Carência

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Os rapazes do quarteto sempre comemoram quando alcançam uma vitória em uma missão difícil, é uma tradição que eles saiam da federação para comer e beber após o longo dia de luta. Hoje, obviamente, não seria diferente.

São onze e meia da noite, e a maioria dos integrantes da equipe está bêbada, exceto por Mendrake. Normalmente, quem continua cem por cento sóbrio até o final da noite é Pedrux. Segundo ele, alguém precisa manter o juízo para que os amigos não explodam nada. Dessa vez, entretanto, o rapaz escolheu se juntar ao grupo. Quanto a Mendrake, ele costumava ser o principal bebum entre eles, mas há um tempo havia decidido cortar o álcool, tendo em vista os incidentes que ocorreram por consequência dessa bebedeira.

Resultado? Mendrake é a babá do dia.

— Vocês viram como eu fui incrível? — Nait grita, com a voz arrastada, contando a mesma história pela décima vez. — Ele nem viu meu machado chegando! Foi pow! Ele girou igual um peão!

Ameizim ri em concordância, sentado ao seu lado, dando mais um gole em sua cerveja.

— E aí o Pedrux chegou e ergueu um espinho de pedra do chão! Fez um espetinho! — ele completa, bem menos histérico que o amigo.

Isso é mais engraçado do que eu imaginava, Mendrake pensa, observando os dois amigos à sua frente. Ele se questiona se ficava igual a eles ou pior que eles quando bêbado.

— Eu arrasei mesmo. — Pedrux ri fraco, visivelmente alterado pelo álcool. O amigo sentado ao seu lado vira um pouco o rosto para enxergá-lo.

Mendrake havia visto Pedrux bêbado poucas vezes em sua vida, o que é surpreendente porque ele o conhece desde que eram crianças. Por isso ele não sabia bem o que esperar caso o rapaz exagerasse na bebida. Bem, com certeza não era isso. Pedrux havia ficado extremamente sonolento, mas saído de sua “seriedade” habitual e se mostrado levemente mais alegre, além da muito notável falta de filtro em suas palavras, ele estava falando tudo o que lhe vinha em mente sem nem pensar duas vezes. Mas, para Mendrake, o mais marcante e surpreendente efeito que o álcool teve sobre ele foi sua crescente carência. Sim, o rapaz havia ficado muito grudento.

Ele está há cerca de uma hora deitado no ombro de Mendrake, abraçando seu braço. O amigo suspeita que a qualquer momento ele vá dormir ali, a julgar por sua voz cansada e seus olhos semicerrados.

Mendrake esperava que Pedrux ficasse barulhento e extrovertido, ou estressado e brigão, esses eram seus chutes mais frequentes quando pensava no assunto. Isso realmente foi uma surpresa para si. Agradável, de fato. Não iria negar que estava gostando de todo esse contato com o amigo, a demonstração de afeto está o fazendo ficar igual a um bobo alegre. Não é todo dia que o rapaz o trata de forma tão carinhosa.

Mendrake sorri para o amigo, com uma expressão suave e amorosa.

— Claro que arrasou. Você é incrível — ele responde. Em seguida se vira para os outros dois e muda a postura abruptamente, ficando com um ar confiante. — Mas vocês viram como eu fui importante também? Se eu não tivesse acertado ele na cabeça, você não teria conseguido chegar perto dele, Nait.

Nait revira os olhos.

— Argh, bobagem. Eu só precisava que alguém distraísse ele pra me aproximar.

— E eu distraí.

— Aí você foi jogado pra longe.

— Mas eu fiz o que você precisava, não fiz?

Ameizim suspira, sentindo estar observando duas crianças brigarem.

— Chega, vocês dois. Todo mundo contribuiu pra luta. Nait, o Mendrake te ajudou. Agradece — ele ordena, friamente.

Carência || MendruxOnde histórias criam vida. Descubra agora