Desprezo & Desejo

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Querido diário, desde que o conheci, tenho sido consumida por uma mistura de desprezo e desejo. Como posso sentir tamanha aversão por ele e, ao mesmo tempo, ansiar por sua presença de uma forma que ultrapassa os limites da minha mente? Questiono-me sobre o que o teria feito se conter, se ele guarda algum segredo para mim. Seu beijo permanece gravado em minha mente, e em cada lugar que percorro, consigo sentir sua presença. Eu não o compreendo completamente; o que sei sobre ele não é suficiente.

Cornell está empolgada com a festa, aqui, celebram sem datas ou razões específicas. É reconfortante ver Lídia sorrindo apos a crise pela qual passou. Ela revira o quarto em busca de seus brincos de argola. Para animá-la, permito que escolha minha roupa e até mesmo me maquie. Confio plenamente que minha amiga conhece meus gostos e limites.

Enquanto isso, não consigo deixar de notar a ausência de qualquer sinal de Alex durante todo o dia.

Tudo estava tão bem organizado, a atlética realmente se superou nessa festa. Desde os meus últimos excessos com álcool, tenho tentado me controlar e não beber. No entanto, Lidia traz duas taças de gin e insiste para que eu beba por ela. Talvez não haja mal em testar meus Limites mais uma vez. Dançamos juntas, e por um momento era como se só existissemos nos duas no salão, envoltas pela música.

Quando minha bebida acabou, ofereci-me para buscar mais. No caminho até a mesa de drinks, avistei "Alex?!" perto da mesa. Dois jovens estavam se beijando ali, e ao chamar por ele, um dos rapazes se virou. Não era quem eu esperava, e senti um constrangimento tão intenso que dei alguns passos para trás, adentrando uma pequena sala ao lado.

Ao adentrar a pequena sala em estado de choque, me deparei com alguns livros e me perdi na contagem dos exemplares de alguns dos meus favoritos. "Hum", assustei-me ao largar o copo no chão e virar-me rapidamente "Alex", era ele, parado junto à porta "Perdida, Califórnia?", perguntou-me com um sorriso de canto. "Acho que sim", respondi, enquanto ele se aproximava, observando o copo caído. "Pensei que tivesse aprendido", comentou. Confesso que a frase soou um tanto idiota, mas a forma como ele a pronunciou não apenas me frustrou, como também despertou certa excitação em mim.

"Você é tão... Imprevisível. Aparece e desaparece do nada, e ainda por cima é arrogante!" Ele pareceu surpreso com minha declaração: "Arrogante? Já ouvi coisas piores", retrucou. Com um resmungo de raiva, continuamos nos provocando com nossos olhares intensos. "Quem é você?", questionei de forma direta. Ele pareceu surpreso com minha pergunta "Acredito que é melhor não se aprofundar muito nisso para descobrir", respondeu enigmaticamente.

"Isso não é um jogo, Alex", declaro com firmeza, aproximando-me do seu rosto e encarando seus olhos intensamente, deixando-o sem palavras. Com passos decididos, ultrapasso-o e saio da sala, esbarrando em algumas pessoas no caminho. Ao emergir no corredor movimentado, respiro fundo, tentando acalmar a agitação em meu peito.

Um grupo de garotos bêbados se aproxima de mim, mas antes que eu possa reagir, Alex surge ao meu lado e os afasta com determinação. Ele estende a mão para me ajudar a levantar do tropeço, mas eu recuo, mantendo minha postura desafiadora.

"Não é um jogo, Kes!", ele diz com sinceridade, seus olhos buscando os meus em busca de entendimento. Mais uma vez, perco-me na intensidade de seu olhar, lutando para manter minha guarda erguida. "Não posso te deixar assim aqui, não consigo", confessa ele, revelando uma vulnerabilidade que me surpreende.

Dou um passo à frente, aproximando-me dele e segurando sua mão em um gesto de aceitação silenciosa. Seus dedos entrelaçam-se nos meus enquanto ele abre a porta do carro: Sem saber o destino para onde ele está me levando, decido confiar nele naquele momento turbulento, deixando de lado as dúvidas e entregando-me à incerteza com uma sensação de liberdade inesperada.

Chegamos a um prédio que eu descreveria como chique, com suas luzes sendo uma das mais belas da cidade, e seu nome renomado nas redondezas.
Alex me guia até o penúltimo andar, e as pessoas nos encaram e acenam para ele. Ele parecia ser uma figura importante naquele lugar.

Permanecemos alguns segundos dentro do elevador, eu paralisada em suas costas, observando enquanto subíamos.
Paramos em frente ao apartamento 59, e Alex abre a porta, permitindo que eu entre primeiro.

"Alex, o que estamos fazendo aqui?", questiono, parando em frente a ele e observando a grandiosidade do lugar. Não era apenas um apartamento! Era O apartamento. Eu sabia que Alex era rico ou tinha bastante dinheiro, mas aquilo era demais. De certa forma, parecia vazio, escuro, com poucos móveis e muita arte nas paredes.

Enquanto adentrava o luxuoso apartamento de Alex, senti uma mistura de destumbramento e desconforto. A grandiosidade do lugar me impressionava, mas ao mesmo tempo me fazia questionar meu próprio lugar naquele ambiente sofisticado.

Observando Alex sentar-se no sofá, eu tentava decifrar as emoções por trás de seu sorriso enigmático:
Será que ele realmente se importava comigo, ou tudo não passava de um jogo para ele?

"Bem, vão liberar os alojamentos depois das onze, então pensei em ficarmos aqui", ele diz, sentando-se no sofá. "Ah, entendi", respondo, sentando-me ao lado dele e deixando um espaço entre nós. "Você mora aqui sozinho?", tento quebrar o gelo:

"Hum, é... moro", responde o garoto. Ele retira um maço de cigarros do bolso, mas ao perceber minha expressão, decide não prosseguir. "É melhor eu fazer isso em outro momento", ele sorri para mim. Fico perdida quando ele sorri, quando percebo algum sinal de felicidade ou entusiasmo dele em relação a mim.

Por outro lado, Alex lutava internamente para manter a compostura diante de mim. Seus sentimentos confusos por mim o deixavam vulnerável, algo que ele não estava acostumado a sentir. Enquanto segurava o maço de cigarros, ele hesitou em acendê-lo, temendo afastar-me com seus hábitos. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento vi um lampejo de curiosidade e incerteza que o fizeram sorrir involuntariamente.

Alex se levanta do sofá e, com um movimento suave, tira o moletom que vestia. A camisa sobe junto com ele, revelando um hematoma semiaberto na lateral de sua barriga. Um arrepio percorre minha espinha ao testemunhar aquela visão inesperada, um misto de preocupação e curiosidade se misturando em meu peito: Seus olhos encontram os meus, e por um breve instante, percebo uma sombra de vulnerabilidade que ele tenta disfarçar.

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