dessa neve toda e vamos acabar com mais alguém perdido!

— Eu acho que eles vão voltar, eu acredito neles! — Riki disse com segurança.

Os outros também acreditavam, mas, mesmo assim, era uma situação miserável. Estavam sem casaco de frio, talvez vagando no meio da noite em lugar nenhum. O pior é que não havia o que fazer; precisariam tentar dormir para sair assim que o sol nascesse e procurá-los. Nesse momento, era a única opção.

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Assim que amanheceu, eles se dividiram em dois grupos: Riki e Yunjin, e Jay e Chaewon. Toto ficou responsável por tomar conta do navio, mesmo que ali não corressem perigo — o robô não podia andar na neve, pois poderia enferrujar, e só de pensar nisso o pirata tinha arrepios.

Cada dupla foi para um lado. Riki e Yunjin desceram a montanha aos berros, chamando pelo nome dos amigos. Seus gritos ecoavam na cadeia de montanhas, o que era bom. Se aqueles dois estivessem por perto, poderiam seguir o som e encontrá-los. Do outro lado, Jay estava cortando os troncos e folhagens do caminho, enquanto Chaewon e ele se embrenhavam na floresta. A carpinteira chamava pelos nomes de Heeseung e Jungwon, mas não encontraram qualquer sinal de vida pelo caminho. Não havia nem sequer algum animal por ali, além de pássaros; todos estavam hibernando. Por sorte, o dia estava bem claro, então a floresta densa não estava tão escura. Precisariam encontrá-los rápido, afinal de contas, o dia acabava cedo demais no inverno.